Escrito pelo rabino Nilton Bonder, o livro Alma Imoral se tornou um sucesso absoluto. Vendeu mais de 300 mil cópias em diversos países, foi adaptado para uma peça teatral e, agora, ganha sua versão para as telonas pelas mãos de Silvio Tendler. No entanto, apesar de trafegar por meio de tantas áreas e interpretações, o cerne de Alma Imoral é o mesmo: mostrar como a transgressão é algo que movimento o mundo desde sempre. E é preciso continuar acontecendo para que a sociedade, em si, não pare de mudar.
No documentário, ao longo de duas horas, Tendler busca as inspirações que serviram à Bonder em diversos lugares do mundo. Além de ter fortes interpretações na dança, que dão ritmo e vistosidade ao filme, Alma Imoral passeia por histórias fortes, impactantes, que ajudam a compreender melhor o clima de transgressão proposto pelo filme, pela peça e agora, finalmente, pelo filme. "Alma Imoral, além de cinema, assume um papel didático para a vida", diz o cineasta Silvio Tendler, em entrevista por e-mail ao Esquina.
Dentre os entrevistados, destacam-se Frans Krajcberg, Rebbeca Goldstein, Noam Chomsky, irmãos Rosenberg. Todos sob a ótica peculiar de Tendler, que sempre coloca uma lente diferenciada sobre os temas, amplificando reflexões e trazer aspectos pouco conhecidos de temas capitais -- não é à toa, aliás, que ele é o responsável por trás dos documentários O Mundo Mágico dos Trapalhões, Jango e Anos JK, as três maiores bilheterias do gênero de documentário no Brasil. É um cineasta que tem o que dizer.
Abaixo, confira a entrevista do Esquina com Tendler, onde ele explicou sobre a transgressão, falou sobre as filmagens e a necessidade de transgredir no Brasil de hoje:
Esquina da Cultura: O filme trava um diálogo com a obra do rabino Nilton Bonder. Como surgiu essa ideia? Como foi para mergulhar na obra do rabino?
Silvio Tendler: Primeiro assisti a adaptação feita par o teatro pela Clarice Niskier e adorei. Li o livro e quis fazer o filme com uma pegada diferente daí nasceu o filme que dialoga o tempo todo não apenas com o livro mas com o próprio Rabino que está presente no filme narrando e entrevistando.
Esquina: São vários os cenários percorridos no filme e entrevistados de peso. Como foi a produção para o documentário? O que mais te desafiou?
Silvio: Buscar os "transgressores certos" no lugar certo. Daí as muitas viagens necessárias para o filme.
Esquina: O filme fala muito sobre transgressão. Como você avalia a transgressão nos tempos atuais? Estamos precisando de mais transgressão? Ou de menos?
Silvio: Estamos vivendo "tempos conturbados" diferentes do contexto que gerou o filme. Para avançar o mundo sempre precisará de "transgressores". Hoje o jogo está empatado. Continuemos jogando.
Esquina: Senti, ao longo do filme, que há um intenso debate com alguns temas bem atuais -- como meio-ambiente e até direitos humanos, em certa medida. Como vê a chegada do filme, agora, numa cenário tão conturbado?
Silvio: Hoje este filme é mais do que necessário, é fundamental para seguirmos lutando pela natureza e pela liberdade. Alma Imoral, além de cinema, assume um papel didático para a vida. Tenho orgulho de ter feito este filme com essa pegada.
Esquina: O sr. é responsável pelos documentários mais vistos nos cinemas brasileiros. E hoje estamos frente a frente com o desmonte da Ancine e afins. Como vê esse cenário? Qual a perspectiva que enxerga para o cinema nacional?
Silvio: Muito preocupado com o possível desmonte da Ancine e mesmo da Arte, da Educação e da Cultura. Como Caetano Veloso compôs e Gal Costa cantou em 1969, a música Divino, Maravilhoso," temos que estar atentos e fortes/ Não temos tempo de temer a morte". O momento é difícil.
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