Não adianta: Edgar Wright é um dos principais nomes do cinema moderno. Com um estilo marcante e uma produção coesa, sem grandes erros, o diretor inglês conseguiu criar uma legião de fãs que esperam ansiosos por seus trabalho, sempre contando com um roteiro original e bem humorado, montagem ágil e atuações marcantes. Agora, acaba de chegar aos cinemas o filme Em Ritmo de Fuga, que marca mais um capítulo na carreira de Wright e do cinema independente moderno.
O filme já começa vertiginoso, com cenas de ação ao estilo de Wright: Baby (Ansel Elgort, o astro de A Culpa é das Estrelas) é o motorista de fuga de um grupo de criminosos, que vão assaltar um banco. Tudo corre bem até a saída da agência, quando a polícia identifica o roubo e começa a perseguir o grupo -- formado, dentre outros, por Jon Hamm (Mad Men). Depois, começa show de edição de Wright, que tira o fôlego com a cena de perseguição que faz Velozes & Furiosos parecer brincadeira de criança.
Quando a tal cena termina, audiência respira aliviada. Afinal, parece que o longa-metragem vai entrar num ritmo mais contido, como qualquer outro. No entanto, Baby Driver -- título original da história, muito melhor do que o traduzido -- não é um filme normal. Cada cena surpreende, mesmo que não seja no ritmo frenético da primeira cena. Por exemplo: uma cena mostra Baby indo buscar um café. Ela toda é feita em plano sequência, sem cortes. Maravilhosa de assistir, mesmo mostrando algo tão banal.
E é com este estilo que Wright constrói todo longa-metragem para contar a história de Baby, rapaz que faz serviços como motoristas de fuga em assalto para Doc (Kevin Spacey, numa atuação elegante), numa tentativa de pagar uma antiga dívida. No meio do caminho, porém, ele conhece a garçonete Deborah (Lily James, de Cinderela), por quem se apaixona. Claro que, a partir daí, ele não quer mais saber se dirigir em fugas; só quer saber de ficar com sua nova paixão e partir para uma aventura.
Deste fiapo de história, Wright consegue criar uma trama eletrizante do começo ao fim, sem dar chance para o espectador respirar aliviado -- sensação de perder o fôlego, aliás, é uma constante no longa-metragem, assim como na cena de abertura. Além disso, o diretor inglês faz algo que nunca tinha feito até então: brinca com a trilha sonora, fazendo com que toda a música executada se torne parte da narrativa, seja ela The Beach Boys, Blur, Queen ou até Barry White.
Para isso, não falta criatividade: além de Baby ser uma pessoa com uma ligação emocional muito forte com a música - numa trama interessante, que dá força emocional para a trama -, Wright volta a brincar com edição. Numa das cenas, tiros e explosões marcam o ritmo da música Tequila, criando uma das sequência mais marcantes da produção. Quando ela acaba, você fica com a sensação de que acabou de ver algo incrível sendo feito, também graças à seleção de canções feita por Steven Price.
Outro grande acerto está nas atuações: apesar de extremamente contido, Ansel Elgort faz um Baby marcante e mostra crescimento profissional, ainda que ele não esteja totalmente pronto como Shailene Woodley, companheira na adaptação do livro de John Green e que os alçou ao sucesso. Kevin Spacey aparece pouco, mas sempre elegante. Jamie Foxx (Django Livre) e Jon Hamm fazem personagens divertidos, mas com temperos dramáticos em suas essências.
Lily James também é uma grata surpresa na trama: com uma atuação leve, sempre com um olhar de divertimento, ela consegue construir sua personagem Deborah de maneira coesa e competente. Bom ficar de olho em suas futuras atuações; a jovem promete. E pena que o ator Jon Bernthal participa muito pouco, apenas no começo. Apesar de ser limitado em alguns pontos, ele é divertido e consegue acrescentar emoção em tramas por conta de sua atuação sempre intensa.
Em Ritmo de Fuga dá mais um passo na consolidação total na carreira de Edgar Wright. O filme é divertido, empolgante e eletrizante, em medidas certas e iguais. Não há excessos, não há erros -- apenas, talvez, a falta de uma história um pouco mais aprofundada. Sem dúvidas, o longa-metragem vai figurar em dezenas de listas de melhores do ano, caso não haja injustiças. No final, fica apenas o sabor de querer ver mais filmes do diretor inglês -- e imaginar como seria Homem-Formiga em suas mãos.
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