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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Kingsman: O Círculo Dourado’ é bom, mas falta ousadia

Atualizado: 11 de jan. de 2022


O diretor inglês Matthew Vaughn sempre resistiu às continuações. Mesmo com o sucesso estrondoso de Kick-Ass, por exemplo, ele se negou a comandar o segundo filme da franquia e deixou a cargo de outro diretor -- transformando a história num fiasco. Algo parecido ia acontecer com Kingsman, que teve o segundo filme encomendado logo após o sucesso em 2015. Vaughn, porém, tomou o projeto para si e decidiu se arriscar, pela primeira vez, numa continuação.

O resultado dessa sua empreitada inédita, visto com o novo Kingsman: O Círculo Dourado, não poderia ser mais decepcionante. Não que o filme seja um fracasso total, é claro. Não é. Tem bons momentos, cenas de ação interessantes e um humor refinado e que pode render algumas gargalhadas -- principalmente em cenas envolvendo o cantor e compositor Elton John. Mas falta a originalidade, a coragem e o sopro de frescor visto no primeiro longa da franquia.

A trama, por si só, até que é interessante e ousada. Começa com a traficante de drogas Poppy (Julianne Moore) aniquilando a organização de espiões ingleses, sem deixar pedra sobre pedra. Apenas o jovem Eggsy (Taron Egerton) e o inteligente Merlin (Mark Strong) sobrevivem para buscar ajuda do outro lado do oceano com o grupo de espiões americanos. Nesse meio tempo, a traficante também cria uma arma mortal que deverá aniquilar todas pessoas viciadas em drogas.

Logo se vê, então, que a essência de Kingsman -- vista em Sociedade Secreta -- está lá. O vilão continua sendo uma criatura bizarra, ainda que Julianne Moore seja bem mais simples em termos cênicos do que Samuel L. Jackson. O herói ainda vive uma caricatura de filmes de James Bond, mesmo que desta vez pareça mais com a paródia de Roger Moore do que a de Sean Connery. Então você se pergunta: por que está crítica começa falando mal de O Círculo Dourado?

Primeiro por conta da estrutura da história. O roteiro, assinado por Vaughn e pela mediana Jane Goldman (O Lar das Crianças Peculiares), não avança em termos de ousadia. Todos acontecimentos relevantes ficam presos no começo do filme e é tudo corrido -- a morte de personagens importantes nem é explicada do jeito correto. O roteiro se aproveita de coisas que deram certo no filme anterior e as transformam em adaptações. Falta criatividade para chocar como o primeiro chocou.

Vou dar alguns exemplos, e aí vem spoiler do primeiro filme. Se não quiser ler, vá para o parágrafo seguinte. Em Sociedade Secreta, várias vezes a história quebrou com as nossas expectativas. Lembra quando achamos que Eggsy ia matar o seu cachorro? Ou quando a personagem de Colin Firth morreu, numa reviravolta chocante? Ou quando cabeças explodiram em nuvens coloridas? Nada disso aconteceu em Círculo Dourado. Nada quebra as nossas expectativas. E isso é frustrante num filme de Kingsman.

Quanto à direção de Vaughn, ela está mais megalomaníaca, criando cenas de ação cheias de efeitos e câmeras que passeiam entre socos, chutes e chicoteadas. Mas, ainda assim, nenhuma delas causa a mesma emoção que a inesquecível cena de Colin Firth quebrando tudo na igreja. São bem feitas e só. Nenhuma vai ficar marcada eternamente na mente dos espectadores. O mesmo vale para a vilã Poppy, que é divertida, mas tem atitudes bem mal explicadas.

O elenco estelar do filme é subaproveitado. Mark Strong, Colin Firth e, claro, Taron Egerton aparecem bem mais e contam com bons momentos -- com destaque para Strong, que tem um crescimento narrativo interessante. No entanto, as novidades do filme servem apenas como figurantes de luxo. Channing Tatum e Jeff Bridges, por exemplo, aparecem menos do que Elton John. Halle Berry tem um ou outro bom momento, mas é esquecível. Só Pedro Pascal (Game Of Thrones) ganha mais espaço.

Na conclusão do filme, sem dúvidas o espectador sairá feliz. Afinal, é um bom divertimento pipoca, conta com boas cenas de ação e tem um elenco interessante -- além de Elton John de maneiras que ninguém imagina. Mas falta algo e o filme não causa a mesma surpresa boa que foi vista em Serviço Secreto. Às vezes, era melhor Matthew Vaughn ter saído da continuação. Quem sabe, um outro nome poderia ter mantido o frescor que a franquia precisa. Fica para a próxima.

BOM

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