Na madrugada desta quarta-feira, 14, quando li sobre a morte do físico Stephen Hawking, fiquei na dúvida se deveria compartilhar a informação nas redes sociais do Esquina. O site, afinal, é sobre cultura. E Hawking, ainda que tenha ganho duas adaptações sobre sua vida nos cinemas, não era dessa área. Pelo contrário: num primeiro momento, a especialidade do britânico são os números, enquanto aqui focamos nas letras, nas humanidades e nas artes.
No entanto, logo percebi como isso era incoerente e que Hawking se encaixava também na cultura. Dono de personalidade surpreendente, o professor sempre flertou com a cultura pop, por exemplo. Ele não se negou, em momento algum, a fazer participações especiais em grandes programas da TV. Foi personagem dos Simpsons, quatro vezes. Apareceu em Star Trek e sete vezes em Big Bang Theory. Até foi parodiado em Festa da Salsicha, como um chiclete.
Ele também, como já foi citado, aceitou doar fragmentos de sua vida para transformar em filmes. O primeiro foi A História de Stephen Hawking, com Benedict Cumberbatch no papel -- era um filme pra TV, porém. O outro, de maior escala, foi o premiado e superestimado Teoria de Tudo, com Eddie Redmayne e Felicity Jones. Chegou, inclusive, a concorrer ao Oscar de Melhor Filme e Redmayne levou o prêmio de Melhor Ator, desbancando o favorito Michael Keaton.
No entanto, esses dois pontos ainda não o fazem como um integrante do mundo das artes, claro. O que me fez perceber isso -- e que me permitiu jogar, na hora, a informação sobre a morte dele nas redes sociais -- foi o dom de Hawking em dominar a palavra. Ele nunca falou sobre assuntos fáceis em seu trabalho como físico. Teoria da relatividade. Buracos negros ou de minhocas. Criação e fim do universo. São temas que tratam de números e aspectos bem específicos.
Hawking, porém, dominou esses assuntos como poucos dominam atualmente. E não teve a arrogância de guardá-los para si. Extremamente inteligente e curioso, logo ele começou a colocar as ideias no papel e escreveu o maravilhoso livro Uma Breve História do Tempo, que levou Hawking ao estrelato -- coisa que não acontecia desde Einstein -- e fez com que muitas pessoas, de todas as áreas do conhecimento, entrassem em contato com temas de difícil compreensão.
O livro virou um best-seller e, depois, seguiu-se outros lançamentos como O Universo Numa Casca de Noz, O Grande Projeto e Buracos Negros, Universos Bebês e Outros Ensaios. É uma obra interessante, profunda e que mostra o total domínio da palavra por Hawking. Não é fácil explicar temas complexas, ainda mais quando você os domina num nível absurdo de detalhes. Mas ele conseguiu e levou a física pra milhares ao redor do mundo, disseminando conhecimento.
Isso é arte. Não importa se ele fale de números, teorias sobre o cosmos ou sobre equações e paradigmas complexos. Se ele conseguiu traduzir em palavras e encantar tantas pessoas, Stephen Hawking fez algo além. Podemos dizer, então, que perdemos um físico, escritor, cosmologista e artista.
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