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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Estrelas Além do Tempo' conta história importante e desconhecida

Atualizado: 11 de jan. de 2022


Todo ano, o Oscar conta com algum filme de menor qualidade -- seja por conta da direção frágil, elenco desafinado ou, ainda, roteiro desastroso. Em 2016, foi a vez de Ponte dos Espiões. Em 2015, Selma: uma luta pela igualdade e Sniper Americano. Agora, em 2017, o badalado filme Estrelas Além do Tempo toma conta desta posição, se tornando um dos filmes menos inventivos e originais da temporada. Mas, mesmo assim, não menos importante.

A história, inspirada em fatos reais, é belíssima: na década de 1960, os computadores ainda estavam em seu início de desenvolvimento. Então, para checar cálculos e fazer tarefas matemáticas simples, a Nasa empregava as "contadoras", mulheres dedicadas, unicamente, a checar e rechecar dados de funcionários da agência espacial norte-americana. E, no centro desta história, estão três mulheres: Dorothy Vaughan (Octavia Spencer), Mary Jackson (Janelle Monáe) e, principalmente, Katherine Johnson (Taraji P. Henson). Assim, vemos a luta destas três mulheres para tentar crescer dentro da Nasa e fora dela, lutando contra a segregação racial que ainda atinge fortemente o estada da Virgínia.

É inegável que é uma história importante, desconhecida e que precisava, urgentemente, ser contada. É um daqueles casos de histórias que precisam chegar às telonas para dar um respiro a quem precisa nos dias de hoje. No entanto, também é inegável que a história precisava de um filme melhor. A começar pelo elenco: Taraji P. Henson, atriz principal, dá desespero. Apesar de atingir uma carga dramática quando é preciso, ela cansa com um sotaque forçado (e mais "cantado" do que o suportável) e com fortes exageros em sua performance -- grande parte por culpa do diretor, que beirou o caricato em várias situações. É uma personagem forte, mas que exige mais atuação, mais drama e mais vida. Faltou.

Coadjuvantes, enquanto isso, beiram o descartável. Octavia Spencer e Janelle Monáe estão esquecíveis. Não entendi o motivo da indicação de Spencer como Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar. É uma atuação burocrática, apenas. Kevin Costner brilha em apenas uma cena, mas que termina de forma ridícula e com uma fala vergonhosa. Jim Parsons (o Sheldon, de The Big Bang Theory) faz um personagem como outro qualquer. Um figurante de luxo.

A direção, de Theodore Melfi, também é sofrível. Poucas cenas emocionam e algumas situações beiram o inacreditável -- como Katherine Johnson levar todas suas pastas para o banheiro. A falta de experiência pode ter sido um complicador, já que Melfi tinha dirigido, apenas, o mediano e pouco inventivo Um Santo Vizinho. Faltou expertise para deixar as histórias mais coesas, verossímeis e impactantes. Afinal, história interessante é o que não faltava neste longa metragem.

O roteiro não possui grandes erros, mas é comportado demais. Assim como A Teoria de Tudo pecou por ser muito quadrado, este filme, por se tratar de espaço, física e astronomia, deveria ter tentado ser mais ousado. Brincar com o tempo, com o ritmo da história, com a forma de ser contada. Deixaria tudo mais condizente com a história delas.

No entanto, é claro, nem tudo é ruim. A edição é muito ritmada e consegue mesclar imagens gravadas e imagens de arquivo com rapidez e sutileza, deixando a história mais verídica. Além disso, a construção de época é boa, com ótimos figurinos e um belíssimo design de produção. E, independente da qualidade do longa, os roteiristas conseguiram pinçar uma ótima e desconhecida história. Ponto para eles.

Mas,no final, o filme ainda é um conjunto de "quases": quase tem boas atuações, quase tem roteiro interessante, quase tem uma direção competente, Só faltou mais coragem para contar uma história tão bonita e tão necessária. Afinal, Dorothy Vaughan, Mary Jackson e Katherine Johnson mereciam mais.

BOM

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