Em 1978, ia ao ar, na Rede Globo, o seriado Ciranda Cirandinha. A produção retratava os conflitos geracionais de quatro jovens vividos pelos atores Fábio Júnior (Hélio), Lucélia Santos (Tatiana), Denise Bandeira (Susana) e Jorge Fernando (Reinaldo). Em um dos episódios, Hélio cantava, no sofá no apartamento que eles viviam, a música Pai, que Fábio Júnior tinha composto para seu progenitor – que seria assassinado em 1983. O sucesso da música foi imediato, a ponto da canção ir parar na abertura da novela Pai Herói, escrita por Janete Clair e protagonizada por Tony Ramos e Elizabeth Savalla em 1979. Começava o estrelato do ator e cantor Fábio Júnior, que seria consolidado na década seguinte com uma novela atrás da outra, discos e seus grandes hits (Pai, Felicidade, Alma Gêmea, O Que Que Há, Caça e Caçador, entre outras).
Mas a história artística de Fábio Júnior já tinha começado há algum tempo, nos meados dos anos 1960, quando ele formou o grupo Os Namorados com mais dois irmãos, incentivados pela mãe. Depois, o grupo ainda seria chamado de Bossa 4 e Arco-Íris, até se acabar. “Ah caramba! Nós três adoramos essa coisa de cantar, tocar, nossa mãe era professora de piano, convivíamos com música em casa, foi uma fase bem bacana, foi um aprendizado e uma grande experiência”, lembra o artista nesta entrevista exclusiva por e-mail para o Esquina.
Com o fim do grupo musical com os irmãos, Fábio Júnior foi tentar a carreira solo. Era um sonho acalentado há muito tempo, da época que ajudava o pai na banca de revistas que ele tinha, e ficava olhando as fotos dos artistas nas capas “e sonhando que um dia estaria ali".
Persistência e “sem limites para sonhar”, Fábio Júnior chegou a cantar músicas em inglês quando, no início dos anos 1970, alguns cantores brasileiros enveredaram na língua de William Shakespeare, chegando a fazer sucesso nas paradas. Foi nessa época que ele ficou conhecido artisticamente como Mark Davis e emplacou a balada Don´t Let Me Cry, em 1973. “Essa fase de Mark Davis era engraçada. Tinham vários cantores na época que cantavam em inglês, mas nós não falávamos nada de inglês”, recorda animadamente.
Foi com essa bagagem e certeza do sucesso que Fábio Júnior soube aproveitar as oportunidades que surgiram no final dos anos 1970, que o transformaria no galã de novelas como Cabocla, Água Viva, Louco Amor, Roque Santeiro e Pedra Sobre Pedra, e no cantor de músicas românticas, chegando a ser considerado o substituto legitimo de Roberto Carlos. “O Roberto é o Roberto…”, desconversa.
Entre casamentos atribulados, apresentador de programa de tevê e cantor dos hits – a carreira de ator ficou em segundo plano –, Fábio Júnior comemora mais de quatro décadas de carreira sem arrependimentos, inclusive em relação aos casamentos mal sucedidos. “Quando olho para trás e vejo tudo que conquistei na minha carreira até hoje, me sinto feliz”.
E é com essa felicidade que diz sentir hoje que ele percorre o Brasil com a turnê O Que Importa é a Gente Ser Feliz, que chega em São Paulo neste sábado, 27, no Tom Brasil. Seguem os principais trechos da entrevista.
Esquina da Cultura: Apesar de ter conciliado a carreira de cantor com a de ator, principalmente no final dos anos 1970, você não fez mais cinema – ainda que tenha começado bem no filme Bye Bye Brasil, do diretor Cacá Diegues, em 1979, ao lado de Betty Faria e José Wilker. Depois disso, o seu único trabalho foi Qualquer Gato Vira-Lata 2, somente em 2015. O que fez te afastar das telonas?
Fábio Júnior: É engraçado isso. Realmente comecei no [filme] Bye Bye Brasil, que foi maravilhoso para minha carreira, e só vim fazer cinema novamente agora, em 2015. As coisas foram acontecendo na minha carreira, eu não planejo muito, deixo me levar. As novelas e as músicas foram acontecendo ao longo da minha trajetória, e assim o cinema ficou um pouco de lado.
Esquina: Você começou como cantor ao lado dos irmãos nos anos 1960 no grupo que se chamou Os Namorados, Bossa 4 e Arco-Íris. Fale como foi essa experiência ao lado deles. E de como surgiu a necessidade de fazer uma carreira solo?
FJR: Ah caramba! Nós três adoramos essa coisa de cantar, tocar. Nossa mãe era professora de piano, convivíamos com música em casa. Foi uma fase bem bacana, foi um aprendizado e uma grande experiência. A carreira solo foi uma consequência. Os meus irmãos acabaram deixando de lado a vida artística, mas eu nunca desisti do que eu queria.
Esquina: Outra faceta da sua carreira foi a de apresentador, quando comandou o programa Hallelluyan! ao lado do cantor Sílvio Brito na extinta TV Tupi. Entre 1999 e 2001, você apresentou um programa no TV Record. Na ocasião, você disse que gostaria de continuar apresentando, mas que não era possível diante de tantas mudanças que o programa sofreu, que o descaracterizava constantemente. Hoje aceitaria voltar a apresentar algo no formado original do que você fez na TV Record?
FJR: Não penso nisso agora. Quando apresentei o programa na Record foi muito legal, eu curti bastante, mas agora estou em outro momento da minha carreira, estou mais focado na música e nos shows.
Esquina: Sua carreira é cheia de curiosidades, como a de cantor de músicas em inglês, quando usava o pseudônimo de Mark Davis. Fale um pouco pra gente dessa fase. E você não pensou em gravar um disco em inglês quando se consolidou como cantor nos anos 1980?
FJR: Essa fase de Mark Davis era engraçada. Tinham vários cantores na época que cantavam em inglês, mas nós não falamos nada do idioma (risos). Fazíamos a letra rimando "together com forever” e assim fazíamos as músicas (risos).
Esquina: Sua vida pessoal pode ser considerada bem movimentada, quando olhamos seus diversos casamentos -- sete, se a pesquisa não estiver errada. Você acha que isso atrapalhou por algum motivo sua carreira, já que teve que se isolar do noticiário? Como hoje você enxerga esses casamentos, um deles durou apenas três meses?
FJR: Não me atrapalharam em nada. Minha vida pessoal não interfere na minha carreira e vice versa. Não me incomodam os comentários. Estou aqui para mostrar meu trabalho, minha música. É isso que vim fazer aqui.
Esquina: Você consideraria que seu personagem na novela Roque Santeiro, em 1985, ao lado de Lima Duarte, Regina Duarte e grande elenco, foi seu auge na carreira de ator. Por que você abandou uma carreira que se mostrou tão cheia de êxito? Pensa em voltar?
FJR: Graças a Deus tive a oportunidade de fazer grandes personagens na minha carreira e a honra de contracenar com grandes atores como o Lima e a Regina. O Roberto Mathias foi um marco na minha carreira de ator, assim como o Jorge Tadeu de Pedra Sobre Pedra. Eu sinto saudades de atuar, quem sabe não volto por aí (risos).
Esquina: Você chegou a ser considerado o sucessor de Roberto Carlos quando começou a emplacar diversas músicas românticas, verdadeiras baladas, como Caça e Caçador, Alma Gêmea, O Que Que Há, Felicidade, entre outras. Qual o balanço que você faz dessa carreira de mais de quatro décadas? Em algum momento se viu como sucessor de Roberto Carlos?
FJR: O Roberto é o Roberto… Quando olho para trás e vejo tudo que conquistei na minha carreira até hoje, me sinto feliz. Lembro de quando eu trabalhava na banca de jornal do meu pai e ficava olhando aquelas capas de revistas e sonhando que um dia eu estaria ali. E olha onde eu cheguei! Isso é emocionante. Por isso sempre digo, nunca desista dos seus sonhos!
Esquina: Seu show no Tom Brasil, neste sábado, comemora os 40 anos de carreira -- data que já passou -- e traz o repertório de grandes sucessos. Se poderia pensar que você acomodou a carreira por causa de tantos hits. Quando virá um show em cima de trabalhos inéditos? Tem algum disco com inéditas em andamento?
FJR: Acomodar nunca! Estou sempre buscando coisas novas. Estou preparando algumas novidades para este ano, aguardem…
Esquina: Como você analisa a música brasileira hoje, dividida entre gêneros de massa, que se retroalimentam, como o sertanejo, forró eletrônico, funk, pagode e afins?
FJR: Primeiro, eu acho que tem espaço pra todo mundo. Você só precisa fazer com qualidade e trabalhar muito para conquistar seu espaço. É preciso analisar o que quer para a carreira. É muito trabalhoso construir uma carreira com base na qualidade. No Brasil nós temos muitos talentos e muitos ritmos que o brasileiro sabe fazer muito bem. Brasileiro tem muito talento.
Esquina: Em setembro de 2015, no Brazilian Day em Nova York, você chegou a fazer duras críticas ao que estava acontecendo no Governo da presidente Dilma Rousseff, antes do impeachment, a Lula, a José Dirceu e ao PMDB, questionando o que estava acontecendo no País da “Ordem o Progresso”, que para você era “Desordem e Roubalheira”. Com a saída de Dilma Rousseff, o que você diria do Governo do Michel Temer e seu lema “Ordem e Progresso”?
FJR: É só ver como o país se encontra. Está tudo certo? Todo mundo bem, temos educação, saúde, alimentação, emprego, moradia para todos? Isso responde sua pergunta.
SERVIÇO:
O Que Importa é a Gente Ser Feliz
Local: Tom Brasil. Rua Bragança Paulista, 1281 – Chácara Santo Antônio. São Paulo/SP
Data: 27/01/2018 . Horário de início do show: 22h
Preço: De R$ 80 a R$ 220
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