Discursos políticos fortes e contundentes. Surpresas nos vencedores. Piadas inteligentes. Situações inusitadas. Boa apresentação. Todos esses componentes, em maior ou menor escala, são responsáveis por transformar uma cerimônia do Oscar em algo grandioso. Em 2017, por exemplo, tivemos surpresas em vários vencedores -- incluindo Melhor Filme -- e o histórico erro final. Uma cerimônia que ficou marcada. No prêmio de 2018, porém, nada aconteceu.
Os erros começaram antes da própria cerimônia em si. Os indicados -- como já ressaltei nesta análise -- ficaram muito aquém do que o cinema ofereceu ao longo de 2017. Mulher Maravilha, It: A Coisa, A Ghost Story, Fragmentado, Mãe! e muitos outros bons longas não ganharam reconhecimento pela Academia. Isso, é claro, acaba tirando um pouco do ânimo de quem acompanha a premiação, já que sente menos empatia pelos indicados e possíveis vencedores.
Além disso, que desastre chamar Jimmy Kimmel para apresentar o Oscar pelo segundo ano consecutivo. Em 2017, ele já tinha se mostrado extremamente limitado e abaixo de outros bons nomes que já passaram por ali, como Billy Crystal e Ellen DeGeneres. Mas esse ano foi pior: piadas fracas, pouco interessantes e sem grandes momentos de criatividade. Até a visita ao cinema, divertida em alguns pontos, parece uma reprise de ações vistas no prêmio de 2017.
Mas tudo bem. Isso passaria batido se a premiação em si tivesse tido alguma vitalidade ou força em seus indicados. Mas não. As surpresas ficaram restritas à categorias coadjuvantes ou técnicas, como Efeitos Especiais (Blade Runner 2049 bateu o excepcional Planeta dos Macacos), Melhor Documentário (Agnès Varda foi injustiçada ao perder o prêmio para o apenas razoável Icarus) e, como é de praxe, em Melhor Filme Estrangeiro, que deu o Oscar para o Chile.
De resto, tudo normal e operante. As categorias principais seguiram o cronograma esperado e fugiram de apostas arriscadas e polêmicas -- Corra! pelo seu inteligente tom de deboche; Três Anúncios para um Crime, pela bobagem que alguns consideram de levar a redenção à um personagem racista; e até Trama Fantasma, pela lentidão de sua história e pela força de seu final fora dos padrões. Premiaram, então, um filme seguro e honesto, mas sem grandes arroubos.
O desastre só não foi completo por conta de dois detalhes finais: o discurso inoxidável de Frances McDormand e a aparição, divertidíssima, de Warren Beatty e Faye Dunaway para apresentar, de novo, o Oscar de Melhor Filme. A atriz de Três Anúncios conseguiu arrepiar, enquanto todos os discursos foram mornos e surpreendentemente apolíticos -- até um ato sobre o Time's Up foi apático e pareceu apenas uma mera formalidade para citar o nome do movimento.
No final, ficou a sensação de que o Oscar 2018, de fato, perdeu oportunidades. Poderia ter ousado, polemizado e, principalmente, trazido mais polêmica e política à tona. Infelizmente, porém, a premiação foi uma das mais sem-graça dos últimos tempos. Decepcionante e nem um pouco condizente com o ótimo ano que o cinema teve ao longo de 2017. Mais uma boa mostra de como o Oscar não consegue, de jeito algum, traduzir a realidade das salas de cinema.
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