O mineiro Lucas Dupin prestou atenção na paisagem urbana e, disso, fez Arte. Partiu do "banal para tratar de temas universais e enxergar o mundo pelos olhos daqueles que andam pelas ruas das cidades", como diz a própria descrição da exposição. É a pedra que forma a calçada, a poça de água de forma inusitada, as marcações alfanuméricas no asfalto. Tudo isso, a partir do olhar multidisciplinar do artista, que compõe a mostra Rés do Chão.
"A exposição começou orbitar a partir da instalação Jardins suspensos, composta por fragmentos de calçadas portuguesas, que estão desaparecendo paulatinamente da cidade", conta Lucas em entrevista exclusiva ao Esquina. "À medida que pensava nos demais trabalhos, ficou evidente que todos eles tinham esse 'olhar para baixo', para as coisas que estão ao nosso redor, mas que em geral nós não damos muita importância."
Aos poucos, então, ele começou a compôr a Rés do Chão, que tem o título inspirado num texto de Antônio Cândido. Além da belíssima instalação Jardins suspensos, ilustrada com a imagem que abre esse texto, ele também apostou em vídeos, intervenções nas ruas de São Paulo e até na pintura, onde o artista traz dezenas de aquarelas onde reproduz, de modo realista, inúmeras bitucas de cigarro encontradas pelos caminhos por onde passa.
"A escolha pela linguagem se dá sempre a partir do trabalho que, por sua vez, é criado a partir do contexto no qual estou situado", explica o artista. "Busquei apresentar obras de diferentes momentos que dialoguem entre si, não pela proximidade de linguagem, mas por esse olhar que se volta para as coisas mais prosaicas. Então, embora sejam linguagens diferentes, existe um diálogo sútil entre cada trabalho como, por exemplo, na instalação Jardins Suspensos, de 2015, e a foto-performance pedra/ouro. A diferença de linguagem, a meu ver, projeta, neste caso, uma nova mirada no outro trabalho e vice versa."
O que está no chão, então, é suspenso. A rotina da cidade, tão banal e desatenta, recebe pequenas intervenções e fragmentos fotográficos. E objetos tão misturados com o cotidiano de centros urbanos são eternizados em detalhes artísticos. "Gosto de pensar que a arte, antes de mais nada, é um modo de ser e estar em relação ao mundo em que podemos fazer o que quisermos se desdobrar para além de si mesmo", explana o artista mineiro.
Esta é a primeira mostra individual do artista plástico numa galeria comercial, ressaltando a importância -- tão característica na obra de Dupin -- em olhar e ocupar a própria cidade . "São várias as expectativas, mas que aqui resumiria em duas: primeiro que os visitantes possam mais do que perceber cada trabalho individualmente, ter uma proximidade com o que me interessa artisticamente ou coma minha poética. Segundo, que os trabalhos possam circular também comercialmente e habitar novos espaços, lares, coleções."
Serviço: Rés do chão, individual de Lucas Dupin Local: Galeria Lume Abertura: 16 de junho, sábado, das 13h às 17h Período expositivo: de 18 de junho a 21 de julho Endereço: Rua Gumercindo Saraiva, 54 - Jardim Europa, São Paulo Visitação: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h | sábados, das 11h às 15h Telefone: (11) 4883-0351 Mais informações: www.lucasdupin.com.br
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