O cineasta Breno Silveira começou sua carreira se dedicando à fotografia de longas, como os regulares Carlota Joaquina e Eu, Tu, Eles. Depois, porém, ele acabou encontrando seu caminho na direção de filmes e ganhou destaque com produções que marcaram o cinema nacional, como 2 Filhos de Francisco e Gonzaga, de pai pra filho. Agora, ele volta a revisitar o nordeste brasileiro -- e a explorar a emoção dos espectadores -- com o drama épico Entre Irmãs.
“Queria fazer um filme sobre Maria Bonita”, conta o diretor em entrevista realizada na última segunda-feira, 2, em coletiva em São Paulo. “No entanto, logo percebemos que não teria material suficiente para um longa-metragem apenas sobre ela. Como saída, encontramos o livro da Frances [de Pontes Peebles, O Cangaceiro e a Costureira], e vimos que era o que a gente precisava, colocando um ‘tempero’ em cima de uma história que já chegou pronta pra gente.”
Na trama de Entre Irmãs, acompanhamos duas irmãs no sertão do nordeste, a sonhadora Emília (Marjorie Estiano) e a explosiva Luzia (Nanda Costa). Enquanto uma quer encontrar um marido e ir pra capital, a outra só pensa em dar liberdade aos passarinhos da região e tocar sua vida. As duas, porém, tomam diferentes rumos quando Luzia é levada pelo bando dos cangaceiros de Carcará (Júlio Machado) e Emília casa com um rapaz de Recife. Temos a história do filme.
Para grande parte do elenco e da produção, a aposta do filme é a atualidade dos temas que são tratados, como homossexualidade e feminismo. “É um filme sobre mulheres e com duas personagens femininas extremamente fortes e que traz discussões relevantes para o atual momento do País”, afirma Silveira sobre sua produção, repetindo um argumento usado até nas recentes comédias Duas de Mim e Chocante. Apesar de ser uma causa legítima, há um eco intermitente no ar.
Já sobre a questão do preconceito contra homossexuais, o filme, de fato, choca por ser tão atual, mesmo tendo a história retratada há oitenta anos. “Quem vê o filme fala que ‘nessa época já tinha isso’. Essa é a questão. A história mostra como ainda repetimos argumentos e ideologias de décadas atrás”, afirma a atriz Letícia Colin, que faz uma das personagens homossexuais de Entre Irmãs. “Ainda temos que levantar uma bandeira que nem deveria mais existir.”
Influências
Além das temáticas polêmicas, Breno Silveira não deixou de reafirmar suas influências e o gosto que tem em filmar no nordeste brasileiro. “Não tenho vontade alguma de falar sobre personagens urbanos”, disse o cineasta, ao ser questionado sobre a região estar sempre presente em seus filmes. “Estou chateado com o cinema mundial. Só contam histórias reais e secas. Quero colocar um pouco de magia na realidade, viajando nos sonhos e na emoção das pessoas.”
No entanto, apesar da crítica ao cinema mundial e à falta de ‘magia’ nas produções, Breno mostrou certo afastamento de recentes produções de impacto na sétima arte, indicando que não tem paciências com filmes épicos sobre batalhas no espaço ou que mostra a luta entre heróis. “Se eu assisti dois filmes do Batman na minha vida foi muito”, diz o cineasta, sem vergonha da declaração. “Realmente, não gosto de ficção científica e de filmes de aventura. Não me identifico.”
Curiosamente, porém, Entre Irmãs tenta ser um épico brasileiro, cheio de grandiosidades cênicas e de produção -- algo frequente, justamente, em filmes de ficção científica e dos tais super-heróis que Breno repudia.
Para saber se o resultado do filme do cineasta deu certo, então, volte ao Esquina em 12 de outubro, quando o longa chegar aos cinemas. Até lá, já teremos um texto esmiuçando cada detalhe do longa. Mas já fica um spoiler sobre a crítica: realmente, faltou noção para Breno do que é um verdadeiro épico. Faltou uma pitada de Star Wars, Star Trek ou de Batman em sua vida. Afinal, passando no nordeste ou num planeta distante, cinema é cinema. E precisa ser respeitado.
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