A série Investigação Criminal é uma produção de 2012, do canal A&E, mas que ganhou uma nova chance fazer barulho, em 2018, com a compra dos direitos de exibição pela Netflix. E a compra é justificada: ainda que seja amadora em aspectos técnicos, Investigação Criminal consegue ir além e aprofundar a história de grandes crimes brasileiros, como o dos Nardoni, dos Richthofen, de Mércia Nakashima e do cartunista Glauco.
A proposta é simples: em formato de série documental, a produção coloca pessoas relacionadas ao crime em questão para falar na frente das câmeras sobre os bastidores da investigação. Geralmente, ficam em evidência o delegado, o investigador forense e, em alguns casos, o médico legista e um familiar que influiu no processo. São relatos contundentes, geralmente inéditos em seu conteúdo, e que trazem luz à pontos obscuros.
É uma opção óbvia para contar essas histórias, mas deveras arriscada. Afinal, a chance da produção ficar instável é enorme. Dependendo muito dos relatos e dos entrevistados, a série pode ser incrível num episódio, mas cansativa e pouco interessante em outros. E é isso que acontece -- ainda que, felizmente, a maioria dos oito capítulos faça parte do primeiro grupo aqui citado, satisfazendo a audiência com bons relatos e boas histórias nas entrevistas.
Os três primeiros episódios, por exemplo, são excelentes. O caso dos Nardoni, ainda que tenha uma repetição exagerada da simulação do crime feita em computador, flui em sua narrativa e acrescenta aspectos interessantes e pouco explorados à época dos crimes -- como a falta de organização na casa, a reação inicial de Alexandre Nardoni e os furos que foram surgindo na história contada por ele e Ana Carolina Jatobá. É como entrar na mente dos dois.
O único erro é a veiculação de fotos de partes do cadáver de Isabella repetidas vezes. Uma vez ou outra, tudo bem. A repetição disso, porém, acaba se tornando exploratória.
Depois, o grande ponto alto de toda a série: o episódio sobre o duplo assassinato cometido por Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinho. Bem dosado e muito bem explorado com os entrevistados, é um episódio que choca mesmo após quase duas décadas do crime. Parte desse acerto está no aprofundamento de aspectos psicológicos de Suzane -- algo que é visto, depois, apenas no capítulo sobre a morte de Glauco e do Maníaco do Parque.
Já o da Mércia tinha tudo pra dar errado. Só tem, praticamente, o depoimento do delegado Olim e do irmão da vítima. Mas, graças à boa disposição do policial e de algumas imagens de acervo interessantíssimas que mostram Mizael -- o criminoso -- sendo interrogado, o ânimo com o episódio volta a aparecer e o interesse com o caso reacende.
Um dos episódios mais fracos, infelizmente, é sobre a morte do cartunista Glauco pelo assassino Cadu. O delegado encarregado do caso é extremamente prolixo e não consegue explicar as coisas com calma e de maneira clara. Fica tudo muito confuso, sobrecarregado e, ao final, parece que várias informações fugiram pela falta de didatismo -- algo parecido com o dos crimes da Oscar Freire, que é interessante, mas esquecível.
O grande ponto alto da série -- depois da trinca de bons episódios iniciais -- fica a cargo do assassinato de Ives Ota. Com um roteiro bem escrito, o episódio chega a causar certo suspense e tem uma emoção fortíssima com o depoimento do pai. É forte, emocionante e difícil de aceitar.
O episódio assustador e revoltante sobre o Maníaco do Parque, então, fecha a produção com chave de ouro. Bem mais rico tecnicamente do que os outros sete episódios, o capítulo final deixa um gosto de "quero mais". Isso só prova como é uma série interessante e que, mesmo batido em alguns pontos e com problemas técnicos, causa interesse pelos pontos obscuros desses crimes que tanto chocaram o País. Agora, só aguardar mais episódios.
* Procurado pelo 'Esquina', o diretor da série, Beto Ribeiro, esclareceu que alguns episódios de 'Investigação Criminal' não estão disponíveis na Netflix neste momento para não ter confusão com uma outra série da produtora, 'Anatomia de um Crime'. Nas próximas temporadas, porém, todos episódios serão disponibilizados.
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