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Foto do escritorAmilton Pinheiro

Entrevista: Oswaldo Montenegro fala sobre pandemia, timidez e novo show


Crédito: Caue Andruskevicius

Assim como outros artistas, o cantor, compositor, diretor e dramaturgo Oswaldo Montenegro ficou afastado dos palcos por conta da pandemia da Covid-19. Ainda assim, não deixou de criar muito conteúdo para seu canal no YouTube, como singles – Respire Fundo e Poços Azuis, que tematizam a comunhão do homem com a natureza, com seu ser, com Deus, numa jornada de restauração diante de um mundo tão inóspito e desencontrado, mas há luz no adiante –, curtas e médias metragens, dentro da sua maneira de fazer cinema, séries, além de clipes de seus sucessos e outros trabalhos. Ou seja, muita música, seu carro-chefe, mesmo em outras áreas.


O cantor está de volta aos palcos com a nova turnê Balada Para um Ex-Amor, com músicas do seu extenso repertório que falam de relacionamentos desfeitos e de como lidamos com eles. “A gente vive numa época em que o número de separações é recorde. E, portanto, a presença dos ex se tornou uma constante na vida das pessoas. E se tornou uma coisa de vital importância na vida delas. Então, no show, eu abordo vários tipos de ex, vários tipos de separações”, diz ele na entrevista que deu com exclusividade ao Esquina da Cultura, feitas por e-mail e WhatsApp (veja entrevista completa no final da matéria).


Hoje, aos 65 anos, Oswaldo Montenegro, soube se adaptar as novas mídias para produzir e divulgar seu trabalho, mas não se curou da timidez social que, segundo ele, “é uma coisa grave”, a ponto de não conseguir conversar com uma pessoa que encontra nos shows ou eventos sociais. “Às vezes encontro pessoas que gosto, que tenho muita vontade de conversar, e só consigo dizer ‘boa noite’ ou então acenar de longe. Aí depois vou pro quarto e fico me remoendo. É uma sensação desagradável. Uma entrega de prêmios para mim, fico sofrendo três dias antes”. Para ele, o canal no YouTube virou uma espécie de toca, de sua casa, onde ele consegue não sentir mais a sua timidez lhe corroendo.

Nascido no Rio, passou parte da infância nas ruas e ladeiras da histórica cidade mineira São João Del Rey, vendo seresteiros cantando e tocando o cancioneiro popular, uma das matrizes de seu trabalho que, inclusive, moldou sua verve de artista menestrel. Morou em Brasília e voltou para o Rio de Janeiro, quando despontou para o sucesso no início dos anos 1980 ao vencer o Festival da Nova Música Popular Brasileira (MPB80), da rede Globo, com a música Agonia, composição do seu amigo de infância e parceiro artístico, Arlindo Paixão, o Mongol, que morreu em maio deste ano vitima da Covid-19 -- Oswaldo Montenegro não pôde ir ao velório do amigo, mas fez uma bela homenagem num post “Carta Para um Irmão” que publicou nas suas redes sociais.


Junto com o sucesso estrondoso veio também uma rejeição de parte do público e da crítica, que perdura até hoje, que não embarcaram no seu “lirismo agressivo”, como mesmo ele descreveu em algumas entrevistas. O artista disse que nunca se incomodou com essa rejeição, sabe que faz parte de quem lida com a arte e faz dela seu palco de sucesso e de fracassos.


“Você tem que lidar de uma forma muito tranquila com o fato de ser inegável que qualquer crítica é apenas uma opinião. E qualquer crítica é uma opinião válida. Qualquer crítica também tem uma função psicológica muito saudável na minha opinião. Ela bota a gente com o pé no chão. Tem aquela multidão gritando para você ‘Porra, você é um máximo’. Você fica cheio de si. Aí vem um cara e fala: ‘Não acho, não. Não suporto sua música’. Isso pode gerar saúde mental se a gente souber receber isso” .


Na entrevista que segue, Oswaldo fala da nova turnê, da alegria de voltar aos palcos, do momento pandêmico que vivemos e do que esperar para as eleições de 2022, dos seus trabalhos em outras áreas, como os quatro longas que dirigiu, dos festivais do passado e dos reality shows hoje, e revela as duas músicas preferidas do seu extenso repertório, que até pouco tempo era uma (para saber quais são, leiam a entrevista).


Entrevista: OSWALDO MONTENEGRO


Esquina da Cultura: Como é voltar aos shows ao vivo, com a turnê 'Balada Para um Ex-Amor', depois do confinamento de uma pandemia, a da Covid-19? O que o público pode esperar desse show com canções de sua carreira?

Oswaldo Montenegro: Voltar ao palco, cara, é uma grande alegria. Estava, de verdade, com saudade. E o show traz esse tema, que o título sugere, Balada Para um Ex-Amor. A gente vive numa época em que o número de separações é recorde. E, portanto, a presença dos ex se tornou uma constante na vida das pessoas. E se tornou uma coisa de vital importância na vida delas. Então, no show eu abordo vários tipos de ex, vários tipos de separações. Aquela separação em que a amizade se constituiu, aquela em que só ficou ressentimento, em que a dor não passou. E até mesmo aquela separação que foi um alívio. Tento, com isso, abordar no show vários tipos de separação, com várias canções que falam, vamos dizer, sobre isso. Mas não fico preso a esse tema. Vou contar coisas que compus sobre outros assuntos, como, por exemplo, em músicas como A Lista, Bandolins, Sem Mandamentos, e outras que não tem nada a ver com ex. Além disso, bato muito papo com o público, sabe, e com isso, atendo aos pedidos que vêm deles. Balada Para um Ex-Amor acaba sendo um show bem informal e com cara mais de encontro do que de espetáculo.


Esquina: De que maneira a pandemia lhe afetou como pessoa e artista?

Oswaldo: Está sendo uma época de dor. Perdi pessoas queridas. Além disso, a gente está sempre com a preocupação e o medo nos rondando, não conseguindo relaxar. É claro que a gente tem que enfrentar tudo isso com o maior otimismo possível. Eu, particularmente, estou fazendo muita força, de certa forma estou conseguindo graças as pessoas que me cercam e que amo. E com essa fé de que vai melhorar. Mas não posso negar que tem sido uma época de muita dor.


Esquina: A Covid-19 impôs perdas imensuráveis na população de parentes, amigos e conhecidos. Você perdeu um grande amigo de infância e parceiro de músicas e outras obras, Arlindo Paixão, o Mongol, que morreu em maio de 2021, vítima da Covid-19. Você enfrentou a perda se silenciando na época. O que poderia dizer agora sobre seu amigo e parceiro, um importante compositor e cantor da música brasileira?

Oswaldo: Sobre sua pergunta em relação a morte de Mongol, vou te mandar um link que está no meu canal no YouTube “Carta Para um Irmão”, que publiquei alguns dias depois da morte dele. Aquilo, cara, é exatamente o que eu sinto. Então, a resposta para sua pergunta é exatamente o que falei ali. Se você olhar o texto, vai me entender com certeza.

Esquina: Você é um cantor e compositor que não ficou restrito às músicas e aos shows, pois desde o início da carreira compôs peças de teatro, como, por exemplo, João Sem Nome, que fez com o parceiro e amigo de infância Mongol, em 1975, fez filmes como diretor de cinema, quatro longas, e agora produz e dirige séries para televisão, streaming, e em sua ativa redes sociais. Uma carreira multifacetada e crossmídia não somente traz benefícios, gera também desconfiança, ciumeiras e incompreensão. Como você enxerga esses talentos múltiplos, e como eles afetaram sua carreira de cantor e compositor para o bem e para o mal?

Oswaldo: Olha, eu me sinto acima de tudo um compositor popular. Fazer canções é minha prioridade. Claro que adoro trabalhar em outras áreas artísticas, mas nunca fiz isso sem a música. Todos os filmes, séries, peças, que criei, são recheados e baseados nas trilhas sonoras que são a base e a razão de ser de todo projeto que eu faço. Agora, trabalhar nessas outras searas aí só me trouxeram felicidade. Muitas vezes nos shows, o público pede músicas que só lancei nos filmes e nas peças. A possibilidade de alcance se ampliou porque agora a música virou trilha. Antigamente ela era o centro das atenções, ela era a protagonista. De um tempo para cá, mesmo fazendo a ressalva de que nunca se fez tanta música no mundo, ela (a música) é trilha de um brinquedo, de um filme, de uma novela, de um balé, de uma série. E é muito legal, porque a personagem ou o enredo, é a casa onde essa música vai morar, ela não depende mais de estourar na rádio, de tocar na televisão, para que exista. Ela passa a existir porque o filme se tornou uma residência dela. Acho uma época muito saudável, me agrada muito.


Esquina: Contabilizando a sua produção discográfica, desde o primeiro compacto Sem Mandamento, pela [gravadora] Som Livre, em 1975, sua década mais frutífera foi a dos anos 1990, quando lançou por volta de treze álbuns. Como você administrou essa produção? Qual foi seu último álbum de inéditas? Tem algum disco de inéditas no forno, e se tem, quando o público poderá apreciá-lo?

Oswaldo: Eu produzo muito, porque tenho muita paixão pelo que faço. Me sinto um privilegiado por poder trabalha com que eu adoro fazer. Pra mim (risos) o difícil são as férias. A vida sem arte é um pouco difícil, sem graça, pra mim. Arte acelera o tempo das coisas. Aquele papo: a arte é a vida sem as partes chatas. Fora a questão do desabafo que a arte possibilita. Ela me deixa botar pra fora sentimentos que a timidez impede que eu exponha. Agora sobre álbum inédito, eu tenho lançado muito single, tenho produzido muito para internet. É muito difícil a minha cabeça atualmente pensar em termos de álbum. Lancei um álbum, em 2016, totalmente inédito, mas era trilha do filme O Perfume da Memória, todas as músicas eram inéditas. E lancei, também em 2021, um álbum chamado Mayã – Uma Ideia de Paz, que tem três canções e muita música instrumental (o disco foi lançado em 2020, conforme registrado no site oficial do cantor e cantor www.oswaldomontenegro.com.br). Um álbum para lançar agora, não tenho muito isso na cabeça, não.


Esquina: Você é um diretor de cinema sem o reconhecimento devido dos pares, já que lançou quatro longas: Léo e Bia, Solidões, O Perfume da Memória e A Chave do Vale Encantado, inclusive participando de festivais, sendo premiado, mas recebendo duras críticas, mesmo assim, lançando-os nos cinemas. Mas os seus dois últimos longas, foram diretamente para suas redes sociais, no seu Canal do YouTube. Que tipo de cinema você faz, quais são suas referências na área, tem planos de voltar, caso faça um novo longa, ao circuito dos festivais e de cinema?

Oswaldo: Eu fiquei muito feliz com a recepção que meus filmes tiveram. Para ser sincero, não esperava tanto. É claro que tem gente que não gostou. Acho isso super natural, saudável. O artista tem que ter uma marca. A única chance que a gente tem, é a gente ser a gente mesmo. É traçar um tipo de estética, traçar uma marca, é botar a impressão digital de qualquer maneira. E se você bota a tua marca, é claro que você vai ter alguém que não gosta. Acho super bacana, super natural [que isso ocorra]. A respeito do tipo de cinema que faço, olha, é difícil descrever. Para mim é impossível, mas posso te responder assim: faço um tipo de cinema, primeiro, que tenta privilegiar o narrador, que é uma coisa que não se usa muito em cinema, é quase que mal visto no cinema, mas gosto e preciso usar o narrador. É uma coisa que veio para mim, muito clara, quando cheguei no Rio [de Janeiro], no final da década de 1970, e um crítico muito importante chamado Yan Mishalsky do Jornal do Brasil me falou: “Cara, você tem uma tendência muito forte a fazer o musical dos menestréis, porque o musical de Hollywood, ele é neto da ópera em que a ação dramática é cantada. Você tende a fazer a ação dramática falada de uma forma quase que naturalista e a música entra para contar a história, para comentá-la, ou para ritualizar a história”. Então, faço um tipo de cinema que tem isso, um narrador e a música muito presente nesses termos. É difícil para mim, determinar influência. Amo muito alguns cineastas, gosto de muito tipo de filmes, mas o que me guia mesmo é a sinalização de que tenho que exercer uma liberdade total. Fazer as coisas com uma ousadia quase que suicida. Faço filme assim. Aliás, faço arte assim. Por exemplo, o [filme] Léo e Bia foi inteiramente filmado num único recinto, porque é a história de um grupo de teatro. Então, quero dar ali a impressão de que toda vida aconteceu, foi lembrada, ou foi sentida, dentro do palco onde eles [personagens] ensaiavam. Solidões é um filme de episódios, todos sobre esse tema, que parece ser o tema que mais amedronta a humanidade. O Perfume da Memória é um filme que foi feito inteiro com duas únicas atrizes, o elenco se resume a elas, duas atrizes, duas pessoas. E A Chave do Vale Encantado subverte os personagens dos contos de fada, de uma certa maneira, trata isso com certo humor. E principalmente é um filme que se recusa a definir a faixa etária. É por aí que eu vou, mas por que fiz isso? Não é uma coisa pensada. É realmente a vontade de exercer a liberdade com toda a força. Não sei se vou voltar a fazer filmes. Atualmente estou dedicando totalmente a música, mas caso volte a fazer, provavelmente devo lançar no meu Canal do YouTube por uma razão muito pessoal. Tenho muita dificuldade com a minha timidez social, que é uma coisa grave. E ela me faz ficar muito angustiado em festivais e lançamentos. Às vezes encontro pessoas que gosto, que tenho muita vontade de conversar, e só consigo dizer “Boa noite” ou então acenar de longe. Aí depois vou pro quarto e fico me remoendo. É uma sensação desagradável. Uma entrega de prêmios para mim, fico sofrendo três dias antes. Estar dentro da minha toca e não ter convívio social é muito importante pra mim, mas que importante, é muito necessário pra mim. E o meu canal no YouTube se torna isso, minha casa, uma casa onde possa entrar sem sentir a minha timidez exagerada me torturando.


Esquina: Os artistas eram mais engajados politicamente, ainda mais nos duros anos 1960 e 1970, com a ditadura militar e o cerceamento da liberdade de expressão e da censura ferrenha. Todo artista é antes de mais nada um ser social, um formador de opinião. Como você se posta hoje politicamente e o que espera das próximas eleições para presidente e para o Congresso Nacional em 2022?

Oswaldo: Acredito que o problema do Brasil é mais ético do que político. Se todos os ladrões ficassem uma semana sem roubar nada, nós seríamos a maior economia do mundo. Essa é a natureza mais privilegiada do planeta. Temos um povo doce, criativo, um povo bacana. É claro que todo país tem defeitos, mas o Brasil caiu no vício de cultivar e admirar os próprios defeitos. Além disso, a gente tem uma noção paternalista de esperar sempre um salvador da pátria. Seja ele quem for que ocupe o Congresso ou a presidência, somos nós que os colocamos lá. É preciso votar com consciência e não perder nunca a noção de liberdade e democracia. Acho que a minha função como artista é dizer: “Pensem com as suas cabeças e lembrem que somos todos responsáveis”.


Esquina: Quando você começou a fazer sucesso de público nos anos 1980, com o disco Oswaldo Montenegro, de 1980, que trazia um lirismo agressivo, e que a partir daí, trouxe certa rejeição do público, que nas suas palavras: “Esse lirismo é um dos lados do meu trabalho que mais provoca rejeição, ou seja, junto com o sucesso veio também a rejeição”. Como essa rejeição lhe afetou ao longo dessas décadas? Pensou em mudar de alguma forma para agradar esse público?

Oswaldo: Você tem que lidar de uma forma muito tranquila com o fato de ser inegável que qualquer crítica é apenas uma opinião. E qualquer crítica é uma opinião válida. Qualquer crítica também tem uma função psicológica muito saudável na minha opinião. Ela bota a gente com o pé no chão. Tem aquela multidão gritando para você “Porra, você é um máximo”. Você fica cheio de si. Aí vem um cara e fala: “Não acho, não. Não suporto sua música”. Isso pode gerar saúde mental se a gente souber receber isso. Não sou religioso, não, mas tenho que reconhecer que o budismo me fez muito bem nesse ponto. O budismo me convenceu que a gente não é nada, e que é bom não ser nada, e que o ego é um inimigo que faz a gente sofrer pra caramba. Nunca pensei em mudar nada na minha arte, em função de nada, mas não por pretensão. A única coisa que eu posso ser é eu mesmo, entende? A minha vida foi constantemente alvejada por elogios incríveis e por críticas. Acho isso bonito, bacana. É claro que não é bacana se a crítica for pessoal, mas a nossa arte está aí para provocar as emoções sejam elas quais forem. E a gente tem que ter humildade para saber que tem uma pessoa que não gosta. Volto a falar aí da personalidade. Se o artista tem personalidade, vai ter gente que não gosta dele. O sucesso só começa quando alguém não gosta de você. Os críticos têm essa noção muito clara. Nunca vi um crítico, por exemplo, esculhambar um músico que não teve repercussão. Agora, se você teve repercussão, se o público está dizendo que você é maravilhoso, que você é incrível, ele [o crítico] tem direito de questionar. E mais do que direito, tem obrigação de questionar. E a gente tem a obrigação de receber isso com saúde mental, com tranqüilidade, e seguir em frente. Se a crítica for uma coisa que a gente concorda, ela até ajuda, se a gente não concorda, vamos em frente. Acima de tudo, não sou um cara que penso muito. Procuro fazer minha arte sem pensar, não só na hora de criar, como depois. Eu solto a minha canção no meu filme no ar e cada um ache o que quiser. Fico muito feliz quando gostam, muito mesmo, mas aceito tranquilamente quando alguém rejeita.


Esquina: Você, assim como outros artistas da MPB oriundos dos anos 1960, 70, e inicio dos anos 80, se lançaram ou consolidaram as carreiras na Era dos Festivais, nas palavras de Zuza Homem de Mello. Os festivais mediáticos fazem parte da história, sendo, hoje, substituídos pelos reality shows, que proliferam como praga por todo o mundo, em especial no Brasil. Qual a importância dos festivais para a música brasileira e o que pensa dos realities shows de música?

Oswaldo: Não tenho dúvida que os festivais, nos moldes em que eles aconteceram, são coisas do passado. Mas para mim, foram muito importantes. E a importância às vezes era a seguinte: eles encurtavam à distância entre a nossa arte e o público. A gente não precisava passar pelo crivo da gravadora, da televisão, da rádio, que julgavam o que era popular o não. Por exemplo, quando fiz Bandolins, compus a música e mostrei para a gravadora, que achou-a muito complicada, sofisticada, falou que não ia acontecer em termos populares. O festival permitiu que eu provasse, vamos dizer assim, que ela podia ser popular. Isso viabilizou a minha carreira. Não caberia mais, pelo menos nos moldes dos festivais antigos, mas foram úteis. Eles colocaram na boca do povo, canções que não chegariam lá. Quanto aos realities, cara, acho que são frutos de uma coisa eterna da humanidade que é a vontade de olhar a vida do vizinho. O ser humano é assim; a gente tem muita vontade de saber o que acontece com o outro na intimidade. Você vai meio que se apegando. É um parente longínquo do sucesso das séries, porque no filme você se apega ao personagem, mas daqui a uma hora e meia ele sumiu da tua vida. Na série, você fica acompanhando aquilo durante um tempão, durante vários capítulos. No reality você acompanha pra caramba. No reality da música, então, volta àquela coisa de torcida, mas agora o júri é o próprio público que vota. É uma coisa, digamos assim, normal da humanidade, é um interesse constante. Diria que é um interesse eterno da humanidade esse tipo de atividade em que ela se sente olhando pelo buraco da fechadura a vida e a arte do outro.


Esquina: Pelo que li dos seus depoimentos, se tivesse que escolher uma música sua, de toda sua carreira, você escolheria Por Brilho, composta no dia que se separou da musicista Madalena Sales, a Madá. Essa preferência permanece até hoje? Eu, Amilton Pinheiro, na condição de acompanhante do seu trabalho, escolheria Estrelas, uma música que lembra as ruas históricas de São João Del Rey, lugar em que você, ainda criança, descobriu as serestas, os menestréis e o gosto pela música popular brasileira. O que você acha dessa composição? E fale do lindo clipe, que não conhecia, que você fez com a jovem cantora Clarissa cantando Estrelas com um novo arranjo?

Oswaldo: Bom, Estrelas, cara, é uma música da qual gosto ainda, sabe, gosto muito. Têm músicas, canções, que a gente enjoa. Realmente, você tem razão, ela é muito parente da coisa barroca de São João Del Rey, da música mineira, da música com esse tipo de harmonia, de encadeamento de acordes. É uma música que gosto muito ainda. E a gravação com a Clarissa foi bem legal, porque ela é irmã de Raissa, que é uma cantora maravilhosa que trabalhou comigo, trabalha comigo uma vida inteira, cantando em tudo que é coro, fez solo em algumas trilhas de filmes meus. E foi um prazer poder cantar com uma pessoa que de certa forma é da minha família porque é irmã de uma pessoa que considero da minha família. Quanto ao Por Brilho continuo ainda gostando muito dessa música. Música muito cara pra mim, porque na época que a compus era um pedido para que Madalena [Salles, flautista e ex companheira do cantor] se tornasse uma irmã para mim. E hoje é um agradecimento, porque ela é realmente é uma irmã na minha vida, a grande irmã que Deus me deu nessa vida, além de claro as minhas duas [irmãs] de família mesmo.

Agora, é minha música preferida, embora empatada com outra. Hoje em dia tem uma música empatada com ela que é A Lista, porque é aquilo que tinha lhe falado, da destruição do ego. Fui um garoto que achei que sabia tudo. Tinha aquelas certezas incríveis quando era jovem. Tem uma frase do Picasso [pintor], em que ele fala que o grande orgulho dele aos 80 [anos], era saber metade das coisas que ele pensava que sabia aos 20 [anos]. Estou nessa situação agora. E estou aliviado com a quebra da minha pretensão. Estou feliz de ver minhas certezas terem ido embora. E aí comecei a compor assim... E a primeira música que compus assim, foi A Lista. E você pode reparar que é uma música que só tem perguntas. A outra, por exemplo, A Lógica da Criação. Parei de emitir minha opinião. Parei de achar que minha opinião vale alguma coisa. E essa leveza tem me feito realmente muito bem. Está certo?. Cara, foi um prazer falar contigo aí. Espero que você possa pintar no show, que a gente se encontre, um grande abraço, Amilton.


SERVIÇO

Tom Brasil Apresenta: Oswaldo Montenegro - Nova Turnê de “Balada Para um Ex-Amor” Datas: 27 e 28 de agosto

Horário da sessão: 21h    

Horário de abertura: 19h  

Local: Tom Brasil    

Endereço: Rua Bragança Paulista, 1281 – Chácara Santo Antônio – São Paulo/SP    


Ingressos:

Camarote - R$239,00    

Frisa - R$199,00    

Cadeira Alta - R$139,00    

Setor Vip - R$239,00

Setor 01 - R$189,00

Setor 02 - R$139,00

Setor 03 - R$99,00

 

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