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Foto do escritorMatheus Mans

Diretores falam sobre desafios de 'Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos'


Ao ver as primeiras cenas de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, fica claro que não é um filme convencional, banal. O longa-metragem, dirigido pela brasileira Renée Nader Messora e pelo português João Salaviza, acompanha a jornada de um jovem indígena que se vê num empasse. O pai morreu e agora, após fazer contato com o espírito do ente querido, ele precisa fazer uma tradicional festa de fim de luto. Ao mesmo tempo, ele se vê na obrigação de assumir lideranças indesejadas da tribo Krahô, no Tocantins.

"A gente tinha a vontade de registrar as ideias, os mitos e as histórias dessa aldeia", conta Renée, que frequenta a tribo dos Krahô desde 2009 e já tem uma relação forte com os seus moradores. "Já fizemos trabalhos com a escola indígena, temos cinegrafistas Krahô, que filmam suas coisas e colocam no YouTube. Esse trabalho foi se transformando até a chegada do João, em 2014, para contarmos a história de um rapaz que era muito próximo da gente e que passou um processo parecido com o do Ihjãc."

Depois disso, a coisa evoluiu. Conseguiram apoio em Portugal para realizar a pesquisa do filme, se aproximaram mais dos Krahô -- que aceitaram a ideia aos poucos. E hoje, com a estreia do filme, tudo mudou no País. Houve um impeachment, reformas e um fascista hoje ameaça a vida indígena. É importante contar essa história agora? Renée nem titubeia. "Há uma multiplicidade de espíritos e de corpos no Brasil que não pode ser ignorada", diz. "Esse governo quer aniquilar pensamentos diferentes. Temos que fazer essas vozes dissonantes circular pra verem o que é Brasil, aqui dentro e lá fora."

Ao falar em "lá fora", aliás, há muito o que contar. Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos passou por Cannes, foi premiado. Já circulou em vários países do mundo, até na gelada Sibéria. Segundo João, sempre bem recebidos. "Na Sibéria, a plateia recebeu o filme com um misto de emoções", conta o diretor português. "Quando começamos a falar que os indígenas das Américas passaram por lá para chegar aqui, eles ficaram mais animados. É interessante como há uma identificação com o que é contado ali."

O filme, claro, já foi exibido para os Krahô. As reações, assim como na Sibéria, foram mistas. "As crianças achavam graça de algumas coisas, os mais velhos ficaram satisfeitos em ver que histórias e mitos estão sendo registrados", disse João, animado. "É divertido saber que o pai do Ihjãc, na verdade, está vivo. É a única relação familiar que não é verdadeira no filme. Mas, assim que ele viu o longa, entendeu o que queríamos fazer e ficou muito satisfeito. Não ligou mais de termos 'matado' ele no filme."

 
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