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Foto do escritorMatheus Mans

Diretora de 'Paraíso Perdido' fala sobre desafios do novo filme


Onze anos é o exagerado espaço entre os lançamentos dos filmes Ó Pai, Ó e Paraíso Perdido, da cineasta baiana Monique Gardenberg. Durante esse período, ela se dedicou à outros projetos audiovisuais. No entanto, nenhum ligado ao cinema -- dentre eles, a soteropolitana gravou séries de TV, adaptou peças de teatro e, inclusive, comandou um show de Caetano e Roberto em homenagem à Tom Jobim. Pra ela, o "tempo na relação" foi benéfico.

"Logo que lancei o show de Caetano e Roberto em homenagem ao Tom Jobim, li uma crítica horrível de um veículo [da imprensa]. Senti, então, que precisava falar sobre intolerância", disse Gardenberg durante entrevista em São Paulo, para promover o lançamento de Paraíso Perdido. O novo filme, sem dúvidas, também fala sobre isso. Intolerância, novas sexualidades -- ou a ausência delas --, música romântica, a noite paulistana.

"Na história, os sexos desaparecem. É um filme que fala sobre o amor e que, também, homenageia a música se valendo dela própria", contextualizou a diretora. Para contar essa história, Monique se valeu de grande elenco: Erasmo Carlos, Jaloo, Seu Jorge, Lee Taylor, Marjorie Estiano, Humberto Carrão, Júlio Andrade, Hermila Guedes, Malu Galli. Todos embalados por muita música romântica e a história da boate fictícia Paraíso Perdido.

Segundo ela, o longa-metragem é uma ode para um País mais livre, mais aberto, mais moderno, mais igual. "Vivemos um período tão obscuro na história do Brasil, tão desigual, tão fechado", disse a diretora, quando questionada sobre os meandros da trama de seu filme. "No paraíso perdido existe tolerância, igualdade e afeto, onde as pessoas se respeitam. Quero que o filme contribua para que pessoas se abram à esse mundo."

Processo. Para criar esses personagens tão díspares e, por vezes, tão marginais, Monique teve um processo curioso de elaboração de roteiro. "Estava ouvindo O Mais Importante é o Amor, do Márcio Greyck, e logo veio a imagem de uma mulher ouvindo essa música enquanto se maquiava", contou a diretora e roteirista. "Depois me veio a imagem de outras mulheres e, assim, fui compondo o filme. Era como se estivesse lendo capítulos de livros."

Depois disso, ela ainda fez análises psicanalistas de cada um dos personagens, para entender suas psiques e compreender se os rumos de cada um eram viáveis para suas personalidades.

O elenco, também presente em peso na coletiva de imprensa, também elogiou a condução de Gardenberg. "Interpretei uma mulher surda, com síndrome do pânico, que é violentada pelo marido. Fiquei impactada pela trama e pelo sofrimento dessa mulher", disse Malu Galli, uma das melhores em cena em Paraíso Perdido. "Mas logo a Monique me mostrou que ela era uma pessoa solar e minha interpretação ganhou ares interessantes."

Seu Jorge, Jaloo e Erasmo Carlos, essencialmente cantores, também elogiaram a forma que seus personagens ganharam vida. "Eu não sabia o que estava fazendo, já que li o roteiro muito em cima da hora", conta o despojado intérprete de Burguesinha e Mina do Condomínio. "Mas vi que estava indo para um bom caminho e a Monique ajudou muito nisso. O Brasil tem tudo para ser um País forte, moderno. É preciso de histórias como essa pra ajudar nessa construção."

 
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