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Foto do escritorMatheus Mans

Espanhol Oriol Paulo é uma das principais revelações do cinema


Se você gosta de cinema, sabe disso: uma das melhores sensações que um filme pode lhe proporcionar é a surpresa. É um sentimento que pode vir, por exemplo, de um filme que se mostra verdadeiramente bom enquanto você não esperava nada da produção, da história e da execução. Ou, ainda, pode vir de artimanhas do roteiro que te induzem a pensar algo e, no final, acontece outra coisa. É o plot twist.

No entanto, são poucos os filmes que conseguem usar este recurso de maneira totalmente satisfatória. Afinal, se parte dos espectadores adivinham o final antes da conclusão, há um erro na execução. E mais: poucos cineastas tem a habilidade de usar esses recursos com frequência em suas histórias. Num resgate de memória, é possível lembrar só de M. Night Shyamalan, Christopher Nolan, David Fincher.

Agora, porém, um outro cineasta entra nesta lista com louvor: o espanhol Oriol Paulo. O seu nome ainda é desconhecido do grande público. Afinal, ele fez apenas filmes gravados em sua língua natal e não teve grande penetração no mercado brasileiro -- ainda que seus filmes estejam disponíveis na Netflix. No entanto, não há dúvidas: quem assiste os filmes de Oriol fica encantado.

Por enquanto, o cineasta espanhol dirigiu apenas El Cuerpo, de 2012, e o mais recente Um Contratempo, de 2017. No entanto, ele tem participações criativas nos roteiros de Os Olhos de Júlia, de 2010, e em Secuestro, de 2016. Os quatro são magníficos. Ainda que os filmes dirigidos por outros cineastas sejam inferiores, todos contam com roteiro apuradíssimo, que deixa o espectador cego nos caminhos da trama.

El Cuerpo, por exemplo, mostra o desenrolar de uma investigação após o corpo de uma mulher (Belén Rueda) sumir misteriosamente de um necrotério sem deixar vestígios. Para desvendar os acontecimentos, o inspetor Jaime Peña (José Coronado) precisa colocar toda sua criatividade no caso -- e, ainda, conciliar com o sofrimento do viúvo da mulher, Alex (Hugo Silva).

Com esta trama, El Cuerpo é um carrossel de emoções. Tudo acontece. O espectador é enganado a todo o momento. Quando acha que descobriu o que aconteceu, tudo muda e a história ganha novos ares. É plot twist na essência. É a forma mais natural de reviravolta no cinema. E tudo com uma direção firme de Oriol, que consegue extrair grandes atuações do elenco.

Agora, o cineasta espanhol carimbou seu nome na sétima arte com Um Contratempo. Ainda que menos intenso em suas reviravoltas, é um filme mais inteligente, maduro e complexo. A sua trama acompanha um empresário que tenta se livrar de uma acusação de homicídio. A vítima é sua amante, que foi encontrada morta num quarto de hotel, sem saídas, e apenas com o empresário no ambiente, também desacordado.

Para entender o que acontece, ele então recorre à uma das mais importantes advogadas do País e começa a descortinar à ela os acontecimentos recentes. É maravilhosa a maneira que o roteiro vai apresentando as situações -- lembrando um pouco os ótimos Aura, com Ricardo Darín, e até A Vida de David Gale, de Alan Parker e com Kevin Spacey no elenco. É de aplaudir de pé.

No final, a obra de Oriol parece a versão melhorada da filmografia de M. Night Shyamalan -- e olha que gosta muito do diretor de O Sexto Sentido. São filmes elaborados, intensos e que chocam qualquer espectador. É o que o cinema de suspense precisa fazer e que, nos últimos anos, Hollywood não tem conseguido. E quem diria: a salvação do gênero de thriller veio da Espanha. Agora é ficar de olho da trajetória de Oriol e continuar apreciando o seu trabalho.

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