Fascinada pela diversidade de pessoas, coisas, comidas e pelo movimento caótico e frenético, a fotógrafa Dani Tranchesi sempre gostou de visitar e registrar mercados e feiras livres em suas andanças pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo de 2020, durante a pandemia, ela percorreu feiras livres de São Paulo registrando espaços e pessoas. O resultado pode ser visto em 3 é 5, projeto inédito, desdobrado em exposição, curta-metragem e livro que será apresentado em 16 de agosto na abertura do Estúdio 41, novo espaço cultural de São Paulo voltado à reflexão e discussão sobre fotografia.
Durante a pandemia, as feiras livres - quase como locais de resistência - eram alguns dos poucos lugares que não pararam de funcionar. Este fato, aliado ao fascínio que a fotógrafa nutria pelo tema, fez surgir naturalmente o projeto de 3 é 5, título que remete à comum fala dos feirantes na hora da xepa para atrair os clientes.
Para Diógenes Moura, curador de projeto 3 é 5 e diretor artístico do Estúdio 41, o livro mostra que a feira é um lugar de resistência e consegue se manter diante de um mundo onde tudo se tornou online. “Tem um potente apelo visual, mudanças constantes de luz, personagens muito particulares, várias histórias, muitos detalhes, também alguns mistérios e segredos. Para a palavra e para a imagem, que é o universo ao qual me dedico como escritor e curador, a feira é um mundo muito próximo ao de uma ópera”, ele afirma.
A exposição traz ao público uma seleção das 95 imagens que compõem o livro. 3 é 5 não somente documenta a montagem e desmontagem de uma feira livre, mas principalmente seus personagens, feirantes e fregueses, e a movimentação frenética e caótica.
O livro, que tem edição da Vento Leste Editora, é organizado a partir de três momentos. No primeiro, começando com a feira ainda na madrugada, sem a presença frenética dos fregueses, traz a montagem da feira e imagens do dia amanhecendo e alguns poucos transeuntes. No segundo, os feirantes se tornam protagonistas ao posarem em um estúdio improvisado em alguns pontos da feira.
“É quando se revelam para além da dureza do trabalho cotidiano, virando atores de uma ópera encenada ao acaso. É uma maneira de torná-los existentes para além da resistência intrínseca da atividade que exercem”, explica Dani Tranchesi, sobre colocá-los posando num estúdio improvisado.
A terceira e última parte da publicação traz um material extra, com registros dos fotogramas do curta-metragem do cineasta Pedro Castelo Branco. São imagens em preto e branco que fogem do habitual making off e se revelam uma obra complementar e distinta do livro.
Com seu preto e branco, e uma trilha sonora orgânica, que vai de um compositor clássico como Johannes Brahms ao Quinteto Armorial, e usando o Cinema Direto como linha narrativa, o filme expõe o ofício de um feirante que precisa trabalhar em meio a uma pandemia, mas não deixa de fabular sobre os personagens com o humor ao mostrá-los abordando os fregueses com suas falas peculiares. “Minha intenção, desde o começo, foi de captar a atmosfera da feira, fazendo com que o espectador se sinta parte daquele espaço caótico e cativante”, explica o diretor.
3 é 5 vem acompanhado, ainda, de dois QR Codes que dão acesso aos textos que o curador Diógenes Moura realizou para o projeto: A Ópera, Os Olhos, O Beijo, O Plural e Os Nomes.
Estúdio 41
Um espaço voltado à reflexão e discussão sobre o fazer artístico da fotografia. Esse é o mote do Estúdio 41, projeto que ocupa o conjunto 41 do prédio 1254 da Rua Pedroso Alvarenga, no Itaim Bibi, zona sul de São Paulo. Com direção artística do curador e escritor Diógenes Moura e comandado pelas sócias Dani Tranchesi e Paula Rocha, o novo espaço cultural vai apresentar projetos de fotógrafos emergentes e consagrados em uma programação de exposições, exibição de filmes, lançamento de livros e conversas sobre a linguagem fotográfica.
“O espaço nasce do desejo de mostrar a obra fotográfica de artistas das mais diversas gerações e estilos, e fomentar a produção de novos talentos. Não vamos funcionar como uma galeria, mas sim trabalhar em diálogo e parceria com esses espaços, além de instituições e outros projetos independentes”, conta Dani Tranchesi. “A ideia é ser um espaço de reflexão e também um motor, um ponto de difusão da prática fotográfica”, complementa Diógenes Moura.
A programação de 2021 trará exposições de nomes como Luciano Candisani, fotógrafo em atividade há duas décadas e autor de narrativas que interpretam culturas tradicionais e ecossistemas ao redor do mundo; exibição do documentário Equivalências: aprender vivendo, da emblemática Maureen Bisilliat, fotógrafa e documentarista inglesa radicada há mais de sete décadas no Brasil; e lançamento do livro 3 é 5, publicação de Dani Tranchesi que reúne imagens captadas ao longo de 2020 em feiras livres de São Paulo.
Sobre Dani Tranchesi
Fotógrafa, participou de diversas exposições coletivas e individuais, entre as quais, Cuba antes dos Stones e Caixa Clara e Lindo Sonho Delirante. Esta última, também foi apresentada em forma de livro, é o resultado de um ano de pesquisa e estudos ao lado do escritor, curador e editor Diógenes Moura e reúne imagens produzidas em São Paulo, na Ilha de Marajó e Belém, no Pará, entre 2018 e 2019. Trata de humanidades ao reunir o homem urbano, com seus dias entre a fuligem e o asfalto, e os habitantes das águas doces, sempre dispostos a contar as estrelas.
Sobre Diógenes Moura
Nascido em Recife, Pernambuco, atualmente vive e trabalha em São Paulo. É escritor, curador de fotografia, roteirista e editor independente. Em 2020, realizou O Olhar Não Vê, O Olhar Enxerga e Não Danifique os Sinais, mostras de longa duração a partir do acervo do Museu da Fotografia de Fortaleza. Nesse mesmo ano foi curador da exposição e editor do livro Lindo Sonho Delirante, da fotógrafa Dani Tranchesi, realizada na Galeria Estação. Em 2018, fez a pesquisa e curadoria de Terra em Transe (concebido especialmente para o Solar Foto Festival, Fortaleza, CE, 2018/2019), exposição que reúne cerca de 500 imagens de 55 fotógrafos brasileiros. Foi Curador de Fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 1999 e 2013. E como Curador de Fotografia recebeu quatro prêmios da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).
Sobre Paula Rocha
Formada em Marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) é produtora de eventos e apaixonada pelo mar e pela fotografia. Entre 2014 e 2016 organizou alguns workshops com fotógrafos profissionais para Índia, Atacama, Salar do Uyuni e Islândia com fotógrafos profissionais. Em 2016 foi curadora da exposição de fotografia de surf: Superfície Líquida na Galeria Fauna.
Serviço:
Inauguração do Estúdio 41
Lançamento do livro 3 é 5, da fotógrafa Dani Tranchesi
Endereço: Rua Pedroso Alvarenga, 1254, cj 41, Itaim Bibi
Funcionamento: Na semana de abertura da exposição 3 é 5, o Estúdio 41 irá funcionar de segunda a sexta, das 13h às 18h e sábados das 11h às 13h com horários agendados pelo Sympla.
A partir do dia 23 de agosto o agendamento será feito através do Whatsapp: 55 11 99452 3308.
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