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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Ninguém Entra, Ninguém Sai' prejudica imagem do cinema nacional

Atualizado: 11 de jan. de 2022


A premissa da comédia brasileiro Ninguém Entra, Ninguém Sai, que chegou às salas de cinema na última quinta-feira, 4, não é ruim. Inspirada em um conto de Luis Fernando Verissimo, a história é sobre um motel que é isolado por conta de um vírus e, por isso, todos casais que ali estavam não podem mais sair do local -- algo muito parecido, guardadas as devidas proporções, com o livro de Stephen King, Under the Dome.

Assim, o filme acompanha o desdobrar desta situação inusitada e incômoda. Afinal, a maioria das pessoas que estão ali precisam manter o anonimato e não poderiam ficar todos os 40 dias presos no motel -- uma das personagens até apela para o clichê de que "tinha ido fazer unha'. Em outros casos, as pessoas simplesmente não querem continuar a dividir o quarto com seu parceiro. Uma situação normal e que poderia ter um desenrolar interessante.

No entanto, o diretor Hsu Chien Hsin, que tem experiência apenas como assistente de direção, faz um trabalho pavoroso ao conduzir a trama. Numa mistura de Zorra Total, Porta dos Fundos e das pornochanchadas dos anos 1970 e 1980, a trama não tem liga e apenas causa vergonha em seus espectadores. Na sala de cinema, os únicos risos vinham do forte sentimento coletivo de vergonha alheia.

Afinal, nada tem qualidade no filme de Hsin. A maioria das atuações são ruins -- principalmente Guta Stresser (ex- Grande Família) e Mariana Santos (ex-Zorra Total) -- ou automáticas, como no caso de Danielle Winits e Rafael Infante, do Porta dos Fundos. Só Letícia Lima e Paulinho Serra parecem estar se divertindo, mas ainda assim não causam riso. Os únicos que conseguem esse feito são Totoro (também do Porta dos Fundos) e, por mais surreal que pareça, Sergio Mallandro. Este último é responsável pela melhor cena do filme.

De resto, tudo é deplorável. O roteiro parece uma colcha de retalhos e não tem noção de quando encaixar piadas e momentos de drama -- uma terna cena entre mãe e filha é colocada no meio das piadas e cenas de insinuação sexual, por exemplo --, além de falas deploráveis e que devem ter feito Sérgio Mallandro relembrar os seus tempos de Inspetor Faustão e o Mallandro. Apenas uma outra piada fazem sentido no contexto e causam algum riso e grande parte conta com um forte teor machista.

Por fim, até mesmo a trilha sonora e a sonoplastia não fazem sentido como um todo. Em uma tentativa de criar emoção, o diretor filma os jovens Caju (João Côrtes) e Bebel (Bella Piero) em uma tentativa de concretizar a "primeira vez". Ao fundo, uma mistura de guitarra e violão tenta criar um sentimento coletivo, mas não consegue. Apensa evidencia a vergonha daquela cena. Outra coisa que causa desespero: barulho de chicote a cada movimento de Danielle Winits em cena. É desesperador.

Enfim, Ninguém Entra, Ninguém Sai não acerta em nada e nem ao menos diverte por ser ruim. É apenas um filme vergonhoso e que ajuda a engrossar o coro de que o cinema nacional não tem nada de bom -- apesar de produções brasileiras independentes cada vez mais aprimoradas e reconhecidas em todo o mundo. Um desserviço ao Brasil e uma pena para esta boa história de Verissimo que serviu como inspiração. Ponto apenas para Mallandro, que mostrou que ainda faz os desesperados rirem.

 

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