Sou consciente que John Green tem um séquito de fãs espalhados por todo o mundo e que seus livros são amados por várias gerações de leitores. Mas não adianta: já me embrenhei em todas suas histórias e, infelizmente, as criações literárias do autor norte-americano não me convencem. Além de sempre baterem nas mesmas teclas, seus livros contam com uma fórmula literária, que se repete desde A Culpa é das Estrelas até o mais recente Tartarugas até lá embaixo.
Antes de falarmos da nova aposta de John Green, vamos contextualizar você, leitor, sobre a tal “fórmula literária” que citei acima. Se você leu outros livros do autor, vai reconhecer estas observações rapidamente. Mas aqui vamos usar como exemplo o maior sucesso do autor, o best-seller mundial A Culpa é das Estrelas. No livro, acompanhamos um casal que enfrenta o câncer e tenta encontrar um meio de viver de forma agradável após engatarem um belo romance.
Primeira fórmula: John Green cria personagens adolescentes diferentes, mas que, no fundo, não condizem com a realidade. O casal protagonista fala coisas que ninguém com a mesma idade falaria. Para o autor, isso é demonstração de como eles são maduros. Para o leitor, é uma artificialidade sem fim. Segunda fórmula: cria reviravoltas forçadas. Hazel é quem fica o livro todo doente, mas é Augustus que tem uma mudança em seu quadro geral, sem ter uma introdução.
Além disso, John Green introduz pequenos detalhes que são forçados para entrar na mente do leitor, como o cigarro apagado de Augustus. No final, descobrimos que seu desespero para passar a imagem do tal cigarro é para criar emoção na cena do velório, quando Hazel faz um belíssimo discurso. Novamente, fica artificial. Por último, a quarta fórmula: a doença usada como gatilho para a emoção, mas que nunca é aprofundada da forma correta e digna na história.
Muito bem. Tendo isso estabelecido, volto para Tartarugas até lá embaixo, novo livro do autor. Aqui, ele volta a usar a fórmula chata, artificial e cansativa de quatro passos -- após a tentativa de se afastar dela em Will & Will. Aqui, nós conhecemos uma garota que sofre com TOC e não consegue se relacionar de maneira saudável com outras pessoas. No entanto, a sua vida começa a mudar quanto ela passa a investigar o sumiço de um vizinho e começa a se relacionar com seu filho.
O livro até poderia render uma boa história -- afinal, Green sofre de TOC e a melhor parte da história são as descrições dos ataques. No entanto, o escritor americano volta a usar as fórmulas de seus livros. A personagem principal e sua melhor amiga são divertidas, mas os seus diálogos são os mais artificiais das histórias de John Green até agora. São rebuscados demais e não condizem com adolescentes de 16 anos. Não funciona e afasta o leitor dessa narrativa.
Há, porém, um abuso exagerado da terceira fórmula: o engrandecimento de detalhes que só servem para emocionar no final. Em Tartarugas até lá embaixo, John Green usa isso a cada minuto da trama, travando a fluidez da história. Se você prestar atenção, logo percebe qual o sentido daquele detalhe na trama como um todo e, consequentemente, descobre como a história irá se desenrolar. Atrapalha -- e muito -- a leitura, deixando o livro emperrada em recursos narrativos pobres.
Ao final, há um sentimento amargo de que John Green não consegue se reinventar. Tartarugas até lá embaixo conta com boas descrições dos efeitos do TOC, mas insiste em não criar uma boa trama e ficar preso nessa “fórmula literária”. Assim, seu novo livro não emociona como A Culpa é das Estrelas, não é tão bom quanto Quem é você, Alasca? e não sai da fórmula como Teorema Katherine. É um livro irregular como Cidades de Papel. Falta criatividade para John Green.
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