Foi no coração do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, que a galeria de arte contemporânea C.galeria encontrou um espaço para chamar de seu após anos em Ipanema. E para inaugurar o novo ambiente, bem mais espaçoso e convidativo, a artista plástica Eloá Carvalho apresenta, desde 18 de setembro, a exposição Copydesk. Assim como em seus outros trabalhos, a artista carioca fez uma extensa pesquisa para encontrar o tom ideal das obras. Neste caso, a relação das pessoas com a literatura.
"Copydesk surge a partir de um arquivo pessoal que comecei a fazer em 2013, quando de fato venho a trabalhar com arquivos fotográficos institucionais. Encontrei uma foto do artista Joseph Albers lendo, onde sua postura e todo seu gestual dialogava com uma atmosfera muito familiar de imagens que tenho me apropriado desde o início da minha trajetória artística", conta a artista ao Esquina. "A partir disso, fui mergulhando nesse universo de imagens e criando costuras com processos artísticos que comecei a desenvolver em projetos anteriores, onde associo escrita com pintura e desenho."
Eloá, então, coletou mais de vinte cartas que indicavam a relação de pessoas com a literatura, habitando diferentes épocas, ambientes e extratos sociais. Desse jeito, todas as pinturas e desenhos de sua nova mostra, que fica em cartaz na C.galeria até 27 de outubro, acabam por transitar em diferentes significados e inspirações, ainda que tenham uma temática em comum orientando os delicados traços da artista carioca.
Assim, é intrínseco ao trabalho de Eloá a percepção de novos horizontes a partir de cenas aparentemente comuns. Há reinterpretações de cenas e momentos, sem medo de trazer significados para o centro da discussão. É algo muito parecido com o que a artista carioca fez com a badalada exposição Todo Ideal Nasce Vago, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), onde ela reinterpretou o acervo fotográfico das exposições que já passaram pelos corredores do museu. É lírico, real e imaginativo.
Sobre as dificuldades em criar arte a partir da escrita, Eloá ressalta da profundidade do mergulho que precisou realizar no material que a inspirou. "É um exercício intenso que requer um nível de envolvimento grande com as questões propostas", diz a artista. "Recebo um material muito rico, sensível e potente das pessoas que aceitam compartilhar suas memórias e impressões, e que me acompanham ao longo do tempo de produção dos trabalhos. É um momento especial, tanto para o projeto como para mim."
No caso da nova exposição da C.galeria, Eloá também foi além: pela primeira vez, ela criou uma obra inteiramente baseada no som. E, ainda assim, relacionada ao ato íntimo e pessoal da leitura.
Para Eloá, Copydesk é um caminho natural de sua carreira e, também, um momento para refletir sobre o que tem feito até então. "A exposição é mais um desdobramento das minhas investigações artísticas, porém com alguns novos formatos que me interessam trabalhar, como por exemplo o som. Fico sempre na expectativa da montagem, pois os trabalhos acabam sendo escolhidos também a partir da relação com a arquitetura do lugar que irei expor", explica a artista plástica. "É quando as relações entre os trabalhos somados ao espaço ficam mais fortes e interessantes. É quando realmente consigo ver de fato alguns trabalhos e, até mesmo, entendê-los melhor."
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