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Foto do escritorMatheus Mans

'É uma metáfora do meu medo', diz diretor sobre 'O Segredo de Davi'


Em um primeiro contato com o longa-metragem O Segredo de Davi, fica difícil compreender qual o significado daquilo tudo. Por vezes parece um horror, em outras parece um suspense psicológico. É uma alegoria? É uma viagem alucinógena? "É uma metáfora do meu medo, da minha família, da minha experiência pessoal", põe um ponto final o diretor Diego Freitas (do curta Sal). "É um filme que tem muito da minha história de vida."

A trama de O Segredo de Davi, porém, é macabra. Acompanha a jornada de Davi (Nicolas Prattes), um rapaz atormentado e antissocial que passa grande parte de seu tempo filmando e observando outras pessoas em silêncio. A coisa só muda de figura, porém, quando ele mata uma vizinha (Neusa Maria Faro), já idosa. A partir daí, essa senhora passa a acompanhá-lo e a insistir que ele cometa outros crimes. E assim surgem perguntas novas, como "quem é aquela senhora?" e "por qual motivo ela voltou à vida?".

É, em suma, uma história difícil, que não é descoberta à primeira vista. "É um filme de camadas, que pode ser revisto e lido de outra maneira", explica, novamente, o diretor e roteirista. "O fato dele ser um serial killer ou não importa menos. A questão é sobre perda de memória afetiva e o reencontro com esse passado. É disso que fala o filme."

Sendo um mergulho tão pessoal na vida e experiência de Diego, é esperado que a escolha de elenco e equipe técnica também tenha sido minucioso. "Falei com uns dez fotógrafos antes de bater o martelo", afirma o cineasta, que acabou por escolher o diretor de fotografia Kaue Zilli. A escolha, sem dúvidas, foi acertada. A estética do filme é um deslumbre, ajudando a dar o tom geral da narrativa. "Misturamos objetos de épocas diferentes, usamos cores contrastantes. Foi tudo bem planejado", afirma Diego.

Desafio

O elenco, durante coletiva de imprensa realizada em São Paulo, deixou claro que foi um desafio construir seus personagens. A respeitada Neusa Maria Faro (Alma Gêmea) disse que sua personagem foi um desafio crescente. "A minha personagem não foi fácil", contou a atriz. "Mas eu trabalho muito próxima da direção e fiquei muito parto do Diego para entender melhor o meu papel, os objetivos do que eu estava fazendo ali. Sozinha eu não conseguiria fazer a Maria, de tão complexa e importante que ela é pra trama. Afinal, conforme fui filmando, mais dificuldades foram aparecendo gradativamente."

André Hendges, que interpreta um amigo da faculdade do protagonista Davi, afirmou que a complexidade de seu personagem vinha da tensão sexual entre ele e o protagonista. "É uma coisa muito freudiana, uma tensão que era difícil de deixar só no ar", disse o ator, que antes trabalhava com publicidade e faz sua estreia no cinema.

E Diego, ao ser questionado por essa frequente tensão sexual em suas produções, afirmou que "pode ter um impedimento" em sequências mais explícitas e afirmou que não gosta de ficar preso em barreiras. "O filme é um suspense psicológico, mas trabalhei o clima e o roteiro com os atores e personagens de maneira que a história e a alegoria por trás expandissem as barreira do gênero", disse. "É, afinal, cinema."

 
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