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Foto do escritorMatheus Mans

Opinião: Cinemas só devem reabrir depois de setembro -- e olhe lá!


Antes de tudo, quero deixar claro: vivo de cinema. Literal e indiretamente. Além do meu trabalho aqui no Esquina, também sou repórter freelancer em diversos veículos. Principalmente para falar sobre essa experiência maravilhosa da sala escura. Não vejo a hora que os cinemas voltem a abrir. Dito isso, vem a questão do texto: seria irresponsável reabrir salas antes de setembro.


É inviável pensarmos numa reabertura, em apenas três meses, com o Brasil tendo hoje mais de 800 mortos ao dia. Vamos dizer que estamos vivendo o pico de infecção da covid-19 -- o que não é a realidade, vale dizer. O número de mortos, nesse ponto da epidemia, só desaceleraria por volta de julho. Nesse período, teríamos umas 200 mortes por dia. 150, talvez. E sendo otimista.


Com isso, se fossemos governados por pessoas sérias, o comércio passaria a reabrir em horário restrito até agosto. Aí, entre setembro e novembro, viria aquela reabertura gradual dos diversos tipos de serviços e estabelecimentos. Restaurantes, shoppings, casas de show, baladas e, claro, os cinemas. Mas com severas medidas de restrição e espaçamento entre todos os seus clientes.


Cinemas ao redor do mundo


E isso não estou tirando da minha cabeça. É só ver como foi feito nos outros países. Na China, a infecção começou em dezembro. Por mais que tenha subnotificações no País, o pico foi ali, próximo de fevereiro. Os cinemas reabriram em maio. Seis meses após os primeiros casos no País. E cerca de três meses após o pico. E, de novo, com severas medidas de restrição e higiene.


Na Itália, os cinemas nem ao menos reabriram. Estão listados na última fase de reabertura. A ideia é que reabram no final de junho e começo de julho. Também, veja só, com três meses de distância do pico. Afinal, a epidemia de coronavírus é como um carro em altíssima velocidade. Não dá pra frear de uma vez só. A desaceleração vai acontecendo aos poucos, sem solavanco.


Nos Estados Unidos, a conversa está ainda mais inflamada. Grandes nomes da indústria do cinema, como o cineasta Christopher Nolan e a Disney, trabalhando arduamente nos bastidores para que os cinemas reabram a tempo de recepcionar seus filmes no final de julho. Donald Trump acha que as salas devem reabrir. No entanto, especialistas veem com o medo a atitude.


E no Brasil?


No Brasil, está essa zona. O presidente diz uma coisa, sem embasamento algum, os governadores fazem outras. As pessoas ficam se digladiando. Donos de cinema, enquanto isso, também divergem. Conversei com vários executivos nos últimos dias. Enquanto uns querem a reabertura pra ontem, outros dizem que só reabrem quando tudo estiver certinho por aqui.


O fato é que pesquisadores indicam que o pico no Brasil deve ocorrer em junho. Com isso, se usarmos as métricas e as datas de países que combateram a covid-19 de forma série, temos setembro como o ponto-chave. Seis meses após os primeiros casos. Três meses após o ponto alto da infecção. E, com isso, veríamos uma reabertura mais gradual, tranquila e segura.


Afinal, também é preciso pensar em uma coisa: será que as pessoas querem ir no cinema com esse caos que está no ar, literalmente? Não dá para pensar, nesse momento, em sentar numa poltrona, com um grupo de amigos, comer pipoca, beber refrigerante e ficar trancado numa sala com ar condicionado ao longo de duas horas. Vai contra qualquer noção e segurança atual.


Disney e Warner


A insistência da Disney em manter Mulan e da Warner em manter Tenet e Mulher-Maravilha em julho e agosto chega a ser irresponsável. Oras, o mundo inteiro está sofrendo. Milhares de trabalhadores estão sem renda. Os estúdios, neste momento, devem aguardar. Segurar ao máximo. Dizer que vão lançar esses filmes na data apenas incentiva malucos a reabrirem por aí.


Este é o momento que a indústria cultural precisa pensar nas pessoas. Nas vidas que, no final do mês, contam apenas como um ingresso a mais vendido. E para resguardá-las, Disney, Warner e qualquer outro estúdio que olhe para datas em agosto e setembro devem repensar. É momento de solidariedade. Não o momento de correr atrás de prejuízo e de lançar filmes.


Precisa urgentemente de faturamento e lançar os filmes antes? Lance no digital! Venda ingressos antecipadamente. Mude! Se mexa! O mundo vai ser outro até a epidemia estar 100% controlada -- o que pode levar até cinco anos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Não dá pra apostar em métodos tradicionais. É preciso pensar nas pessoas e na saúde ao redor de nós.


Cinemas, só em setembro. Antes disso, infelizmente, me recuso a pisar em uma sala escura.

 
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