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Foto do escritorMatheus Mans

Crônica: Com Carlos Ruiz Záfon e 'A Sombra do Vento', aprendi a amar os livros


Lembro como se fosse ontem. Entrei num sebo aqui perto de casa, que hoje fechou as portas por conta da pandemia, e comecei a caçar algum livro pra levar pra casa. E tudo ali era um caos. Administrado pelo Seu Antônio -- um dos responsáveis por me fazer gostar de ler --, o Sebo Mosaico tinha pilhas de livros espalhados por todos lugares e cantos, fora das estantes tortas.


Mas aí, no meio desse caos, encontrei um exemplar surrado de Marina. Não conhecia Zafón, não tinha lido nada de literatura espanhola contemporânea. Mas a capa e a sinopse me pegaram. Comprei o livro por dez reais. Depois, já devorei o livro. No dia seguinte, voltei ao sebo para outra aventura espanhola. Foi aí que encontrei um exemplar de A Sombra do Vento. Foi pura magia.


Antes de tudo, logo nas primeiras páginas, encontrei uma nota de 20 reais -- exatamente o valor do livro. O dono antigo devia marcar suas leituras com dinheiro e esqueceu a nota lá. Por algum motivo, isso me instigou ainda mais a leitura. E mergulhei. Como nunca tinha mergulhar em um livro, naqueles meus 18 ou 19 anos de vida. Foi uma experiência transcendental, forte, poderosa.

A Sombra do Vento, de alguma maneira, despertou algo em mim. Afinal, mais do que ser um livro sobre uma realidade quase fantástica, a obra de Záfon era uma ode aos próprios livros. É difícil não se encantar, se emocionar e, principalmente, se apaixonar pela leitura durante esse mergulho na escrita do autor espanhol. Era um convite de Záfon para você, leitor, se entregar.


Hoje, acordei com a notícia da morte de Záfon. 55 anos. Um câncer de cólon, pelo visto. Fiquei triste e abalado, igual à morte do crítico Rubens Ewald Filho. Aí peguei me pensando: conhecia REF das cabines, de conversas rápidas antes dos filmes. Como o choque pode ter sido igual? A sensação, afinal, era de que conhecia Zafón. A sensação de que ele me introduziu aos livros.


É doloroso ler sobre sua partida. O que mais será que ele estava preparando? Quais outras histórias viriam pela frente? É triste saber que não teremos novos Zafón. No entanto, ele deixou uma obra deliciosa, mágica, encantadora. Já separei meus livros -- velhos e um tanto quanto machucados, coitados -- pra reler. E a nota de 20 reais, sem dúvidas, será o meu marcador.

 
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