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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Nasce um clássico: ‘It, a coisa’ é o filme que todos esperavam

Atualizado: 11 de jan. de 2022


Já disse repetidas vezes aqui no Esquina que é maravilhoso quando um filme consegue surpreender a audiência com um resultado acima do esperado -- neste ano, aconteceu com Lady Macbeth e com Bingo, o Rei das Manhãs. No entanto, mais maravilhoso é quando um filme extrapola todas as expectativas que o rondam, entregando um resultado inesperado e cheio de qualidade. É isso que o filme It, a Coisa fez, entregando uma história que respira cinema em todos seus detalhes.

A trama, baseada no incrível livro de Stephen King, acompanha um grupo de garotos que moram no Maine, nos Estados Unidos, e que começam a perceber uma série de acontecimentos estranhos no local. Crianças desaparecem enquanto outras encaram uma espécie de assombração em forma de palhaço -- o clássico e icônico Pennywise. O grupo de amigos, então, precisa se unir para derrotar o tal espírito maligno e, enfim, se sentirem seguros novamente.

Primeiro grande acerto: a escolha de elenco. Apesar das crianças serem, em sua maioria, desconhecidos e inexperientes, todos estão surpreendentemente bem e de acordo com suas personagens -- ainda que os atores de Mike (Chosen Jacobs) e Stanley (Wyatt Oleff) estejam mais contidos e tenham menos espaço para desenvolvê-los. Jaeden Lieberher tem uma boa presença de espírito como o líder Bill, assim como Sophia Lillis consegue criar sua Beverly com muito cuidado e originalidade.

O grande acerto, porém, foi a aposta mais duvidosa da produção: a estrela em ascensão Finn Wolfhard, que já chamou a atenção em Stranger Things. Aqui, ele rouba a cena como Richie, um pré-adolescente que está descobrindo os palavrões e não pensa duas vezes antes de soltar alguma pérola. É maravilhoso vê-lo em cena, com uma desenvoltura rara para a idade. Jack Grazer como Eddie e Jeremy Ray Taylor como Ben também apresentam bons momentos em tela.

Nada disso teria resultado, porém, se não fosse a direção e o roteiro certeiros. Vamos falar primeiro, então, da direção: o argentino Andy Muschietti mostra que era a aposta certa para dirigir este terror. Após o bom resultado de Mama, ele conseguiu imprimir seu estilo em It, a Coisa numa mistura de drama com terror em tela num malabarismo cinematográfico muito difícil de ser feito e que dá um resultado estonteante. Só pecou mesmo pelo excesso de CGI no Pennywise.

Além disso, é delicioso ver a série de referência que o filme faz à clássicos dos anos 1980, como Os Goonies e Conta Comigo. A ingenuidade de crianças da época é visível na tela graças ao talento de Muschietti, que conseguiu ficar alinhado com a ideia central do livro do escritor Stephen King. Há tempo que não se via uma relação tão fluída e natural passada nesta década -- fãs de Stranger Things me desculpem, mas há um quê de artificial na série da Netflix.

Parte desta força de Muschietti está, é claro, no outro grande acerto do filme: o roteiro. Feito a seis mãos pelo estreante Chase Palmer e pelos já consagrados Cary Fukunaga (True Detective) e Gary Dauberman (Annabelle 2), o roteiro consegue mesclar todos sentimentos dos jovens personagens em cenas profundas, sem perder o ritmo. Abuso sexual, excesso de cuidado, bullying, luto. Tudo isso é tratado na história, de maneira talentosa, sem perder o fio condutor do Pennywise.

E que maravilha é o Pennywise deste filme! Ainda que haja certa nostalgia pelo palhaço de Tim Curry do filme de 1990, o Pennywise do ótimo Bill Skarsgard (Atômica) tem um ar mais sombrio e que contribui muito para a trama. Além disso, o ator conta com maneirismos que enriquecem a narrativa e que deixam toda história mais impactante para a audiência. Como é divertido ver Skarsgard ficando vesgo ou tendo longos momentos de diálogo -- como na clássica cena do bueiro.

Com todos estes elementos, It, a Coisa entra pra história. É um clássico instantâneo, não há dúvidas. Há erros? Sim, é claro. Qualquer filme com mais de duas horas possui erros em seu desenvolvimento. Aqui, há excesso de CGI no palhaço, há histórias que se repetem e que ficam um pouco cansativas e há, até mesmo, a sexualização exagerada de Beverly. Mas nada disso atrapalha e, no final, há aquele sentimento bom de que o valor do ingresso foi revertido em uma boa experiência cinematográfica. E isso, sem dúvida alguma, não tem preço.

EXCELENTE

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