No início de 2017, o grupo editorial Planeta investiu em algo pouco certo. Eles lançaram, de maneira discreta, o livro de poemas Outros jeitos de usar a boca, da escritora indiana Rupi Kaur. Porém, o que tinha tudo para dar errado se tornou um fenômeno editorial e o livro se tornou um best seller brasileiro com 100 mil cópias vendidas. Agora, a estratégia para 2018, quando o grupo espanhol completa quinze anos, é seguir a linha de Rupi Kaur e apostar na diversidade.
Para ter uma dimensão dessa guinada ainda maior na diversidade, que é algo que o grupo já indicava há algum tempo, é só ver os principais lançamentos de ficção: sete são escritos ou protagonizados por mulheres, enquanto só três não tem influência direta da figura da mulher. Dois deles, aliás, são filhotes de Outros jeitos de usar a boca. Um é uma reunião de poesias de Rupi, O Que o Sol Faz Com as Flores. O outro é Tudo Nela Brilha e Queima, da poeta Ryane Leão.
“Penso no meu livro como uma ferramenta de amor próprio”, disse a cuiabana Ryane, de 29 anos, durante apresentação do catálogo da editora à imprensa. “E falo do amor não só do jeito que conhecemos. Falo de amor de diferentes maneiras, para que a gente possa ter uma identificação.” O livro de Ryane, assim como a nova aposta da editora em poesias e ilustrações de Rupi Kaur, já podem ser encontrados nas livrarias por serem lançamentos do primeiro trimestre.
Indo mais além na ficção, a Planeta também está apostando numa trama policial escrita por uma ex-agente da CIA, Karen Cleveland. No livro Preciso Saber, ela conta a história de uma agente do departamento de contra inteligência da CIA que tem como tarefa desvendar células infiltradas de inimigos russos nos EUA. Porém, no meio das descobertas que faz, acaba encontrando algo que a deixa perturbada. John Grisham aprovou e é sucesso de vendas lá fora.
Outras duas apostas são as mais interessantes, a meu ver. A primeira é o thriller Canção de Ninar, que tem recebido destaque na imprensa e, em breve, terá resenha aqui no Esquina. Ele conta a história de uma babá que mata as duas crianças que ficam sob seus cuidados. A autora foi considerada uma das 50 francesas mais importantes do mundo. Vale conferir. A outra aposta feminina é O Caminho de Abraão. Ainda que seja escrita pelo jornalista Jamil Chade, tem uma personagem feminina forte que se vê em meio a guerra na Síria. Parece interessante.
Por fim, dentro os destaques, está a obra de ficção científica O Poder, que foi recomendada por Barack Obama há algum tempo. Escrito pela militante e intelectual Naomi Alderman, o livro cria uma distopia feminista e imagina como seria o mundo se as mulheres pudessem controlar todos com eletrochoques saídos da palma da mão. A discussão é interessante e ecoa com as outras pautas abordadas não só pela editora, mas também pela sociedade nos últimos tempos.
Outras apostas. As novidades mais interessantes da Planeta já estão listadas acima, mas mais coisas foram apresentadas pela editora. Novos livros da trinca de pensadores pop do momento -- Cortella, Pondé e Clóvis de Barros Filho -- devem chegar às livrarias ao longo dos próximos meses. Novos relatos de não-ficção da Monja Coen, sempre presente na lista de mais vendidos, e do Papa Francisco também estão dentre os lançamentos. O pontífice, aliás, vai investir dessa vez num livro que analisa a oração do Pai-Nosso. Boa ideia do Papa.
Para encerrar, há um interessante lançamento no gênero do horror -- pouco visitado pelo grupo espanhol. É a história Dracul, escrita pelo bisneto de Bram Stocker e que recupera um relato do próprio autor de Drácula -- que, segundo os boatos, foi vetado na época de Bram por ser perturbador demais. A arte apresentada para o livro desanima, mas a trama parece boa. Vamos acompanhar!
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