Antuérpia, década de 1940. A Europa está sufocada pelo nazismo. Na Bélgica, onde se passa o filme Caminhos da Sobrevivência, estreia desta quarta-feira, 31, não é diferente. Os nazistas estão na rua e os policiais servem apenas para intermediar a relação entre o povo e os invasores. É nesse contexto que surge a história de dois jovens policiais tentando sobreviver.
Tentando sobreviver, sim, já que a jovem dupla está em apuros. Wil (Stef Aerts) e Lode (Matteo Simoni) estão fazendo escolta de um soldado nazistas solitário que vai atrás uma família judia para extorqui-los. No meio do processo, as coisas começam a sair do controle, o nazista fica violento. É aí que os dois policiais, em um ato de revolta, matam o soldado. E agora? O que fazer?
O diretor Tim Mielants (De Patrick) busca analisar os caminhos desses dois jovens, mas principalmente de Wil -- que, inclusive, dá nome ao longa-metragem em seu título original.
Há uma busca por entender a situação desse rapaz, que vive na corda bamba. De um lado, há aqueles que querem levá-lo para dentro do seio nazista, colocando-o contra os judeus e dentro dessa lógica de genocídio. Por outro lado, porém, Wil vê humanidade naqueles judeus que são tratados como animais e, acima de tudo, tem o desejo de ser resistência frente aos absurdos.
É interessante o tom de thriller adotado por Mielants em boa parte de Caminhos da Sobrevivência, deixando o personagem de Wil constantemente tenso. Ele sente que a verdade vai estourar a qualquer instante, deixando o espectador também com a respiração presa. São boas também as decisões estéticas de Mielants, que deixa o filme com um ar claustrofóbico.
O problema é a falta de profundidade de Wil, o protagonista. Por mais que esteja nesse dilema moral entre o que sua família quer versus seu interesse amoroso ou, ainda, das pressões sociais versus o que realmente deseja, pouco sabemos sobre o personagem. Ele está apenas ali, observando passivamente o que está acontecendo. Nunca vai pra ação. É parado demais.
Isso, infelizmente, contagia o filme. Não conseguimos desvendar exatamente o que o personagem quer ou deseja. A passividade do personagem, aos poucos, se torna a passividade do filme frente às emoções -- ainda que tenha uma cena desesperadora de um policial da Antuérpia cansado de mandar os judeus à morte. Falta mais ação e vida para essa história.
Com tamanha dicotomia moral, Caminhos da Sobrevivência deveria ser mais ousado, potente e emocional. No final, a apatia derruba a história e, mesmo com bons momentos, não há boas ideias que segurem uma história tão pacata, tão parada, tão desinteressante. Uma pena, enfim, que Mielants -- nessa adaptação do livro de Jeroen Olyslaegers -- confunda tensão com apatia.
Acho que tu não entendeu. Quem é apático também mata