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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Wasp Network' é filme chato, cansativo e sem foco


Aconteceu o impossível. Um filme baseado num livro de Fernando Morais, dirigido por Olivier Assayas, protagonizado por Penélope Cruz e produzido por Rodrigo Teixeira é ruim. Aliás, nem isso. É péssimo. Wasp Network, longa-metragem que abriu os trabalhos da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é enfadonho, chato e esquecível. Uma triste notícia para quem esperava algo empolgante e bem-feito.

Wasp Network é uma adaptação do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, um primor jornalístico de Fernando Morais (biógrafo de Chatô, Paulo Coelho, dentre outros). Na trama, acompanha-se a história de um grupo de cubanos que decide fugir da ilha comandada por Fidel Castro, lá nos anos 1990, para trabalhar nos Estados Unidos numa espécie de contrarrevolução. Pessoas que se arriscam pra tirar os comunistas do poder.

Assayas (do similar Carlos e do premiado Acima das Nuvens) assume a batuta da direção. E ao invés de se ater na trama dos cubanos desertores (interpretados aqui por Wagner Moura, Edgar Ramírez e Gael García Bernal), ele decide expandir a história e falar sobre esposas (Penélope Cruz), namoradas (Ana de Armas), filhos e família. O que já era um conteúdo extenso por natureza se torna colossal. Impossível de caber na tela.

Assim, por isso, Wasp Network se torna uma bagunça. A edição, feita pelo fraco Simon Jacquet (Paris, Te Amo), é um amontado de cenas desnecessárias e transições mal-feitas. Perdi as contas de quantas vezes foram vistas cenas de carros andando, pessoas se movendo. Cadê a agilidade? Faltou, talvez, um melhor planejamento de Assayas para contar uma história tão complexa e cheia de camadas. Faltou um melhor material.

A trama, roteirizada pelo próprio Assayas, não anda. Quase não sai do lugar. As histórias se atropelam, os personagens não têm tempo para criar vínculos com o público. Wagner Moura (Praia do Futuro), apesar de estar excelente, some da história num piscar de olhos -- junto com ele, Ana de Armas (Blade Runner 2047), a única cubana dentre os principais nomes da produção. Assayas quis levar conteúdo e agilidade. Colheu chatice.

É difícil entender, por exemplo, os saltos temporais entre uma cena e outra. Em uma sequência, uma personagem revela estar grávida. Na outra, a criança já nasceu. Por fim, na cena seguinte, a criança já está até andando por aí. Falta algo para o público acompanhar, sentir, se emocionar. Tudo em Wasp Network parece um grande relato sobre este momento da história mundial. A empatia que o filme deveria trazer, inexiste.

Do elenco, só Moura, Armas e Penélope Cruz (Dor e Glória) estão realmente bem. Ramírez (American Crime Story) está mais canastrão do que nunca, sem conseguir entrar de fato no papel -- pelo que ele indicou na coletiva, não parecia estar confortável no significado político de seu personagem. García Bernal (Estás me Matando Susana), sempre bem, some num personagem sem graça. Pra que tanto elenco e pouca história?

A sensação, assim, é que todos os envolvidos deram um passo maior do que a perna. Assayas quis trazer sua marca de personagens femininas fortes, mas embolou ainda mais a história -- que já é complexa por natureza. E talvez tivesse sido melhor apostar em um diretor que saiba contar histórias de espionagem de fato -- o que não é o caso de Assayas, claramente. Talvez fosse melhor menos autenticidade e mais qualidade.

(*) Filme assistido durante cobertura especial pra 43ª Mostra de Cinema de São Paulo.

 

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