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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Zona de Interesse' é filme forte, mas que peca pela dureza de sua história



Enquanto assistia a Zona de Interesse, filme que estreia oficialmente nos cinemas em 22 de fevereiro e com sessões de pré-estreia a partir desta quinta, 8, sabia que estava presenciando um filme importante. Afinal, esta produção de Jonathan Glazer, indicada ao Oscar, é inegavelmente um filme importante -- por sua história e pela mensagem estética que passa.


Veja só: o longa-metragem acompanha a rotina de uma família alemã que mora nos fundos do campo de concentração de Auschwitz. Acaba o muro, começa a casa dos sonhos dessa típica família -- com pai, mãe e filhos louros e perfeitos. Glazer, assim, pega sua câmera, dá alguns passos para longe do campo de concentração e mostra o que acontece ao redor desse lugar.


Uma decisão, obviamente, arriscada. O Menino do Pijama Listrado, ao mostrar o "lado dos nazistas", errou feio -- hoje em dia, já é consenso de que o filme e o livro humanizam nazistas em uma escala bastante preocupante. No entanto, Glazer (Sob a Pele) não é um cineasta qualquer: ele conta com atributos técnicos potentes para criar um clima de terror no filme.


Sim, Zona de Interesse não deixa de ser um filme de horror, abordando a banalidade do mal, em que o ser humano simplesmente esquece e/ou ignora os horrores ao seu redor. Em um trabalho de som brilhante, o longa-metragem de Glazer coloca, desde o começo, sons de tiros, gritos e afins invadindo a paz da casa da família nazista, enquanto eles tomam café da manhã.



É um discurso potente e que, apesar de falar do sofrimento dos judeus, pode ser hoje compreendido por um outro lado, mostrando o mundo normalizando o sofrimento dos palestinos, por exemplo. Não dá para assistir a Zona de Interesse e sair da sessão sem ter um sentimento barulhento no peito, mostrando o grau de maldade que nós podemos chegar.


Vale dizer, além disso, que o longa-metragem não fica só no mundo dos sons. O roteiro, assinado por Martin Amis e Glazer, também gosta de mostrar as contradições dessa família contra o sofrimento dos judeus. A esposa (Sandra Hüller, ela de novo!) se declara "rainha de Auschwitz". Quando precisam sair da casa, a família não quer deixar o local para trás.


Tudo isso -- mais uma cena final histórica, que arrepia -- mostram que há uma habilidade técnica impressionante. No entanto, existe uma sensação de que o longa-metragem está tão preocupado com seu formalismo técnico e estético que falta emoção. O filme é muito duro, muito frio, muito regrado. Parece que o medo de Glazer com o tema afetou esse equilíbrio.


Com isso, senti uma dificuldade imensa de acessar a emoção do filme -- que deveria chegar junto com a pancada final, na mistura de linguagens, mas que nunca vem. Me senti distante da história. De novo: é óbvio que é uma história importante, assim como é evidente a perícia técnica do diretor. Mas isso, infelizmente, não é o bastante para entregar um filme emocionante.


E emoção, na minha visão do que é cinema, é imprescindível. Não importa qual seja (raiva, tristeza, alegria, desespero). É preciso sentir algo enquanto o filme nos confronta ou, então, quando nos acalenta. Zona de Interesse não chega nesse ponto. Ao ser formal demais, perde a oportunidade de ser uma pancada, um estouro. É forte? Com certeza. Mas senti isso externamente ao meu corpo, não internamente. E, com isso, a mensagem se dilui.


 

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