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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Você', da Netflix, é série forte e inebriante, apesar de exageros


Quase tudo em Você, nova série original da Netflix, parece reciclado de outras produções. O protagonista Penn Badgley, que interpreta o stalker Joe Goldberg, é o reaproveitamento do personagem Dan Humphrey, de Gossip Girl -- assim como Elizabeth Lail, que interpreta a também protagonista Guinevere Beck, e parece mais uma das garotas da série. Já Shay Mitchell interpreta uma reedição de Emily Fields, de Pretty Little Liars. Mas, curiosamente, é uma mistura e reciclagem que deu certo. Apesar da falta de originalidade e exageros, a série surpreende pela boa trama.

Você acompanha a jornada do livreiro Joe Goldberg (Badgley), um stalker obsessivo que acaba se apaixonando por Beck (Lail) -- sem nem saber seu nome, de onde é ou qualquer outra informação. A partir daí, ele começa a persegui-la em silêncio e a interferir em alguns fatores de sua vida para que, de alguma maneira, ela o note e dê alguma chance para o rapaz. Para isso, ele precisará passar por cima pelo pseudonamorado Benji (Lou Taylor Pucci) e pela amiga Peach (Shay Mitchell).

A produção usa um recurso arriscado, no qual o protagonista sociopata narra todos os seus feitos e pensamentos. Cada ação é acompanhada de algum comentário ou descrição, que por vezes se torna repetitivo. Mas, na maioria das vezes, é engraçado, espirituoso e ajuda a construir o personagem -- que, aos poucos, vai se tornando uma espécie de Dexter. É curioso como Joe Goldberg começa sendo apenas mais um tipo esquisito e, rapidamente, ganha ares complexos e diversos. É um personagem deveras bem escrito, com muitas camadas e que, apesar das atitudes, conquista a audiência.

Muito disso se deve ao apreço na composição de personagem de Badgley -- que, além de Gossip Girl, não conseguiu emplacar nenhum outro trabalho consistente. Seu personagem diz muito pelo olhar e por algumas atitudes que surgem a partir de sua interpretação. É curioso o 'efeito Dexter': conforme o espectador conhece mais a sua personalidade, as atitudes vão tendo menos peso e ele se torna bem mais querido do que Beck. Pontos também para a interpretação do pequeno Luca Padovan como Paco, vizinho de Goldberg e que sofre por conta do relacionamento abusivo de sua mãe com seu padrasto. É interessante ver a forma como Goldberg lida com essa situação.

O grande acerto de Você, porém, não está no elenco -- visto que Elizabeth Lail só cresce no final e Shay Mitchell está bem menos interessante do que no recente Cadáver, por exemplo. O ponto central da série está no roteiro inteligente, desenvolvido por seis diferentes profissionais e baseado no livro homônimo de Caroline Kepnes. Apesar de exageros e facilitações na história, que chegam a tirar o espectador da trama, tudo ali funciona bem. O desenvolvimento de Goldberg, o relacionamento de vai-e-voltas com Beck, a relação com as pessoas no seu caminho. Há curiosidade sobre o desfecho.

Dessa maneira, a série -- que foi produzida pela Lifetime, mas teve seus direitos comprados pela Netflix -- se mostra como uma história inebriante e que, apesar de seus exageros, da aparente falta de originalidade e do roteiro cíclico, é forte, impactante e interessante. Sem dúvidas, uma espécie de guilty pleasure (prazer culpado) que vai conquistar grande audiência e, assim, se consolidar como uma dessas boas séries juvenis/adultas com crimes pouco impactantes e com um forte apelo popular. É divertida, é inteligente, é fácil de assistir. Anote aí: Você é a nova sensação da Netflix. É só manter a essência.

 

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