Ao começar esta lista, queria selecionar 6 filmes para destacar. Mas, conforme fui checando minhas animações ao longo do ano, percebi que não tinha como ficar só com meia dúzia. Logo minha lista saltou para 15 títulos. E consegui chegar neste número mínimo de oito filmes. Bom sinal: 2023, após o desmonte do audiovisual brasileiro, foi bom para o cinema nacional.
A seguir, exemplos de ótimos filmes brasileiros que comprovam que não estamos atrás de nenhum outro mercado audiovisual. Falta investimento. Criatividade e grandes profissionais, afinal, temos de sobra. Enfim: confira nossa seleção de melhores filmes brasileiros do ano.
8. O Sequestro do Voo 375
Filme de ação impressionante, O Sequestro do Voo 375 mostra como temos boas histórias reais a serem contadas sobre nosso país. Há um valor de produção altíssimo neste filme de Marcus Baldini, que controla com rigor as tensões envolvendo o sequestro de um avião com o objetivo de jogá-lo contra o Palácio de Planalto. Não só é um filme tenso e intenso, como também conta com boas atuações de Danilo Grangheia, o heroico Piloto Murilo, e Jorge Paz, o complexo Nonato.
7. Me Chama que eu Vou
Sou fã inveterado de Sidney Magal -- de sua música, de seu estilo alto-astral, de seu ritmo. Por isso, não foi surpresa quando me peguei chorando ao fim do documentário sobre sua história, Me Chama que eu Vou. Estreia do comecinho do ano, o longa-metragem acerta ao não apenas ser uma biografia sobre Magal, mas também um filme-celebração. Coloca os fãs na tela, examina o sucesso do repertório de Magal e, no fim, celebra a essência da música brasileira.
6. Nosso Sonho
Falando de música, não dá pra ignorar o maior sucesso do ano, Nosso Sonho. Cinebiografia sobre a dupla Claudinho & Buchecha, o longa-metragem não foge muito da fórmula já conhecida dos filmes desse estilo. No entanto, há algo poderoso aqui que gruda na audiência: a emoção que envolve e embala a jornada da dupla, dona de hits como Só Love e Quero te Encontrar. As boas atuações de Juan Paiva e Lucas Penteado ajudam também a colocar o filme em outro degrau. Mesmo pouco ligado com a dupla, saí do filme emocionado. Crítica AQUI.
5. Pedágio
Confesso que, com o tempo, Pedágio perdeu um pouco de sua força para mim. Saí bastante impactado da sessão, mas, aos poucos, o filme foi se perdendo na minha memória e comecei a lembrar mais das falhas do que dos acertos -- fora algumas discussões fora da tela que me desanimaram quanto ao filme e alguns dos envolvidos. Ainda assim, não dá para dizer que Pedágio não é um grande filme. A história desse rapaz tentando viver sua sexualidade e, acima de tudo, de sua vida, traz verdade potente e audaciosa. Entrevista para o Estadão AQUI.
4. Bem-Vindos de Novo
O documentário Bem-Vindo de Novo traz uma belíssima história sobre o retorno de um casal de descendentes de japoneses que volta ao Brasil após passar 13 anos em busca de melhores oportunidades no Japão. No Brasil, esperam ansiosamente seus três filhos. Um deles é Marcos Yoshi, realizador do filme, que registra cada momento da família nessa volta de seus pai. Bem-vindos de Novo poderia ser um filme banal, em que essa família se reencontra e tudo vai bem.
No entanto, nada é fácil. Os pais foram embora quando os filhos eram crianças e adolescentes. Agora, já crescidos, percebe-se uma desconexão. O patriarca da família até chega a verbalizar, em um dos momentos mais duros, que não reconhece mais os seus. É um documentário que transpira verdade, emoção e sentimento. E, por isso, merece estar no ranking. Crítica AQUI.
3. Retratos Fantasmas
Representante do Brasil no Oscar, Retratos Fantasmas é o filme mais pessoal de Kléber Mendonça Filho ao analisar as transformações do espaço urbano que o cerca por meio de registros audiovisuais -- desde gravações caseiras e familiares até cenas de seus filmes.
A partir daí, Kléber faz um tratado sobre como isso afeta seu trabalho, seu relacionamento com o mundo ao redor e, em última instância, nos convida a refletir como isso afeta o cinema em si, pensando no espaço sagrado da sala de projeção. É um filme que às vezes escapa do espectador, de tão pessoal que é, mas que nos ajuda a refletir sobre as mudanças do Brasil. Temos a crítica completa AQUI, mas também convido para ler a entrevista com ele no Estadão.
2. Incompatível com a Vida
Assim como o já citado Bem-Vindos de Novo, o documentário Incompatível com a Vida é um registro absurdamente pessoal. Enquanto aquele fala sobre o relacionamento distante com os pais que foram morar no Japão, este fala sobre algo ainda mais doloroso (se é que podemos comparar dores): mães que, durante a gestação, descobriram que os fetos eram incompatíveis com a vida. Ou seja: essas mães terão que lidar com a morte de alguém que sequer nasceu.
Isso se torna ainda mais potente quando a diretora, Eliza Capai, se coloca no centro da discussão. Ela, que começa o filme com uma gravidez regular, descobre que não poder dar à luz. O feto em seu ventre também é incompatível com a vida. A partir daí, acompanhamos relatos dolorosos, carregados de emoção, que faz com que a audiência repense tudo -- principalmente a complexidade para essas mães lidarem com essas emoções. Fortíssimo.
1. Tia Virgínia
O melhor filme brasileiro do ano e (olha o spoiler!) o melhor filme do ano, no geral, Tia Virgínia é um espetáculo. Primeiramente, de Vera Holtz, a atriz que faz o papel dessa tia que precisa equilibrar o mundo nas costas e, aos poucos, começa a perder um pouco de sua conexão com o mundo ao seu redor e, principalmente, com os familiares que não se importam com suas emoções. Mas, apesar do espetáculo de Holtz, é um filme que consegue ir muito, muito além.
Tia Virgínia, afinal, não é apenas um tour de force da atriz e uma análise dessa personagem tão complexa, mas sim uma análise poética e detalhada sobre a família brasileira, as particularidades de nossas relações e como condicionamos certas pessoas à um destino fatal e determinado, sem pensar muito em como isso pode machucar. Filmão. Crítica completa AQUI.
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