Existem filmes que são tão ruins que se tornam curiosos. Dá vontade, afinal, de saber como algo tão ruim conseguiu chegar às telas do cinema. Ou, no caso de A Última Coisa que Ele Queria, no catálogo da Netflix. Uma das maiores decepções do Festival de Sundance, o longa chegou nesta sexta, 21, ao serviço de streaming e é uma bagunça: nada, absolutamente nada, funciona aqui.
Dirigido por Dee Rees (do lacrimoso Mudbound), A Última Coisa que Ele Queria conta a história de Elena (Anne Hathaway), uma jornalista veterana que abandona a cobertura da campanha presidencial de Ronald Reagan para ajudar o pai (Willem Dafoe) num acordo de negócios em um lugar da América Central. No entanto, conforme o tempo passa, o acordo vai se complicando.
Drama político, e com uma pegada de thriller, a produção lembra o ainda inédito Wasp Network, de Olivier Assayas, e que passou na Mostra de São Paulo. Não apenas por sua história envolvendo politicagem e grupos infiltrados, mas pelo desastre de sua execução. Tudo na trama é superficial, atrapalhado, confuso. Coisas não se encaixam e, o que encaixa, é desinteressante.
Curioso notar como é perceptível, a cada cena, como as funcionalidades técnicas básicas de um longa não estão funcionam ou, então, não estão em harmonia. A cena que é bem filmada não faz sentido na história. A que faz sentido é mal editada. A que é bem editada é mal filmada. E por aí vai. Parece, realmente, que houve um boicote geral pra que o longa-metragem não funcionasse.
A sensação é que algo muito errado aconteceu durante a produção do filme. Há muitas cenas soltas, muitos acontecimentos sem conexão emocional -- nem com a personagem de Hathaway, que navega entre cenas aleatórias e outras absurdas. Será que todo mundo aprovou isso?
A própria Anne Hathaway, vencedora do Oscar pelo fraco Os Miseráveis, está completamente perdida em cena -- talvez nem ela tenha entendido a proposta de Dee Rees e do roteiro assinado pela própria cineasta e por Marco Villalobos. A atriz parece não entrar em sua personagem e as emoções que ela sentem passam batidas para quem está do outro lado da tela. Não funciona.
Dafoe está igualmente desperdiçado, com um personagem desinteressante. Agora: que piada a participação de Ben Affleck -- que tem presença forte no pôster. É quase um figurante em tela.
É um filme absolutamente confuso, atrapalhado e frágil em todos seus pilares essenciais. Não dá pra entender como uma produção tão pouco harmoniosa, com erros de direção, edição, fotografia, atuação e roteiro, consegue sinal verde para ser lançado mundialmente dessa maneira. É vergonhoso. A Netflix precisa, urgentemente, começar a pensar melhor nos gastos.
A vontade, no final, é mergulhar nas histórias de bastidores e, até, ler o roteiro original. É impossível que esse projeto tenha nascido de maneira tão torta e desinteressante. Filmeco.
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