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Foto do escritorMatheus Mans

Em coletiva, Gabriel Mascaro e elenco tentam explicar 'Divino Amor'


Coletivas de imprensa sempre ajudam a compreender melhor um filme. Afinal, por meio da mídia, o público pode saber o que seus realizadores pensaram quando filmaram certas coisas, optaram por determinadas estéticas e coisas do tipo. Dificilmente, alguém sairá de uma coletiva com mais dúvidas do que quando entrou. Mas este não é o caso de Divino Amor, novo longa-metragem realizado pelo competente Gabriel Mascaro e que teve sua apresentação para a imprensa, na cidade de São Paulo, nesta terça-feira, 26.

O filme, afinal, pretende ser polêmico. Acompanha a história de uma evangélica (Dira Paes) que se divide em três momentos distintos. Em casa, busca engravidar de seu marido, homem religioso que deseja um herdeiro. No trabalho, onde atua como burocrata em um cartório, ela tenta convencer casais a não se separarem. E, por fim, há a protagonista da sua igreja, a Divino Amor, na qual ela entra numa entrega total à Deus.

Logo no início, Mascaro já começou a tentar dar justificativas sobre a obra. "Nós tivemos a ideia há quatro anos, quando ninguém nem imaginava que Bolsonaro iria ganhar uma eleição", disse o cineasta pernambucano. "Me inspirei em uma transformação que aconteceu no meu bairro, em Recife, e que me chamou a atenção pro projeto de poder evangélico. Quis levar isso para o cinema. Acabei recorrendo ao sci-fi e pornografia, que possuem estéticas pouco lembradas, mas que podem dialogar com essa história."

Depois, um jornalista fez uma pergunta pertinente sobre como eles esperam a recepção do público evangélico com o filme -- afinal, veja só, Mascaro usou as palavras "projeto de poder evangélico", "sci-fi" e "pornografia" numa mesma fala. Mas, estranhamente, as duas atrizes presentes logo trataram de diminuir o impacto da crítica. "Cada um é cada um. Mas esperamos que as pessoas estejam preparados para entender sobre o que é esse filme. Não dá pra entendê-lo como uma crítica à todos os evangélicos, à religião."

Dira Paes deu uma indireta ainda mais direta. "Se alguém prestou minimamente atenção no que o Gabriel falou, percebe que essa visão de crítica aos evangélicos é uma visão muito rasa. Estamos propondo uma visão sobre o todo pelos fiéis, pela maternidade, pela busca da fé", disse a atriz, que interpreta a protagonista Joana, uma evangélica dedicada de corpo e alma à sua igreja. "Seria uma grande reflexão se a gente conseguisse fazer com que o público perceba o que queremos e consiga ir além."

O clima, a partir daí, parece que pesou. O longa-metragem já tem um grave problema de não conseguir se decidir entre a crítica, a metáfora, o afago. É uma produção esquizofrênica, que não acerta no ponto. O ator Emílio Mello e a produtora Rachel Daisy Ellis logo trataram de jogar ainda mais água sobre a crítica do filme aos evangélicos. "É um filme muito respeitoso com a religião. Precisamos contar com a sensibilidade", disse o ator ao ser questionado sobre as cenas de sexo explícito que vão surgindo aos poucos.

"O filme não questiona a religião. Questionamos, na verdade, a manipulação da fé e do poder", disse Rachel Daisy Ellis, produtora e que também foi creditada como roteirista.

Ou seja: o grande problema do filme, que é a falta de decisão e de tomar um caminho direto pela cítica ou pela metáfora, foi ainda mais ampliado durante a coletiva de imprensa. Os presentes pareciam prontos para rebater qualquer possibilidade de mostrar como a crítica aos evangélicos fundamentalistas deveria ser a alma do filme. A falta de decisão de Divino Amor, que aposta na nudez e no sexo para chocar, ficou refletida de maneira límpida, direta e clara nas respostas de Mascaro e de seu elenco.

O cineasta ainda tentou terminar a coletiva num tom positivo, mas voltou a diminuir a importância do filme. "A estratégia que usamos, para trazer esses assuntos, é o tom parabólico. Além disso, ao invés de usar uma distopia com personagem que luta contra o sistema, optamos pela protagonista que ama o sistema. Quer mais religião, mais controle, mais burocracia", disse Mascaro. "A gente se aproxima da caricatura durante o filme, mas depois voltamos a chamar atenção pro projeto de poder dos evangélicos."

 
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