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Amilton Pinheiro *

Festival de Brasília 2017: 'Café com Canela' e o cinema de empatia


O longa Café com Canela, dos diretores Ary Rosa e Glenda Nicácio, foi exibido ontem, 18, no terceiro dia da Mostra Competitiva. O filme atingiu no alvo o coração do público que se envolveu com a afetuosidade do retrato dos personagens e, em particular, das mulheres negras.

O filme conta a história de duas mulheres, Margarida (Valdinéia Soriano), que vive isolada há alguns anos em um processo de loucura por causa da morte do seu filho pequeno. Do outro lado da ponte, na cidade de Cachoeira, Violeta (Aline Brunne), ex-aluna de Margarida, lida alegremente com seu cotidiano – cuidar da avó, dos filhos, chamegar com seu marido, vender suas coxinhas e sair com as amigas para beber uma cervejinha em um bar. Em torno de Violeta, convive seus clientes, um casal de homossexuais e uma amiga que não para de pensar em homem.

A força e a empatia do filme com o público vêm desses personagens em torno de Violeta -- engraçados, com suas expressões linguísticas locais. Café com Canela se desenvolve em dois tempos, no passado, quando Margarida é mostrada no aniversário do filho pequeno que morreu, e no presente, mostrando o dia a dia de Violenta, seus vizinhos e Margarida agora mais velha, mergulhada num processo de loucura.

Um dos méritos dessa edição do Festival de Brasília é trazer filmes de diversas regiões, com propostas estéticas e de conteúdo diversificado, mostrando a riqueza cultura e étnica do povo Brasileiro. É nessa riqueza cultura e étnica que Café com Canela se fortalece, com personagens afetuosos e engraçados, que se assemelham aos apresentados no filme Ó Pai Ó, de Monique Gardenberg, de 2007. Contudo, as escolhas estéticas do filme se mostram na maior parte das vezes amadoras e equivocadas

Os diretores de Café com Canela optam em narrar a história entrecortando passado e presente, com uso excessivo de imagens de VHS, do aniversário do filho de Margarida. Ora os planos são longos, ora as imagens são picotadas demais. A câmera algumas vezes é colocado de forma subjetiva, que em nada acrescenta ao ritmo da história, virando um cacoete e explicitando o amadorismo da direção, como na cena da morte do companheiro do personagem de Babu Santana, em que a câmera de repente é colocada como se fosse o olhar do cachorrinho do casal.

Outro elemento excessivo do filme é a trilha sonora, usada de forma desnecessária em algumas cenas, dispersando a sua carga dramática por conta da sua redundância narrativa. Café com Canela é uma comédia dramática com toques do gênero horror, quando vai dar conta do processo de loucura de Margarida. Se em O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, o gênero terror amplifica e cria tensão naquela história, em Café com Canela mostra ainda mais seu amadorismo, com exceção da cena em que a Margarida diante do espelho é visitada por um orixá.

Um filme irregular, que é mostrando em alguns momentos amadoristicamente, mas que é necessário de ser visto por dar voz, significância e cores a personagens marginalizados na nossa cinematografia brasileira.

* Amilton Pinheiro é crítico de cinema, repórter de cultura e enviado especial do Esquina para o Festival de Brasília

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