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Foto do escritorMatheus Mans

Opinião: Academia Brasileira de Cinema erra com indicado ao Oscar


Na tarde da última terça-feira, 11, surpresa: O Grande Circo Místico foi o longa-metragem escolhido para representar o Brasil numa corrida ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O filme, dirigido por Cacá Diegues e estrelado por Jesuíta Barbosa e Bruna Linzmeyer, acabou por desbancar grandes favoritos de público e crítica, como o elogiado Benzinho, o terror As Boas Maneiras e, ainda, o cada vez mais pop Ferrugem.

Diegues, aliás, deve estar no momento mais festivo de sua vida. Em agosto, viu Christian de Castro, amigo e ex-executivo da Luz Mágica Produções, do próprio Cacá, chegar ao cargo de diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Há pouco menos de um mês, emplacou uma vaga na ABL, desbancando a favorita -- do público -- Conceição Evaristo. E agora, pra completar, tem seu filme como selecionado ao Oscar.

Ah, só pra desencargo de consciência: vale citar que Cacá teceu elogios contundentes ao atual ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, em sua coluna n'O Globo em agosto de 2017. Quem tecer paralelos, fique à vontade. Nós só indicamos bonanças após o elogio. Só isso.

Cacá, sem dúvidas, é um cineasta de mão cheia. Se não fosse, não estaria marcado na história do cinema com longas como Bye Bye Brasil, Xica da Silva e Orfeu. Mas, convenhamos, a indicação de um longa-metragem ao Oscar não é para ser pensada pela carreira do cineasta. Nem apenas na qualidade. Os jurados devem ir além em sua escolha: pensar num filme que, de maneira una e responsável, consiga transmitir o sentimento do Brasil para o mundo. Embalado, ainda, em uma história interessante.

O Grande Circo Místico está longe de ser isso. Foi gravado há dois anos em Lisboa e tem a França, também, como coprodutora -- não é à toa que Vincent Cassel (O Filme da Minha Vida) integra o elenco. E não tem nada de Brasil atual ali: ainda que tenha músicas de Edu Lobo e Chico Buarque, Cacá Diegues perdeu a mão na crítica política. E olha que vivemos um momento conturbado no País e que serviria, perfeitamente, para uma crítica social. Mas nada sai dali. Crítica, história. É, na verdade, um apanhado.

É triste ver, então, que um longa-metragem como Benzinho tenha passado à margem. Foi aplaudido por onde passou, conforme relatou o diretor e elenco durante coletiva, com grande sucesso entre o público internacional. Ainda por cima, tem uma mensagem essencialmente brasileira, mas que muito significa para o público em geral -- a mãe com síndrome do "ninho vazio" que não sabe lidar com a "quebra" da sua família. São personagens tipicamente brasileiros, mas com mensagem universal. Perfeito para o Oscar.

Ainda tinha As Boas Maneiras, mais difícil de convencer, mas bem melhor; Aos Teus Olhos, com uma boa mensagem universal; e Ferrugem, forte, crítico e contundente.

Mas, infelizmente, Lucy Barreto, Bárbara Paz, Flavio Ramos Tambellini, Jeferson De, Hsu Chien Hsin, Katia Adler e Claudia Da Natividade foram responsáveis, novamente, por colocar o Brasil como coadjuvante no cinema mundial. Difícil entender decisões tão estapafúrdias de um comitê que já deixou Aquarius de lado. A política, ali, fala mais alto.

Por isso, dessa indicação, tiramos uma lição: quer bonança? Elogie Sérgio Sá Leitão ou qualquer outro ministro que estiver por aí. Se olharmos para o que aconteceu com Cacá, a sorte é garantida. E qualquer coincidência é só parte do jogo. E nada além de sorte.

 
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