Pela primeira vez, Ná Ozzetti, Badi Assad, Lucina e Regina Machado se juntam para um show inédito: Substantivo Feminino, no Sesc Vila Mariana, nesta sexta, 11, e sábado, 12. A concepção do espetáculo foi da empresária Nancy Silva, que percebeu na singularidade e extensão da carreira destas artistas algumas coisas em comum, além do fato de serem cantoras e instrumentistas de talento.
“Substantivo Feminino surgiu da vontade de destacar dentro deste cenário atual, musicistas com longo percurso de carreira e na ativa”, explica a empresária no release distribuído à imprensa.
Segundo Nancy, o projeto procura evidenciar a carreira destas cantoras dentro da Música Popular Brasileira, aproveitando “a força do movimento de mulheres na música”. Além de representarem a voz do feminino na música brasileira, Ná, Badi, Lucina e Regina construíram e consolidaram suas carreiras independentemente de gênero ou de momentos propícios como esse. São artistas que extrapolaram estas questões.
São vozes que tatuaram suas marcas na MPB por não se dobrarem a modismos e ao que se apresentava como um caminho mais fácil e oportuno. Pelo contrário: ousaram na singularidade e no que acreditavam.
Ná Ozzetti é um bom exemplo de um artista que ousou seguir seu caminho. Com quase 40 anos de carreira, ela – que desde criança recebeu apoio da família e começou a cantar na adolescência – só se profissionalizou em 1979, quando se juntou ao grupo paulista Rumo. Lá encontraria o parceiro musical da vida toda, Luiz Tatit.
Em entrevista exclusiva para o Esquina, ela fala sobre a proximidade dessa data redonda, dos 60 anos de vida e 40 de carreira -- que ela nem lembrava. Além, claro, da parceria com Luiz Tatit e do disco de inéditas que está preparando com o grupo Rumo. Confira, abaixo, a entrevista completa:
Esquina da Cultura: Quando você completou 30 anos de carreira, lançou o disco 'Balangandãs' (2009). Agora, com quase 40 anos a serem comemorados, em 2019, o que pretende fazer?
Ná Ozzetti: Sinceramente, não tinha me dado conta desta data redonda no ano que vem. Obrigada por me lembrar. Já tenho alguns projetos novos em andamento de gravação de disco. Inclusive, olha a coincidência, comecei profissionalmente em 1979, como integrante do grupo Rumo, e estamos, depois de tantos anos, gravando um disco novo de composições inéditas a ser lançado em 2019.
Esquina: Você diz que o tempo lhe fez trabalhar e buscar a simplicidade, algo que muitas artistas, em qualquer tempo, disse ou diz que é uma das coisas mais difíceis. O que faz para atingir a simplicidade no trabalho? Isso passa pela maneira como enxerga a vida, o envelhecimento, a finitude?
NO: Simplicidade é algo básico e natural pra mim. Não busco a simplicidade, ela já está. O que pode acontecer é o aprimoramento, algo natural para tudo, no que diz respeito a ação do tempo.
Esquina: Ná, são onze discos e um DVD ao longo de uma carreira de quase 40 anos, excluindo os seis LPs lançados com o grupo Rumo. Por se tratar de uma carreira autoral, conceitual, não deve ter sido nada fácil. Já pensou em abandonar a carreira? Quais foram os momentos mais críticos? O que lhe faz continuar?
NO: Esta pergunta me fez lembrar da letra da canção Estopim (Dante Ozzetti/Luiz Tatit) [do álbum homônimo de 1999]: “nada é tão fácil no início, nem no percurso nem no fim...”. Em qualquer profissão, na vida, é assim. Estamos aí, seguimos vivendo e trabalhando. Sorte que adoro trabalhar. Adoro fazer o que faço, da forma como faço. Estou bem com minhas escolhas, meus parceiros, e a liberdade que isso me proporciona.
Esquina: Um de seus trabalhos mais elogiados foi o disco 'Balangandãs', de 2009, quando gravou compositores antigos que foram interpretados pela "Pequena Notável", Carmen Miranda. O que representou esse trabalho na sua carreira? Tem projetos de álbuns com compositores antigos?
NO: Foi maravilhoso realizar este projeto, num processo de criação coletiva com os músicos Dante Ozzetti, Sérgio Reze, Mário Manga e Zé Alexandre Carvalho. Carmen Miranda foi uma das minhas principais influências como intérprete. Desde sempre me impressionou a genialidade do seu canto. E o repertório é tão maravilhoso quanto ela. Ainda não tenho outros projetos com compositores antigos, mas acabo de realizar, a convite do instituto Moreira Salles uma reedição do disco histórico Canção do Amor Demais, da Elizeth Cardoso, que completa este ano 60 anos do lançamento, com a mesma equipe do Balangandãs.
Esquina: Você irá completar 60 anos em dezembro, quase 40 anos de carreira. Essas datas fechadas remetem algum sentimento. Se tivesse que escolher hoje uma carreira, iria ser cantora. O que você aprendeu na música que não aprenderia em outra área?
NO: Sim. Como disse, adoro meu trabalho. Não sei dizer o que não aprenderia em outra área. Só sei que música é essencial pra mim. Além disso, um eterno aprendizado.
Esquina: Uma das críticas ao seu trabalho diz que algumas vezes ele é cerebral demais em detrimento da emoção. Como você enxerga isso?
NO: É a opinião de quem disse isso, tudo bem
Esquina: Sua carreira começa no grupo Rumo, em 1979. Ou seja: cercada de parceiros, eram nove ao todo. Quando você lança sua carreira solo, em 1988, sempre procurou se cercar de parcerias musicais, entre elas, a de Luiz Tatit, do grupo Rumo. Quando você lançou o disco 'Meu Quintal' chegou a dizer: "Gosto de trabalhar como se estivesse na intimidade da mina casa, com os chegados e todos os elementos que fazem parte desse quintal". Fale um pouco dessa parceira umbilical com Luiz Tatit. Quais os prós e os contra de trabalhar com amigos?
NO: Isso eu disse na época do lançamento daquele disco, nem sempre é assim. Com relação ao Tatit, [ele é] absolutamente genial, meu parceiro mais antigo e mais frequente ao longo desses anos. Um privilégio tê-lo por perto. No mais, sempre que trabalhamos com outros músicos ou compositores, cantores, acabamos desenvolvendo uma relação íntima de amizade e cumplicidade. Criamos elos, formamos uma espécie de família. Só vejo vantagens nisso. Nesse aspecto, acabei formando inúmeros núcleos familiares.
Esquina: Em épocas de empoderamento da mulher, do lugar de fala da mulher, o que representa ser mulher, cantora, para você. O que você acha das cantoras mulheres no gênero sertanejo. Quais as mulheres cantoras da nova sagra da MPB que você escuta e destacaria?
NO: Sempre admirei as grandes cantoras, foi a paixão por elas que me levou a cantar. Há grandes compositoras também. Na MPB, destaco a cantora Livia Nestrovski, absolutamente um espetáculo!
Esquina: O que representa a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, e o que ele representou para política brasileira. Você já tem candidato, o que pensa das opções que temos para 2018. O que pensa a respeito do Brasil?
NO: Estamos falidos.
SERVIÇO
Show: Substantivo Feminino. Com Ná Ozzetti, Badi Assad, Lucina e Regina Machado Dias: 11 e 12/5, sexta e sábado, às 21h Local: Sesc Vila Mariana, Teatro Endereço: Rua Pelotas, 141, Vila Mariana - São Paulo. Tel: (11) 5080-3000 Capacidade: 620 lugares Ingressos: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00.
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