Susana Schnarndorf se consagrou como uma das principais triatletas do Brasil na década de 1990, quando conquistou o pentacampeonato brasileiro do esporte e marcou seu nome mundialmente com participações nos Jogos Pan-Americanos de 95. Em 2005, porém, surpresa: a atleta, então com 38 anos, foi acometida por uma doença degenerativa incurável, a atrofia de múltiplos sistemas. Apesar da depressão que se abateu sobre Susana, não desistiu: alguns anos depois, voltou a treinar o triatletismo, ampliou os esforços e voltou consagrada para os Jogos Paralímpicos do Rio, em 2016.
É essa trajetória que o delicado documentário Um Dia para Susana tenta acompanhar e relatar. Dirigida pelos estreantes Giovanna Giovanini e Rodrigo Boecker, o longa-metragem faz um passeio pelos esforços da triatleta para a recuperação e, enfim, conseguir um lugar ao sol nos jogos paralímpicos. Além disso, Um Dia para Susana não se furta de contar dramas pessoais e familiares da esportista, humanizando ainda mais a história e emocionando com a trajetória. "Gostaríamos de chamar atenção para as pessoas se abrirem às diferenças e nelas encontrar o que nos une como seres humanos", ressaltam os diretores do longa em entrevista feita por e-mail ao Esquina.
Confira, abaixo, a conversa completa com Giovanna Giovanini e Rodrigo Boecker:
Esquina da Cultura: Primeiro, como foi que surgiu a ideia do filme? Como foi o contato inicial com Susana Schnarndorf?
Giovanna Giovanini e Rodrigo Boecker: A ideia surgiu ao ver uma reportagem sobre a Susana. A gente não se conhecia e me apresentei através de mensagem do Facebook. Demoramos alguns meses para finalmente nos encontrarmos mas logo de início ela topou a proposta de dois desconhecidos filmarem sua vida. Porém, tem um pequeno detalhe: queríamos, inicialmente, rodar um curta. Ao começarmos a filmar em dezembro de 2013, sentimos que a história necessitaria de mais desenvolvimento para que não se tornasse mais uma repetição do que já consta em matérias e reportagens.
Esquina: Este é o filme de estreia de vocês. Como foi o início dessa caminhada? Era o que vocês esperavam?
G&R: O início da caminhada, como tudo que é novo, teve muita dificuldade e muito erro. Mas ao mesmo tempo, é tudo aprendizagem. Um longa metragem, feito basicamente por duas pessoas, é um terreno árido. Fizemos desde carregar as baterias da câmera até a produção executiva. Contamos com muito apoio de vários colegas e amigos, além de ter participado de diversos laboratórios, o que nos abriu muito a mente para diversos aspectos do filme. Posso afirmar que não era o que esperávamos porque, na real, não sabia o que esperar, tudo que veio foi absolutamente novo.
Esquina: Surgiram dificuldades ao longo da gravação? E quais as surpresas?
G&R: As dificuldades foram diversas, desde autorizações para filmar como a dificuldade de lidar com o inesperado da vida da Susana. É curioso porque ao mesmo tempo que uma atleta tenha uma vida de treinamento super regrada, a Susana é muito inconstante em sua vida pessoal. Muitas vezes ela teve piora da doença ou esteve em crises de depressão, que a fazia se isolar e sumir. Isso nos causava muita preocupação e muitos cancelamentos de filmagens. Pecisamos de muito tempo para conseguir ganhar confiança mútua, mas quando aconteceu, gerou-se um elo forte. A maior surpresa foi presenciar os seus dramas familiares que começaram enquanto filmávamos.
Esquina: O filme conta com cenas muitas diversas de Susana -- seja competindo, se relacionando com pessoas ao seu redor, etc. Como foi gravar em ambientes tão distintos?
G&R: Foi insano. Como a Susana não faz planos com antecedência na sua vida pessoal, ficávamos à deriva do que ia acontecer. Portanto, tivemos que aprender a filmar com equipamento leve e versátil. O desafio maior era conseguir criar uma amarra visual no filme, já que as decisões eram tomadas em cima da hora. Os ambientes, as luzes, a posição das pessoas e da câmera, o som, tudo tinha que ser improvisado, o que muitas vezes foi cansativo ou decepcionante. Porém, o lado bom, foram as surpresas que nos presentearam com cenas espontâneas e únicas.
Esquina: Os esportes paralímpicos ainda ficam muito à margem da atenção da sociedade. Esperam despertar o interesse com o documentário?
G&R: Não sei se conseguiremos chamar atenção para o paradesporto, mas se acontecer, não seria nada mal. Gostaríamos de chamar atenção para as pessoas se abrirem às diferenças e nelas encontrar o que nos une como seres humanos.
Esquina: Qual a expectativa a partir de agora com o filme? Há previsão de estreia? Já existem novos projetos no caminho?
G&R: A expectativa é de seguir na trilha dos festivais ainda esse ano e ano que vem. Teremos distribuição através da Vitrine Filmes em 2019 também. Já temos algumas ideias para curtas, mas tudo ainda muito embrionário.
* Filme assistido durante a cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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