O Festival Internacional de Animação Lanterna Mágica encerrou sua sexta edição neste sábado, 23, com a sensação de um evento quase consolidado. Na noite de premiação, bem econômica em termos de duração e de acertos nas escolhas do cerimonial, na confortável e eficiente sala de projeção do CineX, com suas 89 poltronas reclináveis, no Centro Cultural Oscar Niemeyer em Goiânia (GO), todos da organização, convidados e público pareciam satisfeitos e contentes de terem participado de uma jornada de quase uma semana de exibições de filmes, longas hour concour e curtas de mostras competitivas e paralelas, oficinas, palestras e rodadas de negócios.
E saber que a um ano atrás, a diretora e curadora Camila Nunes teve que cancelar a sexta edição por conta de um incêndio em sua casa próximo a realização do festival. O que poderia parecer uma fatalidade imobilizadora terminou gerando, pela garra dos seus produtores, numa oportunidade de realizar uma edição ainda maior e mais consolidada da que pensada para 2023. Camila e seu marido, o produtor executivo do festival, Wadih Elkadi, conseguiram mais recursos e a entrada de mais um patrocinador, possibilitando chamar todos os realizadores ou indicados pelas produções dos filmes, ou seja, dos 13 curtas da mostra competitiva nacional, uma maior quantidade de jornalistas e mais alguns outros profissionais da área de animação para fazer oficinas, palestras e eventos de mercado. Ou seja, num festival, como já colocamos aqui, mais robusto.
Quase lá…..
Testemunhamos um festival bem organizado, com uma boa seleção de filmes entre curtas e longas, com uma infraestrutura compatível com o tamanho do evento e principalmente podemos verificar a seriedade e competência do casal Camila Nunes e Wadih Elkadi, profissionais que entendem e sabem fazer o que se propõem.
Com poucos problemas durante a realização do evento, o Lanterna Mágica entra definitivamente como um dos melhores festivais de animação do Brasil e alçando entrar no calendário dos melhores do mundo, o que, pela disposição e competência de Camila Nunes e Wadih Elkadi, não parece ser uma tarefa impossível, vamos esperar as próximas edições (a de 2025 já está garantida pela entrada de recursos da Lei Paulo Gustavo).
O que precisa melhorar para chegar no lá e não no quase lá
Nas exibições de alguns curtas da mostra competitiva internacional aconteceram problemas de legendagem, o que foi explicado pelo produtor executivo Wadih Elkadi, como colocamos em outra matéria. Também os debates, que aconteceram após as sessões da mostra competitiva de curtas nacional e dos longas convidados, se mostraram aquém do desejado, já que não houve tempo nem uma mediação hábil para discutir as produções de forma satisfatória (esperar que no próximo ano os debates dos filmes sejam no outro dia da exibição e em outro local e com um mediador que possa organizar e conduzir as perguntas).
Outro aspecto que pode ser melhorado no Lanterna Mágico é a distribuição do materiais de divulgação da programação e das informações dos filmes, já que o flyer entregue pela organização do festival veio com parte das sessões duplicadas e outras sem constar no impresso. Faltou também um catálogo com todas as informações dos filmes, do júri oficial, dos convidados e da programação extra, facilitando o público e principalmente o trabalho dos jornalistas presentes. Faltou organizar melhor o acesso dos jornalistas aos diretores e profissionais convidados.
Também o Lanterna Mágica inexplicavelmente não faz homenagens nem edições passadas nem nessa, o que não se justifica, já que temos vários diretores e/ou profissionais da animação do Brasil para serem reconhecidos dentro de um festival como este (dificilmente um festival de live action homenageia um diretor ou profissional de animação). Quem sabe, quando o Lanterna Mágica tiver o status dos melhores internacionais, homenagear também o profissional de animação internacional.
Uma premiação do júri oficial distributiva, sem personalidade e sem reconhecer o melhor curta da mostra nacional
Sabemos que todo júri oficial ou não oficial tem autonomia e liberdade para decidir quem eles acham os melhores de uma mostra competitiva seja de um festival de animação, live action ou de documentário.
O júri oficial do Lanterna Mágica era o mesmo júri para as duas mostras competitivas de curtas (outra sugestão para a organização do festival seria ter um júri oficial para cada uma das duas mostras competitivas, a de curtas internacional e a de curtas nacional), o que pode ter dificultado o trabalho deles nas escolhas dos melhores.
Antes de comentar a escolha do júri para o melhor filme da mostra competitiva nacional, cabe aqui tentar entender como júri que tem 13 produções e sete prêmios, entregar os troféus do festival (uma linda lanterna mágica) para sete curtas, ou seja, um prêmio para cada um dos sete concorrentes (um pouco mais de metade dos 13 curtas).
Isso demonstra falta de coragem e de personalidade do júri oficial, já que eram quatro ou cinco filmes que mereciam os prêmios disponíveis (veja lista no final da matéria) e eles preferiram distribuir um para cada um dos sete premiados por eles. Como não dar melhor filme e direção para o mesmo filme? Como tirar prêmios dos dois filmes que mereciam de fato, O Cacto, de Ricardo Kump (SP) e Tardes no Escarafuncha, de Fernando Ferreira Garróz (SP), que saíram os prêmios de melhor direção e direção de arte respectivamente do júri oficial, que ainda fez uma escolha bem equivocada ao dar o prêmio máximo, o de melhor filme, para o irregular e problemático, como animação, Carcinização, de Denis Souza (RS), um trabalho de conclusão de curso e realizado em Pelotas (RS) com sérios problemas na concepção da animação, nos diálogos e nas vozes dos personagens?
Pelo menos os dois melhores filmes da mostra competitiva de curtas nacional, O Cacto e Tardes no Escarafuncha foram compensados pelo prêmio de público, o adulto e o infantil, e pelo prêmio da imprensa, que reconheceram serem os dois melhores curtas brasileiros deste ano. (Tardes no Escarafuncha recebeu os prêmios dos dois públicos, enquanto O Cacto ganhou o prêmio da imprensa).
Esse mesmo júri oficial, que também premiava os curtas da mostra competitiva internacional, que tinha bem mais filmes, 17 ao todo, foi menos distributivo ao premiar quatro produções, dos sete troféus disponíveis. Mostrando mais coerência e personalidade. E mais ainda, quando acertaram na escolha do melhor curta dos internacionais, o belo, reflexivo e forte Ninety-Five Senses, de Jerusha Hess, Jared Hess (EUA), o mesmo que concorreu ao Oscar deste ano, com os prêmios de melhor filme, direção e técnica de animação. O filme foi triplamente consagrado ao ganhar, além do prêmio máximo do júri oficial, o de melhor filme escolhido pela imprensa e pelo público (esse prêmio ele dividiu com A Kind of Testament, de Stephen Vuillemin (FRA), outro produção de destaque da mostra competitiva internacional).
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