“O prazer é o preço da vida. Sem ele, não vale a pena viver. Trabalhar pela vida e não ser pago é pior do que morrer. Aquele que sente mais prazer é quem vive mais”.
Posso afirmar, com propriedade, que O Lobo do Mar, de Jack London, foi a obra mais interessante e profunda que tive oportunidade de ler este ano. Com uma mescla de filosofia de diversos níveis, apresentadas de uma forma extremamente compreensível, com um estudo de comportamento social e psicológico incríveis, a história prende a atenção e mostra os níveis mais selvagens que o ser humano pode chegar.
A história é centrada em Humphrey van Weyden, um intelectual resgatado de um naufrágio por Wolf Larsen, capitão do sombrio navio Ghost, que segue rumo ao Japão para a temporada de caça às focas. Porém, Hump, apelido dado pelo capitão ao intelectual, é proibido de desembarcar e começa a trabalhar como uma espécie de escravo a bordo. Ao decorrer da narrativa, o jovem vai se adaptando e começando a entender o funcionamento hierárquico da embarcação. Tudo isso para conseguir sobreviver.
Logo nas primeiras páginas, London começa a descarregar uma série de teorias filosóficas de uma forma extremamente fácil de ser associada. Primeiramente, Larsen, o capitão do navio, é, claramente, uma personificação do Übermensch, o super-homem de Nietzsche. Sua força e garra de comando exemplificam tal afirmativa. E, além disso, criando um forte contraste com o jovem resgatado, que nunca havia feito qualquer trabalho braçal ou presenciado cenas de violência.
“É certo dizer que a vida não tem valor senão para ela mesma. E posso dizer que agora minha vida é extremamente valiosa: para mim. Está além de qualquer preço, o que poderá lhe parecer uma valorização excessiva, mas isso é algo que não posso evitar, porque é a vida em mim quem estipula esse valor.”
Porém, os ápices das discussões filosóficas ficam por conta dos debates intelectuais entre Humphrey e o capitão Larsen. Apreciadores de grandes escritores e filósofos e que são citados a todo o instante, todo e qualquer diálogo entre os dois é interessantíssimo. O materialismo é um dos tópicos mais discutidos entre ambos e que rendem as frases de maior impacto e que causam uma profunda reflexão.
“Chegamos a um ponto em que a capacidade de um homem de viver é determinada pelo dinheiro que ele possui.”
Além desses pontos, a narrativa, apesar de ser apenas o plano de fundo, é primorosa. As relações dos tripulantes são interessantíssimas. Um verdadeiro estudo psicológico. Por estarem tanto tempo aprisionados e sem o menor acesso a terra, o ser mais selvagem dos marujos acaba aflorando e causando acontecimentos que dão um ritmo intenso à história.
Resumindo, O Lobo do Mar é sensacional. Um clássico da literatura que deve ser lido por todos. Uma mistura da mais pura e cruel realidade com embates e discussões filosóficas fantásticas. Além de possuir uma escrita primorosa e a tradução da minha edição, realizada pelo genial Daniel Galera, deixa a leitura muito mais bem encadeada. Enfim, leia O Lobo do Mar. Uma experiência profunda e inesquecível.
“Há uma quantidade limitada de água, de terra, de ar, mas a vida que está à espera de nascer é ilimitada. A natureza é de uma prodigalidade infinita.”
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