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Foto do escritorMatheus Mans

'O Exorcista na Casa do Sol' conta bons 'causos' de Hilda Hilst


Confesso que quando li as informações sobre o livro O Exorcista na Casa do Sol, imaginei que teria em mãos uma breve biografia sobre a escritora Hilda Hilst -- que, inclusive, será celebrada na FLIP deste ano. Mas o autor e ex-secretário Yuri Vieira trata logo de desfazer essa confusão nas primeiras linhas da obra, mostrando que o livro é mais um relato corriqueiro e episódico sobre a relação dele com a poeta e romancista.

Assim, rapidamente, assimila-se que o tom de toda a narrativa é leve, divertido e bem particular. Sem se preocupar em traçar informações concretas, Vieira deixa que suas percepções sobre a escritora transbordem. Tudo fruto de uma curiosa relação entre os dois, poucos anos antes dela vir a falecer. É gostoso conhecer Hilda na intimidade, sem as amarras que uma biografia viria a causar. É tudo muito despretensioso e permissível.

Difícil, aliás, não rir com algumas passagens -- o autor, espertamente, divide os capítulos como se fossem "causos". Engraçado ver as reações de Hilst com fãs estranhos e perturbados, como o que toma conta do primeiro capítulo. O misticismo da escritora, também pouco conhecido por grande parte do público, é outro ponto interessante da narrativa, assim como também a sua paixão inconsequente por cães e até formigas.

O Exorcista na Casa do Sol, aliás, não se detém em nomes e situações que poderiam vir a causar certo embaraço, como uma envolvendo Hilda e Jô Soares, complexa e ainda não resolvida. Uma cena embaraçosa envolvendo um conhecido poeta brasileiro -- que é contada no capítulo que dá nome ao livro -- também mostra como não há pudores no relato.

Nem tudo são flores para Yuri Vieira, porém. Ainda que não seja escritor de primeira viagem, o autor comete erros grosseiros e pouco elegantes. Na primeira metade do livro, há a repetição de dois ou três acontecimentos. Isso mesmo: o autor repete, com a diferença de poucas páginas, cenas envolvendo Hilda. Conta tudo de novo. Atravanca a leitura.

O pior, porém, é a convicção ideológica própria que Yuri tenta empurrar goela abaixo no meio da narrativa. Em determinado momento, por exemplo, o autor defende -- sem freios -- a obra do conservador Olavo de Carvalho. Ele tem liberdade de gostar de quem for, mas qual o sentido disso? É estranha, também, a tentativa de Yuri tentar provar que Hilda não era feminista. Parece um recurso desesperado para barrar o avanço da imagem da autora nesse sentido.

Mas apesar dos problemas ideológicos e rítmicos da narrativa, O Exorcista na Casa do Sol é leitura agradável e altamente recomendável para quem quer conhecer um pouco mais da mente por trás de obras máximas da literatura brasileira, como A Obscena Senhora D Fluxo-floema. Assim, a grande obra sobre Hilda deverá ser a extensa biografia Hilda Hilst Pede Contato. Mas o livro de Yuri é um belíssimo complemento.

 

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