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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Zama’ é filme com mensagem importante, mas muito maçante


Logo na primeira cena do longa-metragem argentino Zama, comandado pela experiente diretora Lucrecia Martel (O Pântano) e em coprodução com o Brasil, vemos um personagem olhando para o mar. Ele, porém, não está pensando em dar um mergulho. O personagem, que é a figura perfeita e idealizada de um colonizador em terras estrangeiras, está apenas esperando. Esperando a próxima onda, a sombra de uma embarcação e a de sua possível transferência.

Esse é o tom do novo filme de Martel, que chega ao Brasil nesta quinta-feira, 29, após ser exibido em algumas sessões na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Pra compor este cenário, o espectador acompanha o espanhol Diego de Zama (Daniel Giménez Cacho), funcionário da coroa que precisa zelar pela ordem em um pequeno povoado nos confins da colônia espanhola e lidar com políticos bizarros, índios e toda a complexidade de um local sem infraestrutura.

O modo que Martel conta esta história, baseada num livro de Antonio Di Benedetto. é muito estranha, toda entrecortada e sem muita ligação entre uma cena e outra. Personagens, que parecem importantes, vêm e vão sem muita explicação e as coisas acabam bem confusas. Há diálogos, aliás, que são vazios em essência e obrigam o espectador a prestar atenção na música, nos gestos e na composição da cena. Afinal, alguma coisa ali precisa ter algum sentido.

Mas, com o passar do tempo, o objetivo de Martel vai ficando claro: a cineasta não quer, de jeito algum, atribuir algum sentido para aquela narrativa. A ordem é caos, já que o caos foi o reinante durante a presença da colônia espanhola na América do Sul. Lhamas entrem em cena significado recorrente, perucas dão status, políticos são o auge da estereotipação e, do nada, surgem personagens falando “portunhol” -- Mateus Nachtergaele (Big Jato) entre eles.

A ideia de Martel, então, é boa ao adaptar o livro de Benedetto. Mostrar caos com o caos é algo que poderia produzir algum sentido em tela. E ela ainda tinha aliada uma boa fotografia do português Rui Poças (do belíssimo Tabu) e uma atuação inspirada de Giménez Cacho (A Cordilheira), que consegue transmitir toda a confusão que seu personagem (e a audiência) está sentindo. Só que o caminho pra chegar à mensagem final, mesmo com bons atributos, é torturante.

Há, também, uma certa teatralidade em algumas cenas que tiram o espectador ainda mais da narrativa e incomodam como um todo. A busca por significados em cada um dos frames acaba tornando essa teatralidade ainda mais chata -- como uma cena em que um menino parece que declama algo e outra onde três irmãs falam em uníssono e ficando andando em círculo.

A confusão de cenas, que não se encaixam, dão desespero durante os 120 minutos totais de projeção. A vontade de colocar uma linearidade em toda aquela bagunça é pungente e a chatice do blá-blá-blá colonial atinge níveis insuportáveis que poderiam ter sido reduzidos de maneira elegante. A forma se sobrepõe ao conteúdo, ao contrário das outras realizações -- sempre boas -- de Martel. É, enfim, um filme com boa mensagem, mas difícil chegar ao fim acordado.

Zama, então, se revela como uma grande decepção. Martel, sempre certeira, entrega uma obra confusa que quer falar mais do que apresenta. Falta um roteiro mais coeso e uma boa história, que fica escondida debaixo da fotografia, da metáfora que permeia toda a obra e de boas atuações. No final, infelizmente, o público acaba sofrendo do mesmo mal de Diego de Zama, o protagonista: sente a dor infindável e torturante por esperar algo acontecer. E isso é muito chato.

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