O Especial de Natal se tornou uma das mais importantes e esperadas produções do Porta dos Fundos. Te Prego Lá Fora, que estreou no Paramount+ neste 15 de dezembro, é mais marcante ainda por se tratar do início da comemoração de 10 anos desse canal do YouTube que também se tornou uma grande empresa. O humorista Fábio Porchat contou, em coletiva de imprensa realizada esta semana, sobre o quão gratificante e, ao mesmo tempo, desafiador foi realizar esse projeto, uma vez que se trata de uma animação — algo que o Porta dos Fundos jamais havia feito antes.
Em um curta-animado de meia hora, vemos o adolescente Jesus (Rafael Portugal) precisando se adequar ao novo ambiente escolar, pois se sentia excluído na outra escola por ser muito diferente dos colegas. No entanto, neste novo lugar não será diferente. Em meio a figuras históricas como Herodes, Madalena, Barrabás e Lázaro, Jesus terá de provar que não é o que as pessoas pensam dele.
O humor exagerado segue o estilo semelhante à série animada South Park, onde o foco está nas piadas predominantemente sujas e satíricas. Com isso, Porchat enfatiza o quanto gostaria de fazer algo que fosse possível apenas em animação, seguindo o “mesmo humor escroto”, como ele mesmo descreve, que o Porta dos Fundos adora fazer.
Te Prego Lá Fora se joga na proposta de ridicularizar os high schools norte-americanos, porém com a proposta de abordar “uma história muito atual que acontece nas escolas brasileiras”, diz Christian Rôças, CEO do Porta dos Fundos. Ele e o produtor Cazé Pecini enfatizaram o quanto "jogar luz sobre a adolescência de Jesus nesse momento em que estamos vivendo é importantíssimo".
Um dos principais objetivos desse especial animado é promover essa reflexão sobre a fase difícil da adolescência e como ela afetou, ou ainda afeta, cada um de nós. Afinal, Jesus também foi criança e adolescente antes de se tornar um homem. "Gosto de pensar o lado humano das pessoas e porque não Jesus? Jesus também foi adolescente, passou pelas agruras que todos nós passamos", diz Fábio Porchat.
Além disso, a animação usa do humor estapafúrdio para brincar com diversos elementos do catolicismo e suas figuras históricas. Ninguém se salva, nem mesmo Deus, representado aqui como uma mistura de deuses de outras mitologias. Os outros personagens desempenham papéis caricatos em um colégio, como o atleta valentão, o melhor amigo nerd e o diretor que manda em tudo. Em um ritmo acelerado, muita coisa acontece ao mesmo tempo, sendo cada cena um compilado de piadas referenciando a religião católica.
Desafios e polêmicas
Obviamente, polêmicas não faltam quando se trata de Porta dos Fundos e religião. O especial mal lançou e a empresa já está sendo alvo de ação na Justiça por grupos evangélicos. Para Porchat, não é algo que incomoda, porque já virou costume o 'Porta' receber enxurradas de críticas a cada conteúdo que trata de religião, principalmente a cristã.
No entanto, algumas palavras de Porchat valem muito a pena a reflexão. "Quando a gente faz piada com a maior religião do país, estamos rindo e brincando com pessoas que não se importam com quem são", diz. Nesse momento da coletiva o comediante estava falando sobre rir de quem não sofre preconceito. No Brasil, o cristão ou evangélico nunca é motivo de piada, muito menos sofre de discriminação por parte da sociedade.
Porchat ainda diz: "a gente ri de quem tá batendo, e não de quem tá apanhando", fazendo alusão a quem tem poder no Brasil não dar voz às minorias, mesmo elas sendo maioria. A sátira envolvendo a elite está fortemente presente neste especial, lembrando muito o que vemos no filme Jojo Rabbit, de Taika Waititi.
O grande desafio desse especial do Porta dos Fundos não é deixar os cristãos nervosos, mas sim promover reflexões através do humor, de tal forma que apenas uma animação consegue fazer. Como diz Pecini, "esperamos que as pessoas se divirtam e reflitam da forma como estão usando os seus poderes".
Comments