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Foto do escritorMatheus Mans

Opinião: Com curta-metragem 'Review', É Tudo Verdade 2021 comete erro absurdo


Gosto muito do É Tudo Verdade, que traz sempre uma seleção afiada de documentários. No entanto, não dá para perdoar. Um único curta da seleção deste ano é daqueles absurdos que não dá para entender. Review, filme de apenas nove minutos do cineasta Tyrell Spencer, é um dilema: se é ficção, não deveria estar na seleção; se é documentário, é absurdo e criminoso.


Explico. Ao longo de nove minutos, acompanhamos um homem narrando a relação com uma mulher. Ele aparece bem pouco na tela. Ela ganha todos os holofotes, aparecendo até nua. Sempre com uma gravação em preto e branco, bem caseira. Logo no começo, percebemos que é aquele casal está complemente apaixonado e há uma dúvida se ela está grávida ou não.


Eis que, lá no final, e aqui vai um spoiler, o narrador diz que pegou algumas mensagens de teor sexual da parceira no WhatsApp. Ele coloca ela na parede, questiona. Pouco antes, trechos de reportagens falam sobre o aumento de violência doméstica na quarentena. Nesse momento, já juntei dois mais dois e fiquei chocado. E termina assim mesmo: o casal desfeito após agressão.


Oras, é um absurdo. Como disse: se é documentário, o filme é tosco, pequeno, quase criminoso. Afinal, seria a história de um homem agressor, que bate em mulher, sendo contada de maneira romântica e quase impune, ainda por cima usando imagens dessa mulher à esmo. Por outro lado, o filme só se safa disso se for uma ficção. E, sendo uma ficção, não deveria estar no ÉTV.


Logo, fui atrás das redes sociais do diretor Tyrell Spencer. Nos stories do Instagram, ele posta foto com a esposa (justamente a que aparece na tela do filme) e fala que seu documentário é um híbrido de documentário e ficção. Oras, o que é documentário aqui? A narrativa do homem? Sério que um filme, em pleno 2021, vai romantizar uma agressão contra uma mulher? Sério?


Se não é isso, o que é documentário? Os trechos de reportagem? Afinal, o que vemos na tela não tem nada de documental. Review, assim, é um erro grave de seleção. A narrativa é toda torta, toda errada, toda antiga. Praticamente romantiza o sofrimento de um homem agressor, sem nunca dar o olhar da vítima, sem nunca culpabilizar. E é difícil demais encontrar o documental.


O É Tudo Verdade, dado seu tamanho e importância, tinha que tomar mais cuidado na seleção. Não dá mais para dar voz à histórias assim, tampouco trazer produções com uma qualidade tão questionável. Não é possível que não tivesse nenhum outro curta melhor para colocar no lugar. Festivais são espaços de discussão. Damos voz à produções. Review tinha que passar longe.

 
1 comentário

1 commentaire


Sergio Amorim
Sergio Amorim
19 avr. 2021

Que bom que temos críticos atentos, que não passam pano pra violência contra a mulher. Se a arte serve pra fazer a crítica social, a crítica da arte não pode deixá-la naturalizar a violência

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