A escritora britânica Mary Shelley aceitou participar de um desafio com John Polidori, Percy Shelley e Lord Byron para escrever uma história de horror. Alguns dias depois, Shelley -- que viria a se casar com Percy, aliás -- apresentou os manuscritos de Frankenstein, ou o Prometeu Moderno, obra que viria a imortalizar Mary Shelley, tornado-a a "mãe da ficção científica", além de consolidar o gênero do horror como um dos principais estilos literários da história.
"Frankenstein entrega à cultura uma criatura icônica", afirma, ao Esquina, Maira Lot Micales, publisher da Edipro, que já lançou uma edição da história no mercado brasileiro. "São inúmeras as adaptações da obra para o teatro, o cinema, os quadrinhos, os games etc. É uma história dramática, que foge de maniqueísmos, e que se tornou uma verdadeira obra prima."
Frankenstein, afinal, também é um marco em outros sentidos. Em primeiro lugar, a obra foi publicada em 1818 numa época em que a sociedade patriarcal ainda era muito forte e as mulheres, na maioria das vezes, ainda eram relegadas aos trabalhos domésticos. Era impensável que fosse escrita uma obra do horror, no período, por uma mulher de apenas 20 anos de idade. Não é à toa que Frankenstein, em sua primeira versão, foi publicada de forma anônima -- ainda que algumas pessoas acreditem que seja pela fama dos pais de Shelley.
Além disso, a obra da escritora britânica, mesmo passados dois séculos, continua com discussões extremamente atuais. "Clássicos literários têm como valor colocar em discussão temas centrais da natureza humana, mantendo-se relevantes séculos após sua criação. É o caso de Frankenstein", continua Micales. "Ao tratar de temas como o poder do homem sobre a natureza, os conflitos éticos na busca pelo conhecimento ou até mesmo a rejeição, Shelley criou uma obra que trata de valores universais e capaz de dialogar com o leitor de qualquer época."
Para conseguir isso tudo, Shelley usou a literatura da forma mais elegante e grandiosa possível. A construção do monstro, sem nome e como um personagem à margem, mostra como Shelley conseguiu criar mais do que uma história de criador e criatura. O horror, aqui, é o que conduz a narrativa -- afinal, é a história de um monstro! Mas, como muitos autores tentam hoje em dia, ela consegue encontrar o meio termo e conduz a trama para aspectos que vão além, com uma habilidade literária fora do normal para uma pessoa de 20 anos.
E hoje, com as 200 velas em cima do bolo, a obra continua a influenciar a cultura pop. Filmes são produzidos aos borbotões sobre a criatura -- o último foi com Daniel Radcliff, de Harry Potter --, ainda que o grande marco seja a interpretação de Boris Karloff. Séries, livros e programas de TV também aparecem com frequência com uma clara inspiração na obra. É, enfim, uma história que perpassa a história por seu valor de discussão social e literário.
"A beleza da literatura é que ela é inesgotável", diz Micales. "É difícil uma comparação direta entre a literatura de terror produzida hoje e aquela de duzentos anos atrás. O mundo está mais acelerado, já que em menos da metade desses dois séculos, a humanidade viu surgirem o cinema, a TV, o rádio, e logicamente o modo de se contar uma história mudou muito desde o lançamento de Frankenstein. Mas o fascínio presente na descrição dos personagens de grandes obras como esta, continua e portanto o livro tem seu espaço na alma do público."
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