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Foto do escritorMatheus Mans

Livro 'Por que a Guerra?' faz mergulho na belicosidade social


De onde vem a ânsia da sociedade em guerrear? Ainda que haja uma história extremamente recente sobre grandes conflitos -- vide as duas Grandes Guerras, a Guerra Fria e os conflitos no mundo árabe --, ela surgiu e pôs sua semente há muito tempo, quando a configuração democrática ainda estava em formação. Impérios gregos e romanos e conquistas religiosas, por exemplo, fazem parte desse embasamento social e bélico.

E é esse o tema principal do livro Por que a Guerra?, organizado pelos professores Karl Schurster Sousa Leão e Francisco Carlos Teixeira da Silva e que junta uma série de ensaios e análises sobre a história da violência entre os homens. Editado pela Civilização Brasileira, a obra tenta traçar paralelos e justificar a semente bélica que existe na sociedade até hoje. "O que causa as guerras e como elas podem ser evitadas?", questiona Luis Fernandes, professor de relações internacionais, na orelha do livro.

Como todo compilado de ensaios, há altos e baixos em Por que a Guerra?. Com capítulos escritos por diferentes autores, é possível encontrar alguns textos bem mais acadêmicos -- como o primeiro, Democracia e Guerra na Grécia Antiga -- e outros bem mais didáticos, como A Guerra dos Povos sem Estados. É uma oscilação previsível, mas que, ainda assim, pode afastar algumas pessoas que buscam respostas simples e sem academicismo.

No entanto, pode-se dizer que a obra organizada por Sousa Leão e Teixeira da Silva é ampla, extremamente bem organizada e com uma profundidade louvável para o tema. Mas vamos por partes. Primeiro sobre a organização: os responsáveis pelo livro não se prenderam, totalmente, à linha cronológica da história da Guerra. Ainda que comece com Grécia e Roma, o livro, em seguida, acaba fazendo paralelos e que avançam ou retrocedem no tempo. Parece confuso no início, mas vai encaixando conforme a leitura flui.

Afinal, por mais que pareça que Um Estudo Histórico sobre a Guerra, de Ricardo Pereira Cabral, devesse estar mais no começo do livro, ele faz total sentido como um capítulo intermediário ao entregar uma reflexão interessante ao leitor, que revê mentalmente tudo o que leu até ali, e entra com uma mentalidade provocativa e fora do lugar-comum no texto sobre guerras coloniais, imperialismo e racismo durante a conquista europeia.

Além disso, o livro não se contenta em ficar na superfície em momento algum. Cada um dos 17 ensaios possuem um grau de profundidade e reflexão pungente, impedindo que o leitor fique com informações desencontradas ou ansiando mais conteúdo -- se o quiser, por algum motivo, há sempre referências completas ao final de cada capítulo da obra.

Vale destacar, porém, três capítulos que contém um conteúdo incrível -- quer você se interesse por guerras ou não. O primeiro é A jihad em nome de Deus, que mostra detalhes dos conflitos e da Guerra Santa travados pelas religiões islâmicas. O autor, Francisco Carlos Teixeira da Silva, não fica apenas em detalhes banais e mostra, com embasamento teológico, como esses conflitos se dão atá hoje. É interessante e ajuda as pessoas saírem da caixa de preconceitos que o tema traz. Leitura de ponta e importante.

Outro capítulo de destaque é sobre as guerras coloniais, de Rafael Pinheiro de Araújo. Longo, com 30 páginas, o ensaio é um mergulho profundo e extremamente didático sobre como ocorreram esses conflitos -- e, principalmente, o que foi gerado a partir deles. Por fim, destaque sobre o último capítulo, sobre o futuro da guerra, escrito por Ángel Pablo Tello. É interessante, a partir dele, ver como um olhar sobre o passado, tão esmiuçado na obra, pode também ser um olhar interessante e reflexivo sobre o futuro.

Por que a Guerra? é um livro denso, teórico e extremamente reflexivo, e vale a leitura se você quiser entender um pouco mais de como a violência ajudou a estrutura a sociedade de hoje e, por isso, ainda é um tema tão presente, tão vivo e tão importante no mundo globalizado e conectado. A resposta da pergunta que compõe o título está ali, em todas as páginas. Mas uma questão ainda mais importante nasce ao fim da leitura: qual o nosso futuro? Ninguém sabe responder. Mas, com certeza, a guerra estará presente.

 
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