Após um ano sabático, um dos principais eventos de HQs independentes está de volta. O Ugra Fest chega à São Paulo nos dias 8 e 9 de julho com o mesmo objetivo desde 2011, quando foi criado: democratizar o acesso aos quadrinhos nacionais. Para isso, o evento contará com feira de expositores, palestra, oficinas, debates, exposições e atividades exclusivas para as crianças, além de reunir os principais nomes de HQs do País.
Dentre destaques desta edição do festival, está exposição dedicada ao artista Marcatti, um dos principais da cena independente e que acaba de completar 40 anos de carreira. Ali, segundo os organizadores, será possível ver várias interpretações de sua personagem mais famosa, o Fráuzio, em um exercício criativo e que já foi feito para as personagens de Maurício de Souza: vários artistas brasileiros fazem releituras do desenho, mostrando como seria Fráuzio em seus traços. Uma atividade divertida e indispensável para os fãs de Marcatti.
Outro destaque na programação é o olhar atento sobre as mudanças políticas no País e como isso afetou a cena independente dos quadrinhos. Assim, como o debate "Quadrinhos para Momentos de Turbulência: Abordagens Políticas na HQ Brasileira Contemporânea", o Ugra Fest busca mostrar que os quadrinhos já se tornaram reflexos do dia a dia. “A programação estimula não apenas o consumo de quadrinhos, mas a produção de um pensamento", afirma Douglas Utescher, organizador do evento, ao Esquina. "É isso que queremos mostrar."
Para entender um pouco mais sobre o festival e saber sobre o que mais virá por aí, o Esquina falou com Douglas e, abaixo, você pode conferir a entrevista completa:
Esquina: Fale um pouco mais do Ugra Fest. Como foi a elaboração do festival e o que vocês pretendem nesta nova fase.
Douglas Utescher: O Ugra Fest chega agora à sua sexta edição. O evento começou bem pequeno, em 2011, numa época de relativo marasmo na cena de publicações independentes. Ainda se falava muito sobre a tal "morte do impresso" e boa parte da comunidade zineira acreditava estar com os dias contados. De lá para cá muita coisa mudou, houve uma forte revitalização deste meio e o Ugra Fest cresceu junto. As 3 últimas edições aconteceram no Centro Cultural São Paulo e agora nos preparamos para nossa primeira edição no Sesc Belenzinho.
Definir a programação do evento é sempre uma das partes mais difíceis e prazerosas do processo. Desde o início, temos a pretensão de que o Ugra Fest seja, além de uma bela feira, um momento de reflexão e troca de idéias, abordando temas relevantes com convidados interessantes. Não apenas nomes famosos, mas pessoas que tenham algo a dizer. Detectar quais são as pautas quentes para o momento, fugir de clichês e não soar repetitivo são desafios que crescem a cada nova edição. Mas estamos muito animados, acho que a programação deste ano é a melhor que já tivemos.
O Ugra Fest passou por uma reformulação. Qual o motivo? O que levou vocês a se reformularem?
Essa edição evidencia uma característica que já vinha se acentuando nas últimas edições, que é o papel central dos quadrinhos no Ugra Fest. Até a última edição, o evento se chamava Ugra Zine Fest, pois quando começamos a ideia era realmente fazer algo mais voltado aos zines. Neste meio tempo, uma nova geração de editores surgiu e deu aos zines uma cara bem distinta da que eles tinham antigamente. Esse novo zine é mais artístico do que informativo, algo entre o portfólio e o livro de artista, e foi muito bem acolhido por eventos como Feira Plana, Tijuana e Miolo(s).
Os quadrinhos independentes e autorais, no entanto, ainda não tinham em São Paulo um evento que os colocasse no centro das atenções. Como desde o início temos uma grande proximidade com esta produção – que também é o foco da nossa loja e da nossa editora – resolvemos escancarar esse posicionamento. Ainda há espaço no Ugra Fest para iniciativas que não sejam de quadrinhos, sempre haverá. Mas a maior parte da feira e da programação será voltada para as HQs.
Qual a importância de um festival para celebrar os quadrinhos independentes no Brasil?
Os quadrinhos nacionais vivem uma de suas melhores fases. Nunca se produziu tanto e com propostas tão diversas. Persistem, porém, as dificuldades com distribuição, divulgação e formação de público. Iniciativas como o Ugra Fest dão uma força importante neste sentido. Também entendemos que o debate e a reflexão fazem parte de um processo de amadurecimento tanto do público quanto dos artistas e são ferramentas essenciais na exploração do potencial de uma forma de arte tão rica quanto os quadrinhos.
Na semana passada, conversei com Carlos Ruas e ele disse que o caminho é a publicação independente, seja por financiamento coletivo ou colocando do próprio bolso. Você concorda? Acredita que este é o caminho a HQ nacional?
Acho que é um caminho, mas não o único. O mais importante é o autor ter os pés no chão e clareza de seus objetivos.
A questão é que vivemos num país que tem poucas editoras e poucas livrarias, e neste circuito mais "convencional" não há espaço para acomodar todo mundo que está produzindo. Ao invés de esperar pacientemente por uma chance que talvez demore muito para chegar, os artistas arregaçam as mangas e dão um jeito de viabilizar seus projetos. Além disso, muitos quadrinistas enxergam no independente a oportunidade de ter controle criativo total sobre seu trabalho.
Tudo isso é verdade. Por outro lado, produzir por conta própria gera um grande volume de trabalho que nada tem a ver com fazer quadrinhos: cuidar de divulgação, de vendas online, de fazer e postar pacotes, de tratar com pontos de venda e ter certeza que estão te pagando direitinho... Considerando que a maior parte dos autores de quadrinhos divide o tempo com outras atividades profissionais, essa trabalheira toda pode virar um problema. Ironicamente, pode consumir justamente o tempo que seria dedicado à criação de novas HQs. A figura do editor – o sujeito que acompanhará o projeto desde o início, que dará uma segunda opinião e eventualmente interferirá no trabalho – também pode ser extremamente benéfica em muitos casos.
Reitero: o mais importante é ter os pés no chão e clareza dos objetivos. Nomes como Marcatti, Luciano Salles, Camilo Solano e o casal Cristina Eiko e Paulo Crumbim se dão muito bem produzindo de forma independente. Mas temos também editoras como Mino, Veneta, Nemo, Zarabatana, Balão e Draco fazendo trabalhos excepcionais com as HQs.
Qual sua expectativa para o festival?
Esperamos que tanto o público, quanto os expositores e os convidados tenham um final de semana memorável. Que conheçam coisas novas, que façam contatos e que voltem para casa inspirados!
Endereço: SESC Belenzinho. R. Padre Adelino, 1000.
Data: 8 e 9 de julho.
Ingresso: Gratuito.
Horário: 10h às 20h.
Programação completa: ugrafest.com.br
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