Símbolo atrás de símbolo marcam a narrativa de Muito Romântico, filme teuto-brasileiro de autoria de Melissa Dullius e Gustavo Jahn, conhecidos juntos como Distruktur. De aparência promissora, ele promete guiar o espectador pelos percalços do relacionamento do casal de protagonistas, com um apartamento singelo e Berlim como plano de fundo.
Janelas de um navio e a declamação de um poema em alemão dão início ao filme. As primeiras cenas, lentas, são visualmente belas, divididas entre fotografias e gravações do mar. O casal homônimo aos roteiristas e atores – quase todos os processos da feitura do filme tem participação de Melissa e Gustavo – passam dezessete dias em um navio vermelho, indo do Brasil à Berlim.
A dramatização de suas vidas é intercalada com passagens de caráter experimental gravadas ao longo dos nove anos que os diretores moraram na cidade alemã. Algumas delas são interpretações de diversos atores em momentos que, não se é revelado, podem ter pertencido ao passado, presente ou futuro, até que os protagonistas encontram um pequeno portal atrás da mesa de cabeceira.
Pode ser que o roteiro confuso e embaralhado faça com que os 72 minutos de filme pareçam mais longos propositalmente – afinal, Muito Romântico faz diversas menções diretas sobre a passagem do tempo. O problema é que quando a personagem Melissa compara a vida à uma colcha de retalhos, a conclusão à que se chega sobre o filme é que ele mesmo é uma mistura sem muito motivo ou razão.
A trama se afoga em meio ao excesso de simbologias que perdem o sentido e parecem inseridas para tornar a película uma favorita da cena alternativa. Resta descobrir se isso acontece por este ser o primeiro longa-metragem de Distruktur, acostumados a produzir curtas.
Enquanto o script deixa a desejar, as imagens gravadas em 16mm atraem o espectador com singularidade e beleza. O enquadramento e a montagem das cenas são cuidadosos, destacando-se o uso das cores vermelha e azul, constantes desde o contraste inicial da embarcação com o mar.
No fim, Muito Romântico mostra um casal que se perde na linearidade da própria história. À deriva, como se nunca houvessem saído do barco no qual chegaram à Berlim, o relacionamento se desgasta e realidades paralelas se justapõem às deles.
A constante declamação das falas, apesar de cansativa, revela o caráter pessoal e poematizado da obra que leva o nome de uma canção de Caetano Veloso. Para o espectador, sobra a missão de entender se Muito Romântico é uma obra de arte de difícil compreensão ou se precisava ficar mais algum tempo no porto antes de zarpar.
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