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Foto do escritorMatheus Mans

Em 2018, 'MasterChef' esquece a cozinha e mira no reality show


Que temporada mais estranha foi a do MasterChef em 2018. O programa, como ficou claro nas últimas edições, vinha perdendo um pouco de sua relevância por conta da repetição exagerada do formato e seu consequentemente esgotamento. A saída -- e a estratégia -- da cúpula da Band pra driblar essa falha ficou claro com a edição da competição regular de 2018: deixar a gastronomia um pouco de lado e apostar no reality show.

O programa, é claro, sempre foi um reality. No entanto, na maioria das outras edições, valorizava-se a comida e o modo que cada participante lidava com a gastronomia. Havia desavenças entre os participantes, é claro. Mas era algo quase natural, como surgem desavenças entre pessoas no trabalho ou na escola. Em uma das vezes -- na edição de Leo Young -- a desavença surgiu até pelo modo que o vencedor cozinhava. Fechado e quieto.

Aqui, o ar de reality show já deu as caras na primeira fase, quando as apresentações individuais saíram de cena para entrar no lugar os estranhos duelos. Ou seja: a produção escolhia, arbitrariamente, dois cozinheiros amadores para batalharem e, com isso, apenas um sair vitorioso e com passaporte para o programa. Ainda que faça sentido como show, esse formato perdeu em qualidade. Os duelos, geralmente, eram entre pessoas de estilos parecidos. Muita gente boa ficou por lá, enquanto os medianos seguiram.

Isso não seria problema se o programa não apostasse, novamente, a criar uma competição desmedida. Em todas outras edições, os competidores medianos acabaram filtrados -- alguns demoraram mais, como a saudosa Iranete. Aqui, não. Mais focado no reality show do que na gastronomia, o MasterChef 2018 criou provas mirabolantes e promoveu uma verdadeira guerra entre os seus participantes. Os medianos que souberam escolher seus aliados, então, foram longe. Maria Antônia venceu.

Esse problema estrutural, com certeza, não foi medido pela produção -- só ver a decepção no rosto dos jurados durante a semifinal entre Maria Antônia e Eliane. Elas estavam nervosas, sim, mas nada justifica o desastre sem proporções que foram os três pratos apresentados pela dupla. É sintoma dessa busca desesperada por competição, enquanto a gastronomia é deixada de lado. Cadê a Rita, o Padre, o Major nessa final?

Dois novos elementos narrativos também prejudicaram o andamento da competição: o primeiro é a eliminação dupla. Mal aplicada, ela se tornou uma ferramenta injusta e que não cabe dentro de um programa como o MasterChef. Na semifinal, por exemplo, ficou claro que Maria Antônia e Eliane deveriam ser eliminadas, dada essa lógica. Mas não tinha como, já que o programa precisa de um final. Então o que acontece? Ignoram a regra.

Outro ponto é a vantagem que o vencedor da prova anterior tem na seguinte. Ainda que dê um sabor a mais, isso é a grande questão prejudicial desta edição. Muita gente boa foi severamente punida por adversários medianos por conta de sorte ou azar do destino. É cruel.

Isso sem falar no esporro homérico e desproporcional que Paola aplicou na Kathleen, uma das queridinhas da edição. Além de causar uma grave ruptura da jurada mais querida com o público, a bronca deixou claro como os juízes ali tomam partido dos competidores. Ficou estranho, dolorido e muito, muito exagerado. Kathleen merecia sair, mas não desse jeito.

Com a vitória inesperada da mediana Maria Antônia, que competiu com o duas vezes eliminado Hugo, fica uma sensação estranha nessa competição. Os bons saíram logo. Quem soube jogar, foi ao infinito e além. E aí fica a dúvida: MasterChef é um programa de sorte? De alianças? De passar a perna no outro? Achei que era gastronomia.

 
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