Nos últimos dias, o Brasil tem entrado de cabeça na crise do coronavírus. No momento que este texto é escrito, já são 200 casos no Brasil. Enquanto você estiver lendo isso, caro leitor, o número já deve ter se multiplicado. O fato é que, no meio disso tudo, os cinemas estão em uma sinuca de bico. Ninguém quer se amontoar numa sala para ver um filme. O que fazer, então?
Belas Artes, Espaço Itaú e Cinesala já fecharam, sem previsão de retorno. Reserva Cultural está vendendo apenas cotas parciais de ingressos, enquanto Kinoplex fechou algumas praças. Enquanto isso, UCI, Cinemark, Playarte e Cinépolis agem de maneira irresponsável, fingindo que a crise não existe em suas redes. Fecharam apenas no RJ, por conta de decreto governamental.
O que podemos antever, com tranquilidade, é que 2020 será o pior ano para a história do cinema. Vai passar, servindo como temas de piadas no Oscar e no Globo de Ouro de 2021, mas não será fácil. Estúdios devem estar garantidos por esse possível período de três meses de pane total, mas como as redes de cinema vão se portar? Como vão sobreviver, numa luta eterna?
O grande ponto é que os cinemas de rua já vivem com dinheiro contado. Sem lançamentos e com portas fechadas, provavelmente por algumas semanas, como a conta vai fechar depois?
Provavelmente viveremos uma crise severa nas salas independentes. Afinal, os vários lançamentos que foram suspensos não serão liberados aos montes, sem controle. Produtoras e distribuidoras terão que rever toda a agenda e voltar a lançá-los conforme for melhor, aos poucos. Os cinemas, assim, voltarão a ter um lucro regular e não compensarão essa escassez.
O pior, porém, é que o público deverá demorar a se sentir confortável para voltar às salas de cinema. Mesmo após a crise, é natural que as pessoas não se sinta confortáveis em compartilhar espaço, em sentar em poltronas de espaços públicos. Ou seja: mesmo após a retomada, as exibidoras irão enfrentar resistência e o faturamento não deverá ser igual.
Pior: algumas exibidoras já falaram que o aumento no valor do ingresso, para tentar compensar esse período, é inevitável. Vão elitizar e afastar ainda mais essa cultura que deveria ser massiva.
Serão tempos sombrios. Salas deverão fechar, redes podem falir. Estúdios que já estão com problemas econômicos, como MGM, podem enfrentar uma instabilidade ainda mais complicada. E a produção nacional vai intensificar a turbulência pela qual já está passando, com baques no caixa. Que situação! Se já não bastasse a cultura parada, ainda chega essa forte crise.
Até agora, já foram US$ 7 bilhões pelo ralo em todo o mundo, com adiamentos de títulos como Mulan, 007: Sem Tempo para Morrer e Velozes e Furiosos. No entanto, se essa crise se prolongar até meio, o prejuízo pode crescer para R$ 17 bilhões. China, Índia, Itália e Espanha, por exemplo, já fecharam todas as salas. Brasil, Coreia do Sul, Japão e França, quase todas.
A torcida é para que esses vários lançamentos represados, quando voltarem às telonas, voltem com força total. Afinal, o cinema é ideal em momentos de crise. Seja ela social, econômica, moral, emocional. Ele ajuda a pensar, a refletir, a fazer esquecer e a se entreter. Hoje os tempos são difíceis. Mas, após a pandemia, vem a crise financeira e política. Cinema será essencial.
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