A coletiva de imprensa era sobre o filme Eu Sou Mais Eu, lançamento nos cinemas em 24 de janeiro. No entanto, rapidamente, o evento ganhou contornos de um inquérito sobre o modo de viver, atuar e se relacionar da atriz Kéfera Buchmann. Quarto filme da curitibana que iniciou sua carreira no YouTube, ela ainda desperta curiosidade quando estrela filmes -- mesmo sendo uma das protagonistas de uma novela da Globo. Parece que ainda há descrença das possibilidades e dos papéis que ela pode assumir por aí.
"Quando comecei meu canal, era adolescente. Tinha outro pensamento, outra maneira de ver as coisas e o mundo. Hoje ele tem mais frequência pois encontrei outra coisa que gosto de fazer. Ele foi uma porta de entrada para o que eu queria mesmo: a televisão e o cinema", disse Kéfera quando questionada sobre seu trabalho no YouTube. Para ela, não há problema em repetir papéis que tenham conexão com sua vida como youtuber. "O público ainda me identifica como influenciadora, mas aos poucos estou desconstruindo."
Pedro Amorim, diretor de Eu Sou Mais Eu, trouxe um ponto pertinente sobre a discussão e, de maneira elegante, chamou a atenção para o tema central da coletiva. "No filme, a Kéfera faz o papel de uma pop star que volta pro passado, pra reencontrar sua essência e sua verdade, e acaba passando para um estágio quase analógico", explicou o cineasta, responsável pelo divertido Divórcio. "O roteiro faz essa brincadeira de levar a Kéfera para esse momento em que a internet era discada, não tinha celular. Ela vai bem além."
A atriz Giovanna Lancellotti, que está numa fase de filmes adolescentes após Tudo por um Popstar, também chamou a atenção para uma coisa a óbvia: a internet, as redes sociais e os influenciadores já fazem parte da vida de milhares de brasileiros. "Isso já é a nossa realidade. Todo mundo tem um celular na mão, checa o YouTube, o Facebook", disse a atriz global. "É natural, então, que esse tipo de coisa esteja cada vez mais presente na televisão e no cinema. Ainda mais quando parte de alguém que conhece bem a profissão, o meio, o conteúdo. Fica ainda mais interessante de falar sobre isso."
Bullying. No filme, quando Kéfera volta para o ano de 2004 por conta de uma espécie de magia, ela precisa encarar problemas que enfrentou antes de se tornar uma estrela. Um deles foi o bullying que sofria da patricinha Drica (Giovanna Lancellotti). Sobre isso, Kéfera comentou que é uma experiência quase pessoal. "Eu sofri muito bullying. Eu era uma criança e uma adolescente gorda. Sofri muito, chorei muito, aprendi muito", disse a atriz. Ela ainda contou que deu indicações para Lancellotti sobre atitudes e gestos que suas antigas desavenças faziam pra desestabilizá-la. "Usei parte da minha experiência."
Amorim também ressaltou que usou sua vida para entender melhor os caminhos traçados pela personagem de Kéfera. "Sou filho de diplomatas, então viajava o mundo todo. Cada ano eu estava numa escola diferente, em um País diferente", disse o diretor. "Assim, cada vez que eu chegava num lugar, me sentia deslocado e fazia de tudo para tentar me enturmar. Aos poucos, acabei percebendo que fazer de tudo só me afastava de quem eu realmente queria me aproximar. Quis trazer um pouco disso na tela".
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