Há pouco tempo, bati um papo com o escritor brasileiro Gustavo Ávila e esta conversa, inevitavelmente, se transformou em uma entrevista aqui no Esquina -- e que você pode ler AQUI. No entanto, no momento da conversa, eu ainda não tinha entrado em contato com seu livro, O Sorriso da Hiena, que impulsionou sua carreira e o transformou num dos nomes mais comentados da literatura nacional. Agora, porém, tenho clareza: Ávila mostra força do gênero no País.
Seu livro, que já começa criativo pelo ótimo título, acompanha três histórias em paralelo. Na primeira, entramos em contato com Arthur, um detetive com Síndrome de Asperger e que precisa solucionar uma série de crimes brutais; do outro lado, temos a história de David, que é o assassino que comete tais crimes por questões que marcaram seu passado; e, por fim, temos William, um psicólogo atormentado que precisa lidar com crianças afetadas pelos tais assassinatos.
A partir dessas três linhas narrativas, Ávila constrói uma história de tirar o fôlego. Com uma trama policial que remete aos clássicos do gênero -- como Agatha Christie -- mas com o ímpeto dos novos autores -- como Jo Nesbo e um pouco de Harlan Coben --, o seu estilo de escrita é vertiginoso. Sem esconder nada do leitor, brasileiro entrelaça tramas que avançam pelas páginas e que escancaram uma história cruel e brutal, sem medo de causar choque em quem o lê.
Os trechos em que acompanhamos Artur, por exemplo, causam um misto de humor com um forte teor investigativo inerente de uma personagem como a dele. Além disso, vale destacar a ótima construção de personagem de Ávila, que consegue traduzir os sentimentos de uma pessoa que sofre com Síndrome de Asperger por meio de diálogos e situações dentro de seu livro. Trechos de David também dão fôlego à trama e invertem a perspectiva de quem lê O Sorriso da Hiena.
Dos três, o único que fica abaixo de intensidade é a personagem de William, o psicólogo. Ainda que seja interessante a sua perspectiva e a situação na qual ele se encontra, falta a empatia necessária para que ele faça parte do trio de protagonistas. Algumas atitudes suas são pouco compreensíveis e sua personagem acaba sendo um pouco irreal -- como a sua atitude com o amigo Cris, quando este descobre algumas informações sigilosas. Senti que faltou algo.
Ainda assim, porém, O Sorriso da Hiena é um livraço. O final é surpreendente, invertendo as expectativas do leitor, e a sensação é de que você acabou de ler um bom livro nacional e policial -- colocando Ávila, direto, ao lado de nomes jovens como Santiago Nazarian e, claro, Raphael Montes. Agora, é ficar de olho nos novos caminhos deste novo nome da literatura nacional. Se ele continuar produzindo como foi visto em O Sorriso da Hiena, é certeza de que teremos coisas boas no horizonte.
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