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Foto do escritorMatheus Mans

Nos bastidores de 'Temporada', uma ampla troca de experiências


O ano mal começou e já temos um forte candidato para os "melhores filmes de 2018": Temporada, do mineiro André Novais Oliveira (Ela Volta na Quinta). Elogiadíssimo aqui no Esquina, o longa-metragem mergulha na vida de Juliana (Grace Passô), uma dona de casa que decide mudar de cidade após passar num concurso para trabalhar como fiscal da dengue em Contagem. A mudança, porém, acaba sendo bem maior do que uma simples troca de endereço. Ela também precisará conquistar novos amigos, compreender como será sua vida de casada e, principalmente, ser mais independente.

O que mais impressiona no filme é a capacidade de Novais Oliveira em levar a vida pra telona sem fazer julgamentos, sem transformar aquela história num mero posto de observação ou coisa do tipo. É cinema de verdade, é a vida como ela é. "Cresci na região daquele bairro, conheço grande parte das pessoas que aparecem no filme", conta o cineasta, que é uma das cabeças por trás da produtora mineira Filmes de Plástico. "Entender melhor a vida e o cotidiano do que você está contando ajuda a conter alguns vícios, ainda que outros surjam. Estar imerso na história, acredito, é um ponto positivo."

E André, de fato, não pensou duas vezes antes de mergulhar de cabeça na história de Temporada. Não só conhecia a região, as ruas e a rotina daquele bairro que filmaram, como também decidiu colocar a verdade na tela pra que o espectador tivesse um gostinho a mais do que é a vida na periferia de Minas Gerais. Muitos dos atores na tela são moradores da região e alguns fazem sua estreia no longa-metragem de Novais Oliveira. "Independente da experiência de atuação, a vontade era partir de uma coisa para trazer a vida real para o filme. Tinham que agir daquela maneira", diz o diretor.

Para Grace Passô, protagonista do longa e de carreira consolidada no teatro, essa troca de experiência com atores estreantes foi extremamente enriquecedora -- ela, aliás, afirma que não é à favor do termo "ator não-profissional", geralmente usado pra chamar os atores de primeira viagem. "Eles conseguiram me deixar ainda mais imersa na personagem. Compreendi melhor como era a vida daquela cidade, daquele bairro, das pessoas", disse a atriz em entrevista ao Esquina, em São Paulo. "O próprio Hélio [Ricardo] está fazendo sua estreia, mas a atuação dele foi forte. O olhar dele dizia tudo."

Além disso, Grace confidenciou que algumas das locações utilizadas eram, na verdade, a casa de alguns integrantes do elenco. O apartamento do personagem Russão, por exemplo, era a casa de Hélio -- assim como a locação utilizada para uma festa. Tudo ali transpirava verdade e, assim, acaba desembocando num forte sentimento de resistência e até de força política. "É um filme político sem falar sobre política", disse Grace. "A protagonista é uma mulher negra, pobre, sozinha. Ela resistir e buscar seu espaço, sua independência, já indica um forte processo político. Me orgulho disso."

Para André Novais Oliveira, é essencial fazer filmes como Temporada neste atual momento brasileiro. "Retratar com respeito personagens que não são retratados ou que são retratados com estereótipos é importante em sua forma e conteúdo", disse o cineasta ao Esquina. "E agora, não só Temporada está vindo com esse pensamento. Vários diretores e diretoras estão surgindo para mostrar a realidade do brasileiro, entrar na intimidade das pessoas. É um processo do brasileiro se conhecer, conhecer as outras realidades dentro do seu próprio País. É o tipo de cinema que quero fazer."

 

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