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Foto do escritorMatheus Mans

'É preciso dar uma cara ao horror brasileiro', diz diretora de 'O Animal Cordial'


A sala de cinema ainda estava impactada com a trama que acabara de se desenrolar na tela quando o elenco e a produção de O Animal Cordial chegaram para responder às perguntas de jornalistas e blogueiros na última terça-feira, 31. Não é à toa que demorou para a primeira questão ser engatada pelos presentes, já que ainda se processava o que fora visto e interpretado no primeiro longa-metragem da cineasta Gabriela Amaral Almeida.

A história é forte: Inácio (Murilo Benício) é o dono de um restaurante estranho e brega, que emprega a garçonete Sara (Luciana Paes) e o chef Djair (Irandhir Santos). Em um dia, que parece comum como qualquer outro, o trio está servindo clientes quando dois assaltantes entram no local. O que se sucede é um circo de horrores, onde pessoas são sequestradas e entram numa espiral de violência e psicose, sem chances de sair ilesas.

No entanto, quando a primeira pessoa quebrou o silêncio, a conversa não mais arrefeceu. Afinal, ainda que concentrado em pouco mais de 90 minutos, O Animal Cordial é uma salada de significados, camadas, interpretações, leituras e vivências. Uma delas é a clara capacidade, cada vez maior, do cinema nacional produzir filmes de horror originais e, de fato, aterrorizantes -- vide As Boas Maneiras como outro bom exemplo.

"O Brasil vive um momento complexo e, acredito, a resposta deverá vir através da arte", disse a cineasta Gabriela Amaral Almeida durante a entrevista coletiva. "O cinema de gênero deve ser um desses mecanismos. No entanto, nós ainda precisamos criar a cara do horror brasileiro. Tudo bem usar as produções americanas e europeias como farol. Não tem problema nisso. No entanto, é preciso, a partir dessas inspirações, moldar sua narrativa."

A própria Gabriela não tem medo de admitir que bebeu de diversas fontes para compôr sua história -- ainda que o produtor Rodrigo Teixeira, também presente na coletiva, tenha ficado um pouco contrariado com uma comparação de O Animal Cordial com um dos segmentos de Relatos Selvagens. "Me inspirei muito nos slashers italianos, em Hitchcock, na estética do [movimento cinematográfico] Giallo para compôr o filme", diz a cineasta.

O elenco, aliás, também mostrou ter sentido o mesmo impacto que o público. Luciana Paes, que faz as vezes de protagonista com Murilo Benício, brincou que sentiu como se estivesse, de fato, sendo sequestrada. "O clima era tenso e precisamos entrar num clima muito intenso dentro do set", conta a atriz. Já Murilo elogiou a forma que Gabriela trabalha. "Todo o filme foi gravado em sequência", conta. "Isso nos ajuda muito a entrar no papel".

E o Oscar?. Rodrigo Teixeira -- produtor brasileiro indicado ao Oscar pelo filme Me Chame Pelo Seu Nome e que também chamou a atenção com o excepcional A Bruxa -- foi indagado sobre a possibilidade de O Animal Cordial ter uma vaga no Oscar de 2019. Depois de uma longa e sonora gargalhada da diretora e de parte do elenco, Rodrigo foi honesto.

"A chance é mínima", disse o produtor. "Queria muito, mas a Academia ainda olha muito pouco para o cinema de gênero. E temos outra questão: a chance de selecionaram o filme como representante do Brasil é quase nula. São cinco pessoas que decidem por uma classe artística inteira. Já ouvi do [presidente da Academia] John Bailey que o Brasil não está levando a sua essência para o Oscar. Apenas produções que se baseiam nos americanos. E é verdade."

 
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